
Divulgação/A24
Estreias de cinema destacam a comédia romântica “Amores Materialistas”
"A Morte de um Unicórnio", "O Ritual", "Filhos" e "Atena" também entram em cartaz nesta semana, renovando a programação
A comédia romântica “Amores Materialistas” é o principal lançamentos desta quinta (31/7) nos cinemas brasileiros, trazendo Dakota Johnson dividida entre dois intérpretes famosos de heróis da Marvel. A programação também inclui títulos como “A Morte de um Unicórnio”, “O Ritual”, “Filhos” e “Família à Prova de Balas”, que vão do horror ao humor, além de cinco produções brasileiras, com destaque para o suspense “Atena”, em que Mel Lisboa vive uma justiceira. Confira a lista completa.
🎞️ AMORES MATERIALISTAS
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Após encantar o mundo com o drama romântico “Vidas Passadas”, a diretora sino-canadense Celine Song volta seu olhar para os dilemas do amor na era moderna. A comédia romântica se passa em Nova York, onde conexões humanas disputam espaço com ambições financeiras. Dakota Johnson (“Cinquenta Tons de Cinza”) protagoniza como Lucy, jovem casamenteira profissional que ajuda pessoas ricas a encontrarem seus pares perfeitos, enquanto busca firmar-se como artista plástica. Ironia do destino, Lucy experimenta mais romance arranjando encontros do que em sua própria vida amorosa. Mas isso logo muda.
Song usa tom leve e diálogos espertos para colocar essa “Emma” contemporânea no vértice de um triângulo amoroso com dois pretendentes: Nick, interpretado por Chris Evans (“Capitão América: O Primeiro Vingador”), ex-namorado dos tempos de faculdade, e Theo, vivido por Pedro Pascal (“Quarteto Fantástico: Primeiros Passos”), cliente milionário e magnata da tecnologia. Quando Lucy se vê dividida entre esses dois pretendentes, “Amores Materialistas” vai além do clichê de “qual homem escolher” para dissecar expectativas e valores dos relacionamentos contemporâneos, onde dinheiro pode ser considerado um componente romântico. Com estética elegante e trilha sonora que vai do jazz ao pop, o filme capta o espírito dos relacionamentos em 2025, convidando o público a torcer, rir e refletir em um mundo obcecado por status e aparências.
🎞️ A MORTE DE UM UNICÓRNIO
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Insólita mistura de fantasia sombria e humor ácido, o primeiro longa-metragem dirigido por Alex Scharfman traz Paul Rudd (“Homem-Formiga”) e Jenna Ortega (“Wandinha”) como pai e filha cujo passeio vira um pesadelo surreal ao atropelarem um unicórnio em uma estrada isolada. A premissa inusitada rendeu notoriedade desde a estreia mundial no festival SXSW 2025, consolidando a reputação da A24 em apostar em tramas ousadas e cineastas estreantes. Nos bastidores, chamou atenção o uso de efeitos práticos para criar a criatura mitológica e a atmosfera visual que transita entre o encanto de um conto de fadas e o terror gore satírico.
Após o incidente fatal com o animal raro, Elliot (Rudd) e sua filha Ridley (Ortega) ocultam o corpo, mas logo percebem propriedades milagrosas no unicórnio: o sangue cura feridas e doenças, atraindo a cobiça do patrão de Elliot, um magnata sem escrúpulos interpretado por Will Poulter (“Guardiões da Galáxia Vol. 3”). Enquanto cientistas exploram a carcaça mística em busca de um lucro farmacêutico, surgem na floresta dois unicórnios adultos – os pais da criatura abatida – sedentos de vingança. O idílio rural se transforma em carnificina quando esses seres lendários, de porte colossal, passam a caçar os humanos envolvidos.
Dirigido com irreverência por Scharfman, “A Morte de um Unicórnio” subverte convenções ao mesclar terror e fábula. O elenco coadjuvante reforça o tom satírico, com Téa Leoni (“Impacto Profundo”) e Richard E. Grant (“Logan”) representando figuras da elite dispostas a tudo pela promessa de um “elixir” da juventude. Visualmente, o filme contrasta a beleza etérea das criaturas com cenas sanguinolentas, brincando com o choque entre inocência e violência. Muitos viram um filme cult, mas a crítica se dividiu entre elogios à criatividade e reclamações sobre “tom exagerado”.
🎞️ O RITUAL
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Inspirado em acontecimentos verídicos que assombraram os Estados Unidos nos anos 1920, “O Ritual” insere Al Pacino (“O Irlandês”) de forma inédita no gênero de terror religioso. Aos 85 anos, o veterano ator assume o papel de um exorcista, vivendo o padre Theophilus Riesinger, figura real que liderou um dos casos de possessão demoníaca mais famosos do século 20. Com direção de David Midell (“The Killing of Kenneth Chamberlain”), o longa recria com fidelidade de época o Exorcismo de Emma Schmidt – jovem americana supostamente possuída em 1928, cujo caso foi relatado no panfleto “Begone, Satan!” e serviu de inspiração para o romance “O Exorcista” (1971), que virou o famoso filme de 1973.
Essa conexão histórica confere ao filme um peso cultural significativo, mas sob uma ótica diferente: aqui, a trama mergulha no contexto rural de Iowa no entreguerras, enfatizando as raízes religiosas do Meio-Oeste americano e as tensões entre fé e ceticismo. A narrativa acompanha dois padres católicos de perfis opostos. Riesinger (Pacino) é experiente e devoto, um clérigo conhecido por realizar rituais de exorcismo oficiais, enquanto o jovem padre Joseph Steiger, vivido por Dan Stevens (“Godzilla e Kong: O Novo Império”), enfrenta uma crise de fé e carrega traumas pessoais.
Quando Emma (Abigail Cowen, “Amor de Redenção”), uma moça de família devota, passa a apresentar comportamentos violentos e inexplicáveis, a Igreja autoriza um exorcismo e envia Riesinger à pequena cidade. Steiger, relutante, acompanha-o como assistente – cético quanto à possessão e marcado pelo suicídio recente de um irmão, ele personifica o olhar moderno diante do sobrenatural. Confinados num convento, os sacerdotes iniciam um ritual extenuante de várias semanas, durante o qual Emma manifesta vozes distintas e fenômenos aterradores que desafiam explicações racionais. A situação revisita todos os clichês do gênero estabelecidos por “O Exorcista”, sem trazer nada de novo. Por sua ausência de criatividade, recebeu avaliações predominantemente negativas nos EUA, apesar do desempenho magnético de Pacino.
🎞️ FAMÍLIA À PROVA DE BALAS
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Típico exemplar do cinema B hollywoodiano, “Família à Prova de Balas” é entretenimento descompromissado, misturando uma história batida, humor pastelão e cenas explosivas de baixo orçamento. O humorista Kevin James (“Segurança de Shopping”) interpreta Raymond “Ray” Hayes, ex-policial e pai de família dedicado que secretamente leva uma segunda vida como capanga da máfia. O longa dirigido por Edward Drake (“Conspiração Explosiva”) apresenta essa premissa em tom leve: de dia, Ray é o marido carinhoso de Alice (Christina Ricci, de “Yellowjackets”) e pai presente; à noite, serve a um chefão do crime, equilibrando relatórios escolares e “trabalhos” violentos para a organização criminosa.
Esse jogo duplo sustentou a estabilidade de Ray por anos, mas agora ele deseja abandonar a vida de crimes para abrir uma lanchonete com a esposa – sonho ameaçado quando a máfia lhe impõe um último serviço antes da “aposentadoria”. Quando essa última missão dá terrivelmente errado, ele tem apenas uma noite para tirar sua família da cidade e escapar da fúria dos inimigos. A partir daí, são cenas de perseguições e tiroteios, atravessadas pelo timing cômico característico de Kevin James. Sem nenhuma originalidade, a narrativa lembra pelo menos uma dezena de filmes lançados entre “True Lies” (1994) e “Plano em Família” (2023).
🎞️ FILHOS
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O intenso drama psicológico marca o retorno do cineasta dinamarquês Gustav Möller, após sua estreia elogiadíssima com o thriller minimalista “Culpa” (2018). Desta vez, Möller conta uma história claustrofóbica ambientada no sistema prisional nórdico, comprovando sua habilidade em extrair tensão de situações limitadas. Selecionado para a competição oficial do Festival de Berlim 2024, onde concorreu ao Urso de Ouro, o filme confirmou o diretor como um dos novos expoentes do suspense europeu.
Sidse Babett Knudsen (“Borgen”) protagoniza a obra no papel de Eva Hansen, uma agente penitenciária idealista cuja vida vira do avesso quando descobre que o assassino de seu filho será transferido para a prisão onde trabalha. A premissa estabelece desde o início um dilema moral e emocional extremo, com a habitual economia narrativa e foco em atuações profundamente contidas que consagraram “Culpa”. Ao optar por trabalhar na ala mais perigosa – onde está o criminoso vivido pelo estreante Sebastian Bull –, Eva decide secretamente confrontar o homem responsável por sua perda. Dar Salim (“Game of Thrones”) interpreta Rami, colega de trabalho de Eva e uma figura pragmática que percebe a transformação da amiga conforme ela se envolve na situação de risco.
A cada encontro no corredor ou na cela, a protagonista testa os limites entre sua humanidade e a escuridão do ódio, numa espiral de tensão crescente em que qualquer passo em falso pode desencadear violência. Com 80% de aprovação no Rotten Tomatoes, “Filhos” mantém a tradição do cinema escandinavo de dissecar dilemas éticos em tramas envolventes.
🎞️ ATENA
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Estrelado por Mel Lisboa (“Presença de Anita”) e Thiago Fragoso (“O Profeta”), o thriller policial brasileiro aborda, de forma direta, o tema da violência sexual e da justiça pelas próprias mãos. O filme apresenta a personagem-título como sobrevivente de abuso: na infância, foi violentada pelo próprio pai, que fugiu impune e nunca foi encontrado. Marcada por esse trauma e indignada com a recorrência de casos semelhantes, Atena cresce determinada a punir agressores que escapam da lei. Na vida adulta, transforma-se em vigilante secreta, justiceira urbana que atrai estupradores e homens violentos para armadilhas, nas quais executa vinganças cruéis.
O diretor Caco Souza (“400 Contra 1”) imprime ritmo de suspense crescente e cenas de ação sombrias. O enredo ganha nova dimensão com a entrada do jornalista Carlos (Fragoso), repórter investigativo que acompanha a onda de crimes e suspeita da existência de uma “justiceira”. O filme não poupa o espectador de cenas impactantes, mostrando consequências dos crimes e atos da protagonista com fotografia fria e câmera tremida, intensificando a brutalidade. Entretanto, cai em convenções tradicionais do gênero e resoluções apressadas.
🎞️ O DESERTO DE AKIN
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O drama brasileiro intimista aborda as migrações em meio a turbulências políticas recentes. Dirigido por Bernard Lessa (“A Mulher e o Rio”), o filme acompanha Akin, médico cubano interpretado pelo estreante Reynier Morales, que veio ao Brasil em 2018 como parte do programa federal Mais Médicos. Dedicado e carismático, Akin trabalha em uma comunidade indígena no interior do país, onde conquista a confiança dos moradores e constrói laços afetivos profundos – especialmente com Érica (Ana Flávia Cavalcanti, “Os Outros”), enfermeira local, e Sérgio (Guga Patriota, “Salomé”), jovem da vila com quem compartilha momentos de intimidade e amizade.
A rotina do protagonista é apresentada com sensibilidade, evidenciando o choque cultural inicial e a gradativa integração aos costumes, que faz nascer um forte sentimento de pertencimento. O paraíso, porém, sofre abalo com a eleição de Jair Bolsonaro, que encerra abruptamente o acordo de cooperação que trouxera médicos cubanos ao Brasil. De uma hora para outra, Akin e seus colegas se veem diante de uma escolha impossível: retornar a Cuba imediatamente – deixando para trás pacientes e relacionamentos – ou permanecer no Brasil, onde, sem registro válido, não poderá mais exercer legalmente a medicina.
O país também se torna mais hostil, refletindo a crescente atmosfera de intolerância e retrocesso ideológico. O elenco traz ainda Welket Bungué (“Berlin Alexanderplatz”) como médico africano colega de Akin, ampliando o debate sobre deslocamento e solidariedade.
🎞️ NADA
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A estreia no cinema do artista visual brasiliense Adriano Guimarães explora memória, ausência e os limites entre realidade e imaginação, tendo como cenário paisagens serenas e arquitetura de fazendas antigas da zona rural de Pirenópolis (Goiás). A protagonista é Ana, vivida por Bel Kowarick (“O Amor nos Tempos do Cólera”), artista plástica de meia-idade que retorna à fazenda onde cresceu para lidar com uma crise familiar. Sua irmã mais velha, Tereza (Denise Stutz), sofre de uma misteriosa doença neuropsicológica, alternando estados de consciência. Ao chegar à fazenda, Ana encontra Tereza em estado catatônico, cuidada por antigos empregados. A doença inexplicável da irmã, descrita como mal psicossomático, serve de catalisador para Ana mergulhar nas memórias de infância.
Guimarães traduz isso na tela de forma sensorial: objetos da casa, fotografias e cantigas desencadeiam flashbacks fragmentados, alguns reais, outros possivelmente imaginados ou distorcidos pela memória. A narrativa é deliberadamente elusiva, enquanto a fotografia cria sensação de confinamento mesmo em espaços abertos, sugerindo que as personagens estão presas dentro de suas próprias cabeças.
Vencedor de prêmios de Melhor Direção, Direção de Arte e Som no Festival de Brasília 2022, “Nada” é um trabalho de confluência entre artes plásticas e cinema, que valoriza a experiência sensorial acima de uma trama linear.
🎞️ OUVIDOR
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O diretor estreante Matias Borgström documenta a vibrante experiência da ocupação artística Ouvidor 63, um prédio de 13 andares no centro de São Paulo que se tornou a maior ocupação cultural da América Latina. Ali, cerca de 120 artistas de diversos países latino-americanos vivem em comunidade, transformando o edifício abandonado em ateliês, galerias improvisadas e um fervilhante espaço coletivo de criação.
Filmado ao longo de meses com acesso privilegiado ao interior da comunidade, o documentário apresenta um mosaico de personagens reais, como jovens fotógrafos de países vizinhos, bailarinos refugiados e veteranos da cena cultural paulistana, unidos naquele espaço singular. As imagens privilegiam o registro direto, com assembleias, performances, momentos contemplativos, além de filmagens de instalações montadas em apartamentos vazios, apresentações de dança no terraço e murais gigantes nas paredes.
Premiado em festivais de cinema socioambiental (como a Mostra Ecofalante) e exibido internacionalmente, a obra adota uma abordagem imersiva do dia a dia da microcomunidade, ao mesmo tempo em que também denuncia as ameaças constantes de despejo pelo poder público paulista, que tenta desmantelar a ocupação, mostrando como a luta por moradia se entrelaça à busca por liberdade artística.
🎞️ ALDO BALDIN – UMA VIDA PELA MÚSICA
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O documentário celebra a trajetória notável do tenor catarinense Aldo Baldin, revelando como um talento nascido em Urussanga (interior de Santa Catarina) conquistou os palcos do mundo erudito. A produção nasceu de uma descoberta curiosa: em 2009, o diretor Yves Goulart (“Francisco de Assis: Uma Lição de Vida”) deparou-se com um LP de Villa-Lobos com a imagem da igreja de sua cidade natal na capa – obra gravada por Baldin –, o que o motivou a investigar a história desse conterrâneo ilustre.
No cerne do filme está a jornada de Baldin, da origem humilde ao estrelato internacional, da descoberta do canto lírico à ascensão a ícone da música clássica europeia nas décadas de 1970-80. Trechos de óperas e concertos destacam a potência vocal do tenor, enquanto entrevistas – incluindo as de sua viúva, Irene Flesch Baldin – revelam o homem por trás da voz. Com acesso a arquivos raros e depoimentos emocionados de amigos, familiares e colegas músicos, Goulart constrói um mosaico rico sobre o cantor, falecido precocemente em 1994, aos 49 anos.