
Divulgação/CBS
Chuck Mangione, que marcou o jazz com o sucesso “Feels So Good”, morre aos 84 anos
Trompetista vencedor do Grammy também ficou conhecido como personagem da série animada "O Rei do Pedaço"
Jazz e cultura pop se despedem de Chuck Mangione
Chuck Mangione, referência mundial do jazz e responsável por um dos maiores sucessos instrumentais das paradas pop, morreu nesta terça-feira (22/7), aos 84 anos, em sua casa em Rochester, Nova York. A informação foi divulgada pela imprensa local. Segundo a funerária, Mangione morreu enquanto dormia.
Como “Feels So Good” transformou Chuck Mangione em fenômeno?
Lançada em 1977, “Feels So Good” tornou-se um dos maiores hits instrumentais da história ao alcançar o 4º lugar na Billboard Hot 100 e dominar as rádios adultas dos Estados Unidos. O álbum chegou à 2ª posição entre os mais vendidos no país, atrás apenas da trilha sonora de “Embalos de Sábado à Noite”. A música também rendeu indicação ao Grammy de Gravação do Ano. Mangione atribuiu parte do sucesso ao cenário musical da época: “Acho que ‘Feels So Good’ foi um sucesso por causa dos Bee Gees”, declarou ao Celebrity Cafe. “A disco music do ‘Saturday Night Fever’ havia tomado conta das rádios. Os programadores não sabiam o que colocar no lugar e, quando alguém editou ‘Feels So Good’ de nove minutos para três, ela passou a tocar como alternativa aos hits do momento.”
Sobre a própria composição, Mangione comentou: “Não me importo de ter escrito a música, só gostaria de tê-la feito em outro tom, porque o ré agudo é difícil de tocar. Fico feliz por ter criado algo que trouxe alegria a milhões de pessoas.”
Quais foram os outros destaques da carreira?
O sucesso do hit levou Mangione a ser convidado para compor e interpretar “Give it All You Got”, tema dos Jogos Olímpicos de Inverno de 1980 em Lake Placid. Antes disso, já havia emplacado “Chase the Clouds Away” nas Olimpíadas de Montreal, em 1976.
Mangione ganhou dois prêmios Grammy em meio a 14 indicações: primeiro, com o álbum “Bellavia” (1976) e depois com a trilha sonora do filme “Os Filhos de Sanchez” (1978), que também lhe rendeu indicação ao Globo de Ouro.
Ao longo de três décadas, lançou cerca de 30 álbuns, incluindo nove pela A&M Records, entre 1975 e 1982, e cinco pela Columbia, antes de criar seu próprio selo, Feels So Good, no fim dos anos 1980.
Como Mangione se tornou personagem em “King of the Hill”?
Além da música, Chuck Mangione conquistou um novo público ao participar como ele mesmo da animação “O Rei do Pedaço” (King of the Hill), onde interpretava o porta-voz do fictício Mega Lo Mart, sempre com o visual marcante do chapéu e a referência à capa de “Feels So Good”. Sobre o convite para integrar a série, explicou: “Oito meses antes de ‘O Rei do Pedaço’ estrear, recebi o roteiro descrevendo meu papel de porta-voz do Mega Lo Mart. Meu personagem fazia coisas como tocar ‘Taps’ e mudar para ‘Feels So Good’. Já que tocariam minha música para tanta gente, por que não? Entrei no estúdio em Nova York enquanto eles ligavam de Los Angeles, e depois eu via na TV algo que se parecia comigo. Muita gente assiste ao programa, então é uma ótima exposição.”
Quem foi Chuck Mangione antes da fama?
Nascido em 29 de novembro de 1940 em Rochester, Mangione começou no piano aos 8 anos, mas se apaixonou pelos instrumentos de sopro após ver o filme “Êxito Fugaz” (Young Man With a Horn, 1950), a história do trumpetista Rick Martin, vivido por Kirk Douglas. Formou a primeira banda de jazz com o irmão Gap Mangione ainda no colégio, e depois se graduou pela Eastman School of Music, onde retornou como professor e diretor da Eastman Jazz Ensemble.
A família era entusiasta do jazz e recebia em casa nomes como Dizzy Gillespie, Carmen McRae e Art Blakey. Mangione ingressou nos Jazz Messengers de Blakey por recomendação de Gillespie: “Art estava procurando um trompetista e ligou para o Dizzy Gillespie. Dizzy disse: ‘Lembra do garoto de Rochester?’ e me indicou. Foi um ótimo período, porque naquela formação também estavam Keith Jarrett e Chick Corea.”
Com o irmão Gap, fundou o grupo Jazz Brothers e lançou três álbuns entre 1960 e 1961. Entre outras curiosidades, Mangione adotou seu chapéu característico a partir de 1969, quando ganhou o acessório de amigos: “Não, não é grudado na minha cabeça, nem uso no banho e não tenho gangrena de tanto usar”, brincou.