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Parceria inédita da Netflix com TV francesa abre nova era no streaming mundial
Plataforma vai transmitir canais franceses e oferecer 30 mil horas de novo conteúdo para os assinantes em acordo revolucionário no setor
Parceria inédita transforma o streaming na França
A Netflix anunciou nesta semana, durante o festival Cannes Lions, uma parceria inédita com a maior rede de TV da França, a TF1, que vai permitir a transmissão ao vivo de todos os cinco canais do grupo francês em sua plataforma, além de liberar mais de 30 mil horas de conteúdo sob demanda. O acordo, apresentado como uma “nova forma de parceria”, foi celebrado de forma inesperada e já é considerado um marco para a integração entre streaming global e emissoras tradicionais.
A iniciativa equivale, em escala, ao que seria a Globo concedendo toda a sua programação à Netflix no Brasil, o que ajuda a dimensionar o impacto do anúncio para o mercado internacional.
O que muda para Netflix e TF1 com o acordo?
O acordo inédito também abre caminho para que a Netflix feche novos negócios semelhantes em outros países, consolidando um modelo de agregação de conteúdo que até então não era central em sua estratégia, tornando-se um hub mundial de canais. No novo modelo estabelecido, a Netflix abre suas portas para o público tradicional da TV aberta, enquanto grupos como a TF1 tentam manter relevância diante da queda da audiência linear.
Diferente do projeto até agora praticado entre agregadores como a Prime Video, que junta serviços similares num mesmo endereço, esta é a primeira vez que uma grande rede e um serviço de streaming global fecham uma parceria desse porte. O negócio permite à Netflix ganhar poder de retenção e atração com o conteúdo premium local da TF1, além de acessar um público mais velho e tradicional, ampliando sua base para além do segmento acostumado ao streaming sob demanda. O modelo de grade linear também pode aumentar o consumo regular, em vez do hábito de maratonas.
Modelo pode ser replicado em outros mercados?
A aposta do mercado é que este é apenas o primeiro passo da gigante do streaming, com acordos similares replicados em outros territórios. O CEO da Netflix, Greg Peters, afirmou ao Financial Times que o acordo servirá como laboratório para testar parcerias com outras emissoras. Ele destacou: “Vamos usar essa colaboração como base antes de explorar novas alianças”.
Para S.J. Mckenzie, diretora da NBCUniversal, o movimento “deve colocar todos os executivos americanos em alerta”, já que, enquanto nos EUA se discute a melhor forma de embalar canais pagos, a Europa investe em novas soluções de integração. A reação dos grupos americanos, porém, foi discreta. Grandes empresas como Comcast, Disney, Warner Bros. Discovery e Charter mantiveram as ações estáveis após o anúncio, indicando que o modelo tradicional ainda gera receitas relevantes no mercado dos Estados Unidos.
Vale apontar que já existia um relação consolidada entre TF1 e Netflix: o executivo-chefe da TF1, Rodolphe Belmer, integrou o conselho da Netflix e os dois grupos trabalham juntos em “Tout Pour La Lumière”, primeira novela diária produzida pela plataforma na França. Analistas também observam que o desempenho de programas da TF1 licenciados para a Netflix supera os resultados do canal na plataforma própria TF1+, mostrando como o streaming pode reviver conteúdos tradicionais.
Parceria indica novo futuro para TVs abertas?
O acordo levanta questões sobre exclusividade, receitas e o futuro do modelo linear. Greg Peters não revelou detalhes sobre a divisão dos lucros ou se a Netflix pagou valor fixo pelo conteúdo.
A TF1 atinge cerca de 58 milhões de telespectadores na TV e 35 milhões em sua plataforma digital, bem mais que a Netflix na França, onde a plataforma registrou uma audiência de 10 milhões de assinantes em 2022.