Show do Bob Vylan provoca crise na BBC
A transmissão do show da dupla Bob Vylan durante o festival Glastonbury resultou em crise diplomática para a BBC após o vocalista Bobby Vylan liderar um coro com o grito “morte ao IDF”, sigla que se refere ao exército de Israel, e se manifestar a favor da Palestina. No telão do palco, foi exibida a mensagem: “Palestina livre. A ONU chamou de genocídio. A BBC chama de ‘conflito’.” O festival foi exibido ao vivo pelo serviço de streaming iPlayer, da BBC.
Durante a apresentação, Bobby Vylan declarou: “Qualquer um com uma bússola moral pode dizer que o que acontece em Gaza é uma tragédia. Não somos punks pacifistas na Bob Vylan. Somos punks violentos. Às vezes, é preciso passar a mensagem com violência, porque essa é a única língua que algumas pessoas falam, infelizmente.”
O que dizem as autoridades?
A embaixada de Israel no Reino Unido criticou o episódio, classificando como “glorificação da violência”. “Cantos como ‘morte ao exército israelense’ e ‘do rio ao mar’ são slogans que defendem o desmanche do estado de Israel e pedem implicitamente a eliminação da autodeterminação judaica. Quando essas mensagens são recebidas com aplausos por milhares de espectadores, isso levanta questões sérias em relação à normalização da linguagem extremista e à glorificação da violência”, afirmou a embaixada em nota.
O governo britânico também cobrou explicações da BBC. “O secretário de Cultura falou com o diretor da BBC para pedir uma explicação urgente sobre as diligências que foram feitas antes da apresentação de Bob Vylan, e acolhe com satisfação a decisão de não a retransmitir na plataforma BBC iPlayer.” O primeiro-ministro, Keir Starmer, declarou: “Não há desculpa para esse terrível discurso de ódio. […] A BBC precisa explicar como essas cenas chegaram a ser transmitidas.”
A organização do Glastonbury repudiou os comentários de Bob Vylan: “Como festival, somos contra todas as formas de guerra e terrorismo. Sempre acreditamos e ativamente defendemos a esperança, paz, união e amor. Com quase 4 mil apresentações na edição de 2025, inevitavelmente teremos artistas em nossos palcos que não compartilham das nossas visões. A presença de um artista nunca deveria ser vista como um apoio tácito às suas opiniões e crenças.” Em novo comunicado, o festival reforçou: “Estamos horrorizados com as declarações feitas por Bob Vylan ontem. Seus coros ultrapassaram completamente os limites, e lembramos urgentemente a todos os envolvidos na produção do festival de que não há espaço no Glastonbury para antissemitismo, discurso de ódio ou incitação à violência.”
A polícia local afirmou que está avaliando imagens do show para determinar se houve crime: “Evidência em vídeo será avaliada por policiais para determinar se podem ter sido cometidos delitos que exigiriam uma investigação criminal.”
Quem mais se manifestou sobre a Palestina no festival?
O Bob Vylan não foi o único grupo musical a se posicionar a favor da Palestina no Glastonbury. O trio de rapKneecap, da Irlanda do Norte, também demonstrou apoio em sua apresentação, apesar de Mo Chara, integrante do grupo, enfrentar processo por suposto apoio ao Hezbollah após exibir uma bandeira do movimento libanês em um show anterior.
No palco, Mo Chara declarou: “Glastonbury, sou um homem livre!” e chamou o caso de “uma acusação forjada de terrorismo”. Ele também liderou um grito de “Palestina livre, livre”. Seu colega, Móglaí Bap, afirmou: “Não foi a primeira vez que houve uma injustiça contra um irlandês no sistema judiciário britânico.”
Durante o show, os rappers agradeceram ao festival pelo apoio, após o Primeiro Ministro britânico pressionar para que o grupo fosse barrado no evento. Mo Chara ainda brincou com o alcance das imagens do show ao comentar o mar de bandeiras palestinas na plateia: “O editor da BBC vai ter um trabalho enorme.”
Na verdade, a BBC decidiu não exibir o show do grupo, censurando a apresentação no iPlayer. Justamente por isso Bob Vylan resolveu ser mais contundente, já que seu show entrou ao vivo.
