Filme aborda erosão da democracia e avanço do fundamentalismo
A Netflix divulgou o trailer de “Apocalipse dos Trópicos”, novo documentário da cineasta Petra Costa, indicada ao Oscar por “Democracia em Vertigem”. A produção propõe uma reflexão sobre os limites entre democracia e teocracia, expondo a ameaça de líderes religiosos à democracia no Brasil. Segundo a sinopse oficial, o longa “é uma investigação cinematográfica sobre as falhas que emergem quando a religião alimenta a ambição política”.
Quem Petra Costa entrevista no documentário?
Ao longo de quase uma década de filmagens, Petra Costa acompanha eventos políticos e religiosos que redefiniram o papel da fé na arena pública brasileira. A diretora obteve acesso direto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao ex-presidente Jair Bolsonaro e ao pastor Silas Malafaia, figura de destaque no bolsonarismo evangélico.
“Apocalipse dos Trópicos” não se limita ao registro de acontecimentos políticos. O filme se propõe a explorar “a sedução do poder, da profecia e da crença”, conectando experiências pessoais, registros históricos e símbolos religiosos em uma narrativa que, segundo a diretora, reflete um momento de colapso institucional e crise espiritual.
No trailer, a diretora adota um tom de alerta ao narrar que “a fé deixou de ser um refúgio privado para se tornar um campo de batalha público”. Em entrevista ao Deadline, Costa afirmou: “O casamento entre fundamentalismo cristão e a extrema-direita é incompatível com a democracia. O princípio básico da democracia é que você precisa coexistir com seu inimigo”.
O filme entrelaça passado e presente para traçar paralelos históricos – mostra, por exemplo, como a teologia da prosperidade e a expansão neopentecostal ganharam força desde a redemocratização, influenciando parlamentares e formando uma bancada evangélica robusta. Imagens de arquivo dos cultos gigantes em estádios, trechos de sermões inflamados sobre o “fim dos tempos” e cenas da campanha eleitoral de Bolsonaro embasam a narrativa. Momentos-chave do governo também são esmiuçados sob essa ótica: a gestão da pandemia de Covid-19 (quando Bolsonaro minimizou vacinas e alinhou-se a pastores que chamavam o vírus de “castigo divino”), e os protestos de 7 de setembro com forte participação religiosa. O clímax do documentário é a cobertura das chocantes cenas de 8 de Janeiro de 2023 – quando extremistas invadiram as sedes dos Três Poderes, em Brasília – interpretadas como a tentativa culminante de realizar profecias apocalípticas e instaurar um regime teocrático autoritário.
Com produção executiva da Plan B Entertainment (empresa do ator Brad Pitt) e da Netflix, Petra teve a seu dispor recursos inéditos para um documentário nacional.
Documentário foi destaque em festivais internacionais
Exibido fora de competição no Festival de Veneza, arrancou aplausos e atraiu atenção internacional para o cenário político brasileiro. Desde então, percorreu um circuito de grandes festivais: foi exibido no Telluride Film Festival nos EUA, integrou a seção Spotlight do Festival de Nova York, passou pelo Festival de San Sebastián, na Espanha, e venceu o Prêmio Coral de Melhor Documentário no Festival de Havana, em Cuba, antes de ganhar seu lançamento cinematográfico nesta quinta-feira (4/7), limitado ao Rio de Janeiro e São Paulo.
Tem chances de Oscar?
O filme também será lançado nos cinemas dos Estados Unidos e Reino Unido no dia 11, o que o coloca na busca por uma vaga no Oscar 2026 – e com aprovação da imprensa americana. A Variety destacou que Petra “fez do Brasil uma parábola para os EUA” e elogiou a coragem da diretora ao expor forças que muitos preferem ignorar, enquanto The Hollywood Reporter revelou que a Netflix planeja campanha de premiação para o filme, tamanha a confiança em sua qualidade e relevância.
A estreia no streaming acontece em 14 de julho.
