Animação brasileira leva causa indígena ao Festival de Annecy

“Nimuendajú”, de Tania Anaya, conta a trajetória de etnólogo alemão entre povos indígenas do Brasil ao longo de quatro décadas

Divulgação/O2 Play

Filme retrata legado do etnólogo Curt Nimuendajú

A animaçãoNimuendajú”, dirigida por Tania Anaya, foi selecionada para a mostra competitiva Contrechamp do Festival de Annecy, na França, maior evento mundial do cinema de animação. O longa narra a trajetória do etnólogo alemão Curt Nimuendajú (1883–1945), que viveu durante quatro décadas entre povos indígenas brasileiros e documentou costumes, línguas e rituais de quase 50 etnias.

O filme, coprodução Brasil-Peru estrelada por Peter Ketnath, retrata o batismo indígena de Curt junto ao povo Guarani, onde recebeu o nome Nimuendajú, “aquele que fez sua morada”. A produção acompanha o esforço do pesquisador para preservar saberes e resistências em meio à perseguição, expulsões e ameaças históricas enfrentadas pelos povos originários.

Como a experiência indígena guiou a produção?

Grande parte do material do filme veio de registros em aldeias, com participação direta dos povos retratados. A equipe coletou sons, músicas e imagens em expedições pelo interior do Brasil, promovendo reencenações de costumes descritos por Nimuendajú, alguns não vistos há 40 anos.

A trilha e o visual do filme foram influenciados pela experiência de campo e contam com orientação da antropóloga Elena Welper, referência nos estudos sobre o etnólogo, e do pesquisador Julio Cezar Melatti.

Quais desafios e temas o filme propõe?

Com produção iniciada há mais de uma década, “Nimuendajú” enfrentou desafios técnicos e de linguagem: da recriação histórica à adaptação visual dos personagens, a equipe optou por não recorrer à rotoscopia, buscando um traço estilizado e autoral. O roteiro apresenta Curt como personagem complexo, longe de idealizações, mas atento ao legado de resistência dos povos indígenas.

Em entrevista à revista americana Variety, Tania Anaya ressaltou que a pauta do filme segue atual. “Os povos indígenas continuam sob ameaça, e as marcas de intolerância e violência seguem presentes”, afirma.

“Nimuendajú” estreia internacionalmente em Annecy com distribuição da O2 Play, inserindo o debate sobre a luta indígena no principal palco do cinema de animação no mundo.