Os cinemas recebem dois filmes com potencial de blockbuster nesta quinta (22/5). “Missão: Impossível – Acerto de Contas”, último filme da franquia de ação estrelada por Tom Cruise, e “Lilo & Stich”, remake live-action do clássico animado da Disney, têm as estreias mais amplas da semana. O circuito limitado recebe o premiado drama francês “A História de Soleymane”, sobre imigração, e um raro filme tunisiano, o elogiado “A Mulher que Nunca Existiu”. A programação se completa com cinco títulos brasileiros, quatro deles documentários.
MISSÃO: IMPOSSÍVEL – O ACERTO FINAL
▶ Assista ao trailer
O capítulo final da franquia estrelada por Tom Cruise apresenta Ethan Hunt diante de um desafio inédito, lidando com uma inteligência artificial rebelde conhecida como “Entidade”, que ameaça manipular sistemas globais e redefine o perigo enfrentado pelo protagonista. A direção de Christopher McQuarrie, responsável pelos quatro últimos filmes, aposta em sequências de ação rodadas em IMAX, sem o uso de dublês para Cruise, enquanto o elenco combina a equipe original com Ving Rhames e Simon Pegg aos novos nomes do último longa, destacando Hayley Atwell e Pom Klementieff.
A trama gira em torno da busca por uma chave criptográfica capaz de neutralizar a Entidade, enquanto Hunt precisa enfrentar o antagonista Gabriel, vivido por Esai Morales, em uma disputa que completa o círculo da saga. Elementos recorrentes da série reaparecem em uma narrativa que referencia episódios anteriores, criando uma sensação de encerramento para a narrativa iniciada há quase três décadas.
A produção se destaca pelos recursos técnicos e pelo ritmo intenso das cenas de perseguição, combinando locações internacionais a acrobacias realistas. Além disso, os desafios de Tom Cruise no papel continuam tirando o fôlego dos espectadores. A recepção crítica internacional registrou 89% de aprovação no Rotten Tomatoes em suas primeiras avaliações, com menções ao impacto das cenas finais e à energia do ator em um papel que marcou sua carreira. Apresentado fora de competição no Festival de Cannes 2025, o longa reforça o estatuto da franquia como uma das mais inventivas do cinema de ação contemporâneo, mesmo diante de questionamentos quanto ao excesso de exposição de seu roteiro para refletir toda a trajetória da saga.
LILO & STITCH
▶ Assista ao trailer
Nesta nova adaptação em live-action, a Disney revisita a animação clássica de 2002, mantendo a essência do enredo e apostando em uma abordagem visual que combina atores reais e alienígenas criados por efeitos digitais em CGI. A premissa é a mesma. Stitch, um experimento alienígena fugitivo, escapa do encarceramento espacial e cai na Terra, onde é adotado pela menina havaiana Lilo (a estreante Maia Kealoha), acreditando se tratar de um cachorro. O alienígena bagunceiro rapidamente se torna parte da rotina da menina e de sua irmã Nani (Sydney Agudong, de “On My Block”), criando laços profundos. Elementos de comédia e aventura são equilibrados com uma mensagem sobre a importância dos vínculos familiares, um dos traços distintivos da obra original.
O elenco de humanos e vozes de alienígenas inclui Tia Carrere (de “Quanto Mais Idiota, Melhor” e que dublou a irmã mais velha de Lilo na animação original), Jason Scott Lee (“Mulan”), Billy Magnussen (“Matador de Aluguel”), Courtney B. Vance (“Lovecraft Country”), Zach Galifianakis (“Se Beber, Não Case”), Billy Magnussen (“A Noite do Jogo”), Hannah Waddingham (“Ted Lasso”) e o diretor Chris Sanders, que reprisa seu papel dos desenhos como a voz de Stich. Apesar disso, ele não participa da direção do longa, que está a cargo de Dean Fleischer Camp. Conhecido por “Marcel, a Concha de Sapatos”, o diretor equilibra os personagens animados com locações autênticas do Havaí e recorre a clássicos de Elvis Presley para evocar a nostalgia do público.
Inicialmente previsto para streaming, o filme teve lançamento ampliado após exibições-teste positivas, e conseguiu uma boa recepção crítica pela forma como preserva o humor e a emoção originais da franquia.
A HISTÓRIA DE SOULEYMANE
▶ Assista ao trailer
Drama francês dirigido por Boris Lojkine, “A História de Souleymane” adota um registro realista para contar a jornada de um jovem imigrante africano em Paris. O protagonista, interpretado por Abou Sangaré, sobrevive como entregador por aplicativo enquanto enfrenta a ansiedade da entrevista que determinará seu futuro como solicitante de asilo. A narrativa mergulha no cotidiano de precariedade e nos obstáculos burocráticos impostos aos refugiados.
A produção foi filmada em locações reais, com elenco de atores não profissionais e abordagem documental, buscando refletir a experiência de tantos imigrantes na Europa. Exibido na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes 2024, o filme recebeu o Prêmio do Júri e premiou o estreante Sangará como Melhor Ator pela autenticidade e intensidade de sua interpretação. A crítica apontou o caráter naturalista da direção e a relevância do tema, destacando o longa como um dos dramas sociais mais sensíveis do cinema francês recente.
A MULHER QUE NUNCA EXISTIU
▶ Assista ao trailer
O drama explora a reinvenção de identidade de Aya, jovem tunisiana que, após sobreviver a um acidente, decide forjar sua própria morte e assumir nova vida longe do interior do país, opressivo para as mulheres. A narrativa acompanha o processo de reconstrução pessoal da protagonista em Túnis, capital do país, abordando o impacto das estruturas sociais sobre o destino das mulheres no norte da África.
O longa combina tom intimista com elementos de suspense, à medida que Aya presencia um episódio de violência policial e passa a enfrentar o risco de ter sua nova identidade revelada. A fotografia evidencia o contraste entre as paisagens áridas do sul da Tunísia e a urbanidade do refúgio buscado por Aya. Selecionado para a competição oficial do Festival de Veneza 2024, o filme foi elogiado pela crítica europeia, com destaque para a atuação de Fatma Sfar e para a condução do diretor tunisiano Mehdi M. Barsaoui (“A Son”).
OS DRAGÕES
▶ Assista ao trailer
Ambientada em uma pequena cidade do interior gaúcho, a narrativa de Gustavo Spolidoro (“Ainda Orangotangos”) utiliza elementos de fantasia para abordar o amadurecimento e as diferenças entre jovens. Cinco adolescentes da comunidade desenvolvem características físicas de dragões, como chifres e escamas, passando a enfrentar a intolerância dos moradores e o desafio de aceitar sua própria natureza. Inspirado no universo literário de Murilo Rubião, o roteiro constrói uma alegoria sobre identidade e resistência diante do conservadorismo social.
As locações nas cidades de Cotiporã e Garibaldi, no Rio Grande do Sul, reforçam a atmosfera da narrativa. A produção contou com elenco majoritariamente local e efeitos práticos de maquiagem, imprimindo autenticidade aos personagens e à ambientação. “Os Dragões” teve estreia na Mostra Novos Rumos do Festival do Rio 2021, recebendo atenção pela proposta simbólica e pela escolha de jovens atores revelados em grupos teatrais da região. O longa equilibra fantasia e crítica social, destacando-se como um dos raros exemplos do gênero no cinema nacional recente.
RITAS
▶ Assista ao trailer
O documentário dirigido por Oswaldo Santana, com colaboração de Karen Harley, faz um retrato sensível e multifacetado de Rita Lee. Utilizando imagens de arquivo, animações e colagens visuais, “Ritas” privilegia o olhar e a voz da própria artista, que narra episódios marcantes de sua trajetória, desde o começo em Os Mutantes até a consagração como ícone do rock brasileiro.
A narrativa se constrói a partir da última entrevista de Rita Lee e de registros inéditos feitos por ela mesma, dialogando com a pluralidade de suas personas. A trilha sonora destaca sucessos como “Ovelha Negra”, “Lança Perfume” e “Mania de Você”, ao lado de trilha original composta por Zeca Baleiro. Apresentado no festival É Tudo Verdade 2025, o filme foi celebrado por equilibrar recursos visuais inventivos e fidelidade ao espírito livre da homenageada, consolidando-se como um documento afetivo sobre o legado da artista.
GAME GIRLS
▶ Assista ao trailer
Misturando animação e live-action, o documentário “Game Girls” investiga a presença feminina no universo dos jogos digitais brasileiros. Dirigido por Saskia Sá, o filme adota a personagem animada Mega como narradora e percorre os bastidores dos eSports, acompanhando jogadoras, streamers e desenvolvedoras em sua rotina profissional e desafios cotidianos. A produção busca retratar as barreiras enfrentadas por mulheres no setor, da construção de representatividade ao enfrentamento do machismo estrutural.
A linguagem visual faz uso de sequências de gameplay, ambientes virtuais simulados e trechos animados que dialogam com a estética pop dos jogos. Produzido pelas empresas Druzina Content e Horizonte Líquido, “Game Girls” venceu edital voltado à juventude digital e foi exibido em eventos audiovisuais de inovação, sendo reconhecido pela abordagem inovadora e pela relevância social do tema.
DE LONGE TODA SERRA É AZUL
▶ Assista ao trailer
O documentário de Neto Borges acompanha o indigenista Fernando Schiavini em uma jornada de reencontro com as comunidades indígenas do Brasil profundo, décadas após sua atuação em regiões remotas da Amazônia e do Cerrado. O filme utiliza material de arquivo e imagens atuais para registrar o impacto das mudanças sociais, ambientais e políticas sobre os povos originários.
Narrado em primeira pessoa, o longa evidencia a relação entre memória, solidariedade e resistência, ressaltando a importância histórica das ações de Schiavini para a consolidação do movimento indigenista. A trilha sonora original de Zeca Baleiro e a narração de Caio Blat contribuem para o tom reflexivo do projeto. O filme foi exibido na Mostra Internacional de São Paulo e no Inffinito Film Festival, recebendo elogios por seu valor documental e abordagem comprometida com a memória coletiva.
A MULHER SEM CHÃO
▶ Assista ao trailer
O documentário brasileiro acompanha Auritha Tabajara, cineasta indígena, em sua trajetória de reinvenção pessoal e busca por pertencimento após deixar sua aldeia natal no Ceará rumo a São Paulo. Codirigido por Débora McDowell, reconhecida por “Transamazonia”, o filme constrói um mosaico de memórias que mescla entrevistas, encenações poéticas e cenas do cotidiano na capital paulista. Auritha narra as dificuldades e conquistas vividas na cidade, abordando o sentimento de invisibilidade que acompanha o deslocamento das mulheres indígenas em ambientes urbanos.
O filme investiga o conflito entre a preservação das raízes culturais e o enfrentamento das realidades impostas pela vida metropolitana. Premiado em editais internacionais, com destaque para o apoio do Göteborg Film Festival, “A Mulher Sem Chão” adota uma perspectiva autoral, permitindo que a própria protagonista conduza a narrativa. A montagem privilegia a espontaneidade e o registro direto, ao mesmo tempo em que se vale de recursos estéticos discretos para traduzir o impacto emocional da experiência. O caráter inovador do projeto posiciona a diretora entre as vozes fundamentais do cinema indígena brasileiro.