Ministério Público investiga Baby do Brasil por discurso sobre perdão a abusadores

Ministério Público investiga Baby do Brasil por discurso sobre perdão a abusadores

A cantora incentivou vítimas de violência sexual a perdoarem seus agressores durante evento religioso realizado na boate D-Edge na segunda-feira

Instagram/Baby do Brasil

Ministério Público aceitou denúncia

O Ministério Público de São Paulo (MPSP) abriu uma investigação contra Baby do Brasil e a casa noturna D-Edge após a realização de um culto evangélico no local, no qual a cantora afirmou que vítimas de abuso sexual deveriam perdoar seus agressores. O inquérito foi instaurado após representação protocolada pela deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que acusa a artista de incitação ao crime e condescendência criminosa.

A Promotoria de Justiça de Direitos Humanos da Capital recebeu a denúncia e examina se houve conduta criminosa durante o evento. A deputada argumenta que o discurso reforça uma cultura de silenciamento e impunidade. “Incentivar as vítimas a não denunciarem os abusos é parte da cultura do estupro que nos assola”, afirmou Bomfim.

Discurso de Baby gerou repercussão

Durante a pregação, Baby do Brasil pediu que vítimas de abuso perdoassem seus agressores. “Perdoa tudo que você tiver de ruim no seu coração, aqui, hoje, nesse lugar, perdoa! Se teve abuso sexual, perdoa! Se foi da família, perdoa!”, disse a cantora.

A deputada destacou que a maioria dos casos de abuso ocorre dentro de casa e é cometido por familiares. Segundo dados apresentados por ela, o Brasil registra nove estupros por hora, sendo que 61% das vítimas são menores de 14 anos.

Polêmica envolve discursos de cura gay e intolerância religiosa

O culto também incluiu um discurso de um pastor que se identificou como ex-gay e afirmou ter “mudado” após aceitar Jesus. A fala foi interpretada como uma defesa da chamada “cura gay”, conceito rejeitado por especialistas e por movimentos de direitos LGBTQIA+.

Outro momento da celebração teria envolvido ainda declarações consideradas discriminatórias contra religiões de matriz africana, ampliando a controvérsia sobre o evento.

Dono da D-Edge se manifesta

O empresário Renato Ratier, proprietário da D-Edge, disse que não concorda com os discursos proferidos no culto, embora tenha participado da celebração por ser evangélico. Ele classificou a fala de Baby do Brasil como “infeliz”, mas afirmou que a cantora não conseguiu se expressar corretamente. “Acredito que ela se referia ao perdão do coração”, disse.

Ratier também se posicionou contra o discurso de “cura gay”. “Essa coisa de ‘cura gay’ não tem nada a ver com o que fiz até hoje. Aconteceu dentro do clube e eu respondo por isso, mas essa repercussão tomou um rumo que não era planejado”, afirmou. Ele reforçou que a boate sempre foi um espaço acolhedor para a comunidade LGBTQIA+.

O caso segue sob análise do MPSP, e novas diligências devem ser conduzidas para determinar se houve crime nas declarações feitas no culto.