Estreias | Novo filme de Fernanda Montenegro e vencedor do Oscar chegam aos cinemas

Programação da semana traz diversos títulos premiados e elogiados pela crítica internacional

Divulgação/Sony

“Vitória”, nova aposta da Sony no cinema brasileiro, após o Oscar de “Ainda Estou Aqui” e com Fernanda Montenegro no papel principal, é a principal estreia de uma semana marcada por lançamentos premiados e elogiados pela crítica internacional. A lista abrange o vencedor do Oscar de Melhor Documentário, “Sem Chão”, a cinebiografia musical “Better Man – A História de Robbie Williams”, o thriller de ação de Steven Soderbergh “Código Preto”, o drama histórico “Pequenas Coisas Como Estas”, com Cillian Murphy, e a sci-fi indie “A Máquina do Tempo”, todos com excelentes pontuações no Rotten Tomatoes. Confiram todas as novidades desta quinta (13/3).

 

VITÓRIA

 

O novo drama brasileiro estrelado por Fernanda Montenegro (“Central do Brasil”) narra a história real de uma senhora de 80 anos que, diante de balas perdidas e a presença ostensiva de traficantes em sua rua, sem nenhuma ação da polícia, decidiu gravar da janela de seu apartamento o tráfico de drogas que acontecia impunemente. As imagens feitas em Copacabana, no Rio de Janeiro, foram parar na imprensa e impressionaram o país, fazendo a polícia agir para acabar com o crime.

O caso de Dona Vitória foi revelada em reportagem do jornal Extra em 2005 e também rendeu o livro “Dona Vitória da Paz”, de Fábio Gusmão, que serviu de base para a obra cinematográfica. Aflita com a violência no bairro, ela fez muitas denúncias, mas nada foi feito. Então, decidiu documentar o que acontecia ali com uma câmera. A ação da senhorinha levou cerca de 30 pessoas à prisão, incluindo traficantes e policiais corruptos envolvidos no esquema.

Pela denúncia, Dona Vitória entrou no Programa de Proteção à Testemunha e viveu escondida por 17 anos. Seu nome verdadeiro, Joana Zeferino da Paz, e sua identidade só foram revelados após a sua morte, aos 97 anos, em fevereiro de 2023, em Salvador, na Bahia. Foi então que se descobriu que a verdadeira Vitória era uma mulher negra.

Neste ponto, a produção já tinha começado com Fernandona no papel principal, primeiro com o diretor Breno Silveira (“2 Filhos de Francisco”), que morreu em maio de 2022, de ataque cardíaco fulminante durante as filmagens. Depois disso, o projeto foi retomado no começo de 2023 com o cineasta e genro de Fernanda Montenegro, o diretor Andrucha Waddington (“Sob Pressão”).

O roteiro é de Paula Fiuza (“Sobral: O Homem Que Não Tinha Preço”) e a produção é da Conspiração Filmes e do Globoplay.

 

SEM CHÃO

 

Vencedor do Oscar de Melhor Documentário e primeiro filme palestino a receber um prêmio da Academia, o longa foi realizado por um coletivo palestino-israelense de quatro ativistas, Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham e Rachel Szor, todos estreantes na direção, que o descrevem como um ato de resistência em busca de justiça. ​

Suas imagens retratam a destruição da comunidade de Masafer Yatta, na Cisjordânia ocupada. O jovem ativista palestino Basel Adra resiste desde a infância ao deslocamento forçado de seu povo na região e registra a destruição progressiva de sua terra natal, captando soldados israelenses que demolem casas e expulsam os habitantes para impor uma ordem judicial que designa a área como zona de tiro militar. Adra forma uma amizade inesperada com Yuval, um jornalista israelense que o ajuda em sua luta, embora sua amizade seja desafiada pela enorme diferença entre suas condições de vida: enquanto Basel lida com a presença constante de opressão e violência, Yuval desfruta de liberdade e segurança. ​

A filmagem ocorreu ao longo de quatro anos, entre 2019 e 2023, com conclusão em outubro de 2023. Durante a produção, a equipe enfrentou desafios significativos, entre eles a invasão da casa de Basel Adra por militares israelenses em duas ocasiões, resultando na apreensão de computadores e câmeras. Para compensar o trabalho confiscado, o projeto utilizou um vasto arquivo de vídeos feitos ao longo de 20 anos por familiares e vizinhos de Basel, além de filmagens realizadas pelos próprios ativistas durante o longo período de trabalho conjunto no local. ​

“Sem Chão” foi amplamente reconhecido e premiado internacionalmente. Além do Oscar histórico, ganhou o prêmio de Melhor Documentário do Festival de Berlim, entre muitas outras honrarias. Além disso, tem impressionantes 100% de aprovação da crítica no Rotten Tomatoes, com quase 100 resenhas elogiosas publicadas nos Estados Unidos e Reino Unido.

 

CÓDIGO PRETO

 

O diretor Steven Soderbergh (“Contágio”) assina um thriller de espionagem sobre os limites entre lealdade pessoal e dever patriótico. A trama acompanha os agentes de inteligência George Woodhouse e sua esposa Kathryn St. Jean, cuja vida matrimonial equilibrada é abalada quando Kathryn se torna a principal suspeita de vazar informações confidenciais. George enfrenta o dilema de manter sua lealdade ao casamento ou ao país. ​

O elenco destaca Michael Fassbender (“X-Men: Fênix Negra”) e Cate Blanchett (“Borderlands”) nos papéis principais e ainda conta com Pierce Brosnan, que retorna ao gênero de espionagem após mais de duas décadas desde sua última atuação como James Bond. ​Com um visual elegante e temperado com humor ácido, “Código Preto” segue a fórmula dos clássicos de espionagem ao permitir que suas estrelas brilhem na tela.

O roteiro é assinado por David Koepp, conhecido por trabalhos como “Jurassic Park” e “Missão: Impossível”, que volta a trabalhar com Soderbergh após outro thriller, “Kimi: Alguém Está Escutando”, lançado há apenas três anos. Com ótima recepção crítica, o filme alcançou 91% de aprovação no Rotten Tomatoes, com elogios às performances e à direção.

 

BETTER MAN – A HISTÓRIA DE ROBBIE WILLIAMS

 

A cinebiografia musical de Robbie Williams se diferencia radicalmente de outras produções do gênero por um detalhe bizarro: o cantor, que é uma das maiores estrelas do pop britânico, é representado na tela por um macaco criado por computação gráfica. Dirigido por Michael Gracey, responsável pelo sucesso de “O Rei do Show”, o filme explora a ascensão de Williams à fama, desde sua infância difícil até o estrelato, primeiro com o grupo Take That e depois em sua carreira solo, sempre retratando-o como um personagem de “O Planeta dos Macacos”.

A produção usa tecnologia de captura de movimentos para criar a versão símia de Williams, com o ator Jonno Davies dando vida aos movimentos. Apesar dessa macaquice, “Better Man” não se esquiva de mostrar os altos e baixos da vida do cantor, como seus problemas com drogas e comportamentos polêmicos. Williams justificou a opção ao explicar que o musical revela seu lado mais “animal”, referindo-se ao retrato de seus vícios e escândalos.

Exibido em festivais como Telluride e Toronto, “Better Man” recebeu críticas positivas, atingindo 88% de aprovação no Rotten Tomatoes. Entretanto, a abordagem ousada, com direito a cena de chimpanzé cheirando cocaína, não agradou ao grande público, resultando numa arrecadação pífia de bilheteria (US$ 1,9 milhão nos Estados Unidos).

 

PEQUENAS COISAS COMO ESTAS

 

O primeiro longa estrelado por Cillian Murphy após vencer o Oscar de Melhor Ator por “Oppenheimer” é um drama histórico irlandês sobre as Lavanderias de Madalena, instituições administradas pela Igreja Católica conhecidas por explorar e maltratar mulheres consideradas “pecadoras”. A crueldade da Igreja datava do século 18 e só foi acabar após a exposição nos anos 1980.

Inicialmente, os asilos de Madalena eram destinadas a abrigar mulheres consideradas “perdidas” ou “caídas”. Essas mulheres incluíam mães solteiras, vítimas de abuso sexual ou mesmo aquelas percebidas como promíscuas – que perderam a virgindade antes do casamento. A Igreja oferecia refúgio e reabilitação para essas mulheres, proporcionando-lhes um espaço para penitência e trabalho. No entanto, com o tempo, essas instituições adotaram práticas abusivas, onde as internas eram submetidas a trabalhos forçados, especialmente em lavanderias, sem remuneração e sob rígida supervisão de ordens religiosas. Muitas dessas mulheres permaneceram nas lavanderias por anos, algumas até pelo resto de suas vidas, sob condições desumanas e isolamento social.​ Estima-se que aproximadamente 30 mil mulheres foram confinadas nessas instituições ao longo de 150 anos. ​

Murphy vive o comerciante de carvão Bill Furlong, que leva uma vida tranquila com sua esposa e cinco filhas na pequena cidade de New Ross, Irlanda, até que, às vésperas do Natal de 1985, faz uma descoberta perturbadora durante uma entrega em um convento local. Ao tomar conhecimento das práticas abusivas, ele passa a enfrentar um dilema moral que desafia suas crenças e a influência dominante da Igreja na comunidade. ​

Dirigido por Tim Mielants (“Ninguém Precisa Saber”) e baseado no aclamado romance homônimo de Claire Keegan, também é estrelado por Emily Watson (“Duna: A Profecia”) e Eileen Walsh (“Não Diga Nada”), e atingiu 93% de aprovação da crítica no Rotten Tomatoes.

 

MÁQUINA DO TEMPO

 

A criativa sci-fi indie britânica se passa em 1938, quando as irmãs Thomasina e Martha Hanbury desenvolvem uma máquina capaz de interceptar transmissões de rádio e televisão do futuro. Inicialmente, elas utilizam essa tecnologia para explorar avanços culturais e musicais, descobrindo artistas como Bob Dylan e David Bowie antes de seu tempo. ​Mas com a eclosão da 2ª Guerra Mundial, decidem empregar a máquina para antecipar movimentos militares e auxiliar na defesa contra os ataques nazistas. Contudo, essa intervenção provoca consequências inesperadas, alterando o curso da história de maneiras imprevisíveis. ​

A estreia do diretor Andrew Legge usa trechos de filmes antigos para recriar a época com pouco orçamento e uma encenação contida para contornar a falta de efeitos visuais grandiosos. As cenas foram rodadas na Irlanda em plena pandemia, numa situação de isolamento social, o que contribuiu para uma encenação bastante centrada na interação das protagonistas, vividas por Emma Appleton (“Pistol”) e Stefanie Martini (“The Last Kingdom”)

Todas as limitações são superadas pelo roteiro intrigante, que combina elementos de ficção científica e história alternativa. A obra coleciona prêmios desde sua première no Festival de Locarno de 2022, incluindo a vitória no Festival de Sitges de Cinema Fantástico, e soma 98% de aprovação da crítica internacional no Rotten Tomatoes.

 

DEU PREGUIÇA!

 

A animação australiana acompanha uma família de preguiças antropomórficas que, após perder sua casa em uma tempestade, muda-se para a cidade grande. Instalados em um food truck antigo, eles tentam transformar um livro de receitas em um novo negócio. Dá certo, mas o sucesso do food truck deixa a filha Laura sobrecarregada e sem tempo para treinar no time de cricket de seus novos amigos. É quando uma onça empresária do ramo de fast food resolve se aproveitar da insatisfação para se apropriar das receitas.

Dirigido por Tania Vincent e Ricard Cussó (ambos de “Vombate Contra o Crime”), o desenho apresenta, na dublagem brasileira, Heloísa Périssé e sua filha Tontom Périssé como a mãe e a filha da história, respectivamente.

 

LOUCOS POR CINEMA

 

O novo drama de Arnaud Desplechin, um dos cineastas mais prestigiados do cinema francês contemporâneo, celebra a magia das salas escuras e a experiência única do espectador diante da tela. O longa, que estreou mundialmente no Festival de Cannes de 2024, acompanha um cinéfilo que segue os passos de Paul Dédalus, personagem recorrente nos trabalhos de Desplechin, em uma mistura de memórias, ficção e descobertas que se entrelaçam em um fluxo torrencial de imagens cinematográficas. De forma experimental, a obra revisita filmes e cineastas essenciais na formação do diretor, propondo uma reflexão sobre a relação do cinema com outras artes e sua permanência como espaço de encantamento e identidade.

O elenco traz Mathieu Amalric de volta ao papel de Paul Dédalus após “Três Lembranças da Minha Juventude” (2015), além de Françoise Lebrun (“O Escafandro e a Borboleta”), interpretando a avó do protagonista, e Micha Lescot (“Saint Laurent”), que assume um papel central na narrativa. Mesmo com apenas 88 minutos de duração, a falta de coesão entre os segmentos pode fazer com que o filme pareça mais longo do que realmente é. Mas cinéfilos que compartilham o entusiasmo pela filmografia de Desplechin devem gostar.

 

A MENINA DOS MEUS OLHOS

 

Remake sul-coreano do aclamado drama taiwanês “You Are the Apple of My Eye” (2011), o filme captura de forma brilhante as sutis emoções do primeiro amor e a complexa jornada de um romance que se estende por 15 anos. ​

A trama começa em uma escola particular sul-coreana nos anos 2000, onde um grupo de amigos compartilha a admiração por Seon-ah, uma aluna exemplar e graciosa. Jin-woo, conhecido por sua atitude despreocupada, é o único que inicialmente demonstra desinteresse por ela. No entanto, apesar de personalidades distintas, os dois desenvolvem uma amizade que evolui para um vínculo especial, navegando juntos pelas complexidades do primeiro amor e das emoções da juventude. A ambientação nos anos 2000 proporciona um clima de nostalgia, retratando uma adolescência antes da saturação midiática atual.

O romance tem direção de Cho Young-myoung, que estreia em longas-metragens após uma carreira em programas de TV, e é estrelado por Jung Jinyoung, conhecido pelos fãs de doramas por papéis de protagonista em séries da Netflix como “Primeira Vez Amor” e “Sweet Home”, além de Kim Da-Hyun, mais celebrada pelo nome artístico Dahyun, integrante do grupo feminino de K-Pop Twice.

 

O MELHOR AMIGO

 

O romance LGBTQIA+ nacional acompanha Lucas (Vinicius Teixeira), um jovem arquiteto que, após uma crise em seu relacionamento com Martin (Léo Bahia), decide viajar sozinho para a praia de Canoa Quebrada, no Ceará. Lá, ele reencontra Felipe (Gabriel Fuentes), um antigo colega de faculdade que agora trabalha como guia turístico na região. O reencontro desperta antigos desejos, levando Lucas a se envolver nas vibrantes noites musicais de Canoa Quebrada, enquanto tenta compreender seus sentimentos por Felipe. ​

A produção conta ainda com Cláudia Ohana (“Sol Nascente”), Mateus Carrieri (“Uma Escolinha Muito Louca”), Diego Montez (“O Rei da TV”) e uma participação especial de Gretchen (“Detetive Madeinusa”). ​

O longa é uma adaptação do curta-metragem homônimo de 2013, também dirigido pelo cineasta Allan Deberton (do premiado “Pacarrete”) e protagonizado por Jesuíta Barbosa. Nesta versão longa, o diretor busca trazer uma atmosfera mais dinâmica e musical, incorporando hits das décadas de 1980 e 1990 para enriquecer a narrativa. ​

 

AMIZADE

 

Ao longo de 30 anos, o cineasta e artista plástico Cao Guimarães registrou momentos íntimos e espontâneos de suas amizades com diversos artistas, criando um mosaico de imagens que refletem a passagem do tempo e o fortalecimento dos laços humanos. Esses registros, capturados em variados formatos — desde registros em super-8 e 35mm até gravações digitais e mensagens de antigas secretárias eletrônicas —, revelam a beleza das pequenas coisas do cotidiano, alternando entre momentos de alegria desinibida e melancolia profunda. ​

O filme celebra a cumplicidade e a conexão que surgem ao compartilhar esses momentos únicos, destacando a importância de valorizar as relações que atravessam o tempo e deixam marcas na vida dos envolvidos. Entre os amigos retratados estão artistas como Rivane Neuenschwander, Matheus Nachtergaele, Marcelo Gomes, Karen Harley, Lírio Ferreira e Natara Ney. ​

A trilha sonora é assinada pelo duo O Grivo, parceiros do diretor em seu trabalho mais premiado, “O Homem das Multidões” (parceria com Marcelo Gomes de 2013), que contribuem para a atmosfera contemplativa do documentário. ​