Estreias | “Branca de Neve” é o destaque da semana nos cinemas

Estreias | “Branca de Neve” é o destaque da semana nos cinemas

O remake live-action da Disney chega às telas junto com um drama mafioso com Robert De Niro e a premiada estreia em inglês de Marco Pigossi

Divulgação/Disney

“Branca de Neve” é o principal título da semana no circuito, com distribuição ampla e forte apelo comercial. A produção da Disney superou bastidores tumultuados para apresentar uma versão atualizada da famosa fábula encantada, agora com atores em carne e osso, exceto os lamentáveis “sete anões”. Outros lançamentos expressivos incluem o novo filme mafioso de Robert De Niro, “The Alto Knights: Máfia e Poder”, e a estreia premiada de Marco Pigossi como protagonista nos Estados Unidos, “Maré Alta”. A lista de novidades ainda inclui dois dramas franceses, uma superprodução sul-coreana e seis lançamentos brasileiros, entre filmes de arte e documentários.

 

BRANCA DE NEVE

 

A versão live-action do desenho clássico teve uma filmagem marcada por polêmicas de bastidores, desde a crítica de Peter Dinklage (o Tyrion de “Game of Thrones”), que fez a Disney optar por usar animação digital nos “sete anões”, até as desavenças entre a atriz pró-Palestina Rachel Zegler (“Amor, Sublime Amor”) e a israelense Gal Gadot (a “Mulher-Maravilha”), sem falar na própria escolha de Zegler, uma latina, para o papel da princesa “branca como a neve”. Com dificuldades para administrar as crises, o estúdio cortou divulgações conjuntas das estrelas e fez um tapete vermelho sem entrevistas. Sinais de desastre comercial foram disparados precocemente.

A grande expectativa negativa rendeu um recepção mista da crítica internacional. Enquanto Zegler, que já tinha mostrado seu talento vocal em “Amor, Sublime Amor”, passa com louvor nas cenas musicais, Gadot não aproveita a chance de fazer uma Rainha Má à altura da animação. O visual das duas, porém, parece saída do filme de 1937. Há um grande esforço, do figurino à direção de arte, de recriar as memórias do público que assistiu ao desenho na infância. Mas a história precisou ser atualizada, pois meninas não esperam mais ser salvas por Príncipes Encantados nem dependem de homens – ainda que de baixa estatura – para se defender. O roteiro assinado por duas cineastas progressistas, Greta Gerwig (“Barbie”) e Erin Cressida Wilson (“Secretária”), dá conta do trabalho sem perder a essência da obra original. Entretanto, os “sete anões” animados e a direção de Marc Webb (“O Espetacular Homem-Aranha”), que exagera na palheta de cores, é certamente divisiva.

A maioria conhece a de cor a história, que começa com era uma vez uma princesinha invejada pela madrasta por sua beleza, inclui sete mineiros com nanismo, um romance adolescente e uma maçã envenenada, culminando num final em que todos – exceto a vilã – vivem felizes para sempre.

 

THE ALTO KNIGHTS: MÁFIA E PODER

 

Robert De Niro (“O Irlandês”) vive papel duplo como dois rivais mafiosos no novo longa do veterano Barry Levinson (“Bugsi”). O ator dá vida a Frank Costello, chefe da família criminosa Luciano, e também a Vito Genovese, líder da família Genovese. A história é baseada em fatos reais e retrata a rivalidade entre os dois ex-aliados que, após expandirem seus impérios, entraram em uma guerra pelo controle da cidade de Nova York nos anos 1950.

Para diferenciar os dois personagens, a equipe de maquiagem utilizou próteses faciais específicas para cada um, alterando detalhes como o formato do nariz, queixo e linhas de expressão. Além disso, foram aplicadas perucas e penteados distintos, bem como mudanças na coloração e textura da pele, para acentuar as diferenças físicas entre Genovese e Costello. Mas De Niro é tão famoso que o esforço acaba fazendo pouca diferença, tornando sua presença em fatos distintos um fator de confusão para o público.

Além de De Niro, o elenco inclui Debra Messing (“Will & Grace”) como Bobbie, esposa de Frank Costello, e Kathrine Narducci (“O Irlandês”) como Anna, esposa de Vito Genovese, além de Cosmo Jarvis (“Xógum”), Michael Rispoli (“Billions”), Michael Adler (“Peppermint”), Ed Amatrudo (“Till”), Joe Bacino (“Kick-Ass”), Anthony J. Gallo (“O Irlandês”), Wallace Langham (“Ford v Ferrari”), Louis Mustillo (“Mike & Molly”), Matt Servitto (“Billions”) e Robert Uricola (“Touro Indomável”).

O roteiro é assinado por Nicholas Pileggi, autor do livro “Wiseguy”, que inspirou “Os Bons Companheiros” (1990), e a produção está a cargo do veterano Irwin Winkler, conhecido por “Rocky” (1976) e também “Os Bons Companheiros”.

 

MARÉ ALTA

 

O premiado drama independente marca a estreia de Marco Pigossi (“Cidade Invisível”) no cinema em língua inglesa e seu primeiro desempenho num papel LGBTQIA+. Dirigido e escrito por Marco Calvani, acompanha Lourenço, personagem de Pigossi, um imigrante brasileiro nos Estados Unidos que, após o rompimento inesperado com seu namorado americano, encontra-se emocionalmente perdido em Provincetown, uma comunidade à beira-mar.

Com o visto de permanência prestes a expirar, ele fica à deriva tanto fisicamente quanto emocionalmente. A trama ganha novos contornos quando Lourenço conhece Maurice (James Bland), um enfermeiro que, assim como ele, sente-se deslocado. A partir dessa inesperada conexão, os dois começam a encontrar aceitação e apoio mútuo enquanto enfrentam a incerteza de seus destinos. O elenco também traz Marisa Tomei (“Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”), Bill Irwin (“Law & Order: SVU”) e Mya Taylor (“Tangerine”), todos interpretando moradores de Provincetown que cruzam o caminho de Lourenço.

O filme teve première no Festival SXSW 2024, venceu o Festival Mix Brasil, o FilmOut de San Diego e entrou nas listas de melhores do ano da GLAAD. Além disso, atingiu 100% de aprovação no Rotten Tomatoes com elogios para sua abordagem honesta das complexidades da vida gay contemporânea. Para completar, a produção serviu de cenário para um romance real, entre Pigossi e o diretor Calvani. Os dois estão juntos desde a filmagem e consideram o projeto cinematográfico o primeiro filho do relacionamento.

 

O BOM PROFESSOR

 

O drama é inspirado em uma experiência pessoal do diretor francês Teddy Lussi-Modeste (“O Preço do Sucesso”), que enfrentou uma acusação de assédio enquanto lecionava. ​A trama acompanha Julien, um jovem e dedicado professor de literatura, que vê sua vida virar de cabeça para baixo ao ser injustamente acusado de má conduta sexual por uma aluna adolescente. A situação rapidamente foge do controle, afetando toda a comunidade escolar e o colocando numa situação desesperadora. ​

Ao contrário do brilhante “A Caça” (2012), em que Thomas Vinterberg retratou o vertiginoso declínio psicológico e social vivido por um professor após ser acusado de abuso por uma garota, a obra francesa se afasta (quase) completamente da acusação de assédio para explorar outras questões: o ensino de adolescentes, as condições socioculturais que os alunos enfrentam, a abordagem da educação sexual, a precariedade em que o ensino é realizado e o equilíbrio entre a vida pública e a vida privada influenciada pelas mídias sociais.

A narrativa descreve com sucesso uma situação complexa sem reducionismo. Esta é uma grande conquista do roteiro co-escrito por Teddy Lussi-Modeste e a cineasta Audrey Diwan (“O Acontecimento”), principalmente considerando que é baseado em uma história real. Todas as causas e consequências do evento são expostas. Não há heróis nem vítimas. Todos têm uma certa responsabilidade e todos perdem o controle conforme a história avança.

O papel principal é vivido por François Civil (“Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan”) e a produção ainda destaca Shaïn Boumedine (“Em Nome da Honra”) e a estreante Toscane Duquesne. ​

 

TEMPO SUSPENSO

 

Durante a pandemia em 2020, os irmãos Paul, um diretor de cinema, e Etienne, um jornalista musical, isolam-se na casa de campo da família no interior da França, acompanhados de suas parceiras, Morgane e Carole. A convivência intensa nesse ambiente traz à tona memórias de infância e provoca tensões e revelações que desafiam os relacionamentos e a dinâmica familiar. ​Os papéis são interpretados por Vincent Macaigne (“Irma Vep”), Micha Lescot (“A Favorita do Rei”), Nine d’Urso (“The Head”), Nora Hamzawi (“Vidas Duplas”). ​

Exibido na competição principal do Festival de Berlim em 2024, o drama intimista do premiado cineasta francês Olivier Assayas (“Acima das Núvens”) é voltado às complexidades das relações humanas durante o período do confinamento, mas não aprofunda as questões levantadas. ​

 

12.12: O DIA

 

O drama histórico se passa durante o golpe militar de 12 de dezembro de 1979, que culminou no fim da Quarta República da Coreia do Sul.​ Após o assassinato do presidente Park Chung-hee em 26 de outubro de 1979, o governo interino declarou lei marcial, nomeando o chefe do Estado-Maior do Exército, Chung Seung-hwa, como comandante dessa lei. Em 12 de dezembro de 1979, o comandante do Comando de Segurança, Chun Doo-hwan, lidera um golpe de Estado. O obstinado Comandante da Defesa da Capital acredita que o exército não deve agir politicamente e enfrenta Chun para detê-lo. A obra retrata as nove horas críticas desses eventos, destacando os conflitos entre oficiais militares e as consequências políticas que moldaram a história sul-coreana. ​

Dirigido por Kim Sung-soo (“Musa”), que vivenciou a história de 1979, o enredo combina elementos factuais com ficção, utilizando nomes fictícios para personagens reais. O elenco conta com Hwang Jung-min (“Livrai-nos do Mal”), Jung Woo-sung (“Operação Hunt”), Lee Sung-min (“Maldito Dia de Sorte”), Park Hae-joon (“The 8 Show”) e Kim Sung-kyun (“Em Movimento”).

Grande sucesso local, arrecadou mais de US$ 97 milhões e se tornou o quarto longa de maior bilheteria da história do cinema sul-coreano. Além disso, foi selecionado como representante da Coreia do Sul para a categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar, mas não conseguiu a indicação da Academia.

 

GIRASSOL VERMELHO

 

Inspirado no livro “A Casa do Girassol Vermelho”, de Murilo Rubião, mestre do realismo fantástico brasileiro, o filme acompanha a jornada de Romeu, interpretado por Chico Diaz (“Todas as Flores”), um homem que deixa seu passado em busca de liberdade. Por acaso, ele chega a uma cidade onde um sistema opressor, que não permite questionamentos, o arrasta para uma sequência de interrogatórios e torturas. Nesse mundo absurdo, Romeu percebe que perdeu seu maior valor: a liberdade. Cheio de dor e fúria, ele se entrega a uma estranha viagem. ​

O longa de Eder Santos (“Deserto Azul”), codirigido por Thiago Villas Boas, abriu a 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, realizada em janeiro passado, e segue a linha do cinema de arte experimental, com uma encenação teatral, ambientada em uma fábrica de cimento desativada, e um enfoque de artista plástico, que é bastante valorizado pela fotografia belíssima do alemão Stefan Ciupek, conhecido por clássicos europeus modernos, como “Quem Quer Ser um Milionário?” (2008) e “Anticristo” (2009).

O elenco conta ainda com Daniel de Oliveira (“Rio do Desejo”), Luah Guimarães (“Tarã”), Luiza Lemmertz (“O Diabo na Rua no Meio do Redemunho”), Mariano Mattos Martins (“O Escolhido”), Bárbara Paz (“Meu Amigo Hindu”), Vinícius Meloni (“As Boas Maneiras”), Aury Porto (“A Viagem de Pedro”), Michelle Castro (“A Sombra do Pai”), Renato Parara (“Noites Alienígenas”), Fernanda Rodrigues (“Amarração do Amor”) e Carlos Magno (“Fogaréu”).

 

IMO

 

Exibido há sete anos na Mostra de Tiradentes, o trabalho audiovisual de Bruna Schelb Corrêa segue a tendência do surrealismo de um século atrás, com imagens simbólicas e alegóricas. O projeto explora as profundezas da memória e dos silêncios que nela residem, num trabalho artístico sem compromisso com a narrativa cinematográfica tradicional. Na premissa, três mulheres revisitam suas lembranças, enfrentando a angústia de reviver experiências não superadas e o machismo da sociedade patriarcal. O filme não tem diálogos.

O elenco é composto pela funkeira mineira MC Xuxu, Giovanna Tintori e Helena Frade.

 

MILTON BITUCA NASCIMENTO

 

A produção acompanha os bastidores da turnê de despedida do cantor mineiro com registros de shows emocionantes e depoimentos de artistas ao redor do mundo. Dirigido por Flavia Moraes (“A Regra do Jogo”), o documentário traz grandes nomes da música brasileira, de Gilberto Gil a Mano Brown, e artistas internacionais como o recém-falecido Quincy Jones, o cineasta Spike Lee e Esperanza Spalding, que gravou um disco com Milton no ano passado, refletindo sobre a trajetória e influência do grande artista brasileiro.

 

BRIZOLA – ANOTAÇÕES PARA UMA HISTÓRIA

 

O veterano documentarista político Silvio Tendler (“Os Anos JK”, “Jango”, “Tancredo: A Travessia”) faz um mergulho na vida e nas lutas de Leonel Brizola, um dos símbolos da resistência ao golpe de 1964 no Brasil. Através de registros inéditos e depoimentos de aliados e críticos, a montagem traça a trajetória do ex-governador gaúcho que voltou do exílio para virar governador do Rio, marcando a redemocratização do país com sua visão progressista e defesa incansável da educação pública.

 

OROBORO

 

Pablo Lobato (“Ventos de Valls”) documenta os processos imersivos de duas turmas de um colégio ao adaptarem para o teatro “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, e “A Flauta Mágica”, de Mozart. O projeto acompanha a intimidade das descobertas, dores e alegrias vividas na radicalidade da juventude, e revela como a experiência sensível transforma os processos pedagógicos.

 

SOBREVIVENTES DO PAMPA

 

O documentário socioambiental de Rogério Luis Rodrigues investiga a situação do pampa gaúcho, que nos últimos anos trocaram o gado pela lavoura e sofrem com o impacto das mudanças climáticas. O trabalho audiovisual registra um bioma singular e seus habitantes, num mosaico entre os povos originários, comunidades quilombolas, pecuaristas familiares, assentados da reforma agrária e empresários rurais, em busca de apontar as mudanças brutais que afetaram a região e a necessidade urgência da preservação ambiental.