Produção tentou provocar reações
O futuro do Big Brother Brasil está em jogo no Paredão desta semana, com um choque de realidade para os produtores do reality, que desde o início da temporada tentam estimular os participantes a se comprometerem com o jogo. Foi tudo em vão?
A apatia generalizada dos competidores teve influência direta na linha de discursos adotados pelo apresentador Tadeu Schmidt na edição, para enfatizar a falta de confronto direto entre os brothers. Foi nesse contexto que surgiu uma metáfora mitológica, criada para ilustrar os riscos de se esconder atrás de alianças sem embate real.
As referências ao contraste entre a covardia e a coragem foram suficientemente claras para que todos os confinados entendessem o recado. Ainda assim, muitos optaram por manter a postura passiva. Diante da resistência, o apresentador reforçou o tom do discurso em sucessivas eliminações, apontando o comportamento dos participantes que pouco contribuíam com a dinâmica do programa.
Estratégias de estímulo
Na tentativa de provocar o elenco, a produção intensificou os castigos do Monstro e introduziu novas dinâmicas, como o Barrados no Baile e o Pegar ou Largar com consequências duras. As mudanças, porém, surtiram pouco efeito.
O primeiro atrito relevante ocorreu apenas quando Guilherme Albuquerque confrontou Camilla Maia e Vitória Strada com informações de traições, iniciando um dos principais embates da temporada. A ruptura do quarto Nordeste foi selada após a entrada da dinâmica das fofocas do Seu Fifi.
Mesmo com novas pistas, parte dos participantes ignorou as informações oferecidas. O cenário só foi mudar com Aline Patriarca, que incorporou a frase “Sincerão é todo dia”, dita por Tadeu, como lema e passou a provocar confrontos diretos. A movimentação da ex-policial deu novo ritmo ao programa e resultou em crescimento de audiência.
Novas dinâmicas e acirramento
Em busca de mais reações, a produção criou a Vitrine do Seu Fifi e enviou Renata Saldanha para um shopping, onde teve acesso a informações externas. Mesmo sem fazer muito com que descobriu, a bailarina passou a liderar seu grupo para reagir à Aline. Criou-se um embate efetivo. Mas um efeito colateral do plano da produção foi o fortalecimento do chamado Team Ballet, a torcida de Renata e sua amiga Eva Pacheco. Do outro lado, o grupo de Aline, Vitória e Guilherme, reunido no quarto Anos 50, também juntou forças de forma organizada.
A rivalidade gerou engajamento, mas também reativou um problema recorrente do BBB: a votação em massa contra adversários, independentemente da composição da berlinda.
Efeitos da polarização
Embora torcidas tenham manipulado resultados desde o BBB 21, elas nunca foram tão anti-jogo quanto na atual edição. No Paredão passado, Daniele Hypolito, a maior planta da temporada, foi ignorada numa tentativa da torcida dos Anos 50 para tirar Eva do programa. Ainda assim, a berlinda tinha Gracyanne Barbosa, que conquistou rejeição com o quarto Nordeste, e acabou eliminada.
Nesta semana, duas plantas disputam com Aline a permanência no jogo. Diego Hypolito até tem a função de servir de alívio cômico, mas Maike Cruz era um pedido antigo do público para o Paredão. Quando ele finalmente está disponível na berlinda, o Team Ballet busca justamente a eliminação de Aline. Várias enquetes mostram que a ex-policial corre risco sério de ser tombada.
Risco para o formato
Com três semanas restantes até a final, o programa pode perder sua principal fonte de conflitos. Isto não é ruim apenas para a edição. Após os discursos mais claros possíveis, a eliminação de quem fez exatamente o que a produção pediu pode passar a pior mensagem possível para futuros candidatos ao reality: a de que brigar significa ser eliminado, e que permanecer irrelevante é a melhor estratégia.
Como os produtores deixaram claro nessa temporada, isso vai frontalmente contra a proposta do formato. Na prática, a mensagem passada pelas torcidas desta ano representa um golpe fatal para o Big Brother Brasil como negócio viável. Com futuros brothers e sisters influenciados pelo que veem, aquele que já foi um dos maiores sucessos da TV brasileira pode virar piada, trocando embates por uma versão do Globo Rural sobre crescimento de vegetação na TV.
Voto individual contra torcidas
Mas nem tudo está perdido. Devido à experiência adquirida com o BBB 23, a equipe responsável pelo reality instituiu o voto individual, que divide o peso da eliminação com a votação das torcidas. Um voto por RG diminuiu o impacto das manobras dos fãs extremistas. Nesta mesma edição, o voto individual já impediu a torcida do ballet de tirar Vitória Strada, numa disputa com outra planta, Gabriel Yoshimoto – por coincidência, parceiro de Maike na atual colônia de férias da Globo.