Preferência por histórias fechadas
Raphael Montes comentou neste sábado (22/3) a pressão por uma continuação de “Beleza Fatal”, após o sucesso da primeira novela da plataforma Max. Em entrevista ao UOL News, o autor explicou que não ainda teve uma ideia que justificasse sequência, mas já tem outras novelas em mente.
“Tenho algumas ideias de novelas novas e é por isso mesmo, porque tenho novas ideias, que eu tenho certas dúvidas se precisa de uma continuação”, disse. “Acho que ‘Beleza Fatal’ é um sucesso, marca o momento de uma narrativa do streaming que conseguiu chegar na casa das pessoas e virou cultura pop, mas eu acho que é bom que as coisas comecem, mas também terminem.”
Montes também citou sua experiência anterior com outra obra de sucesso. “Eu sempre digo, eu fiz ‘Bom Dia, Verônica’, que é uma série da Netflix. Se eu tivesse continuado ela por várias temporadas, eu não teria feito ‘Beleza Fatal’. Então é bom que as coisas terminem para que eu possa então fazer outras coisas.”
Apesar disso, o autor reconheceu a pressão do público para que escreva uma sequência. “Tenho que dizer que a demanda do público para que tenha continuação é grande, então eu estou sofrendo certa pressão aqui para fazer uma continuação, mas por enquanto estou me mantendo firme, porque ainda não tive uma boa ideia.”
Temas tratados com naturalidade
Ele também abordou a repercussão da novela entre diferentes públicos. Segundo o escritor, o enredo foi pensado para fugir de discursos didáticos ou moralistas.
“Essa é uma visão minha como autor de como se faz dramaturgia. Eu não acredito numa dramaturgia que seja didática, que seja moralista, que seja ‘lacrativa’”, disse. “Eu sou um homem gay, mas não acredito que quando você vai contar uma história, você tem que ficar dando lição de moral no público, falando, ‘olha que absurdo você ser homofóbico, olha que absurdo’. Não. Eu acredito que tem que ser tratado de maneira natural.”
Ele explicou que os personagens são construídos de forma realista, sem centralizar a trama em suas identidades. “Existem pessoas gays, bis, trans, héteros, cis e assim vai, e todos ali vivem. Por exemplo, a mulher trans, é claro que ela tem uma vivência de mulher trans na novela e vive experiências por ser uma mulher trans, mas a trama principal dela é uma trama que na verdade não dialoga com o fato de ela ser uma mulher trans.”
Aceitação do público conservador
Montes considerou positiva a recepção da novela inclusive por espectadores mais conservadores.
“Acredito que essa é a melhor maneira de você discutir e trazer assuntos para o público. E, curiosamente, como repercussão disso, ‘Beleza Fatal’ é uma novela que foi muito abraçada pela comunidade gay, mas também é uma novela que não incomoda e tem também um público conservador.”
Ele concluiu que essa naturalização contribuiu para o alcance da obra. “Quando eu recebi esse dado de que o público conservador também gosta de ‘Beleza Fatal’, ou seja, não desliga porque tem assuntos atuais, a meu ver isso é muito positivo. Porque, na verdade, mesmo o público conservador sabe que existem mulheres trans e que existem homens gays e pessoas bissexuais. Na medida em que o público não se sente ofendido ou se sente intimado a pensar de determinada maneira, eu acho que a gente naturaliza esses assuntos como deve ser.”