Acionistas da Disney rejeitam propostas ligadas à agenda de Trump em assembleia anual

Acionistas da Disney rejeitam propostas ligadas à agenda de Trump em assembleia anual

Medidas recusadas visavam cortar projetos LGBTQIA+ e rever abandono publicitário do X contra atitudes de Elon Musk

Divulgação/Disney

Propostas foram recusadas por ampla maioria

Os acionistas da Disney rejeitaram nesta quinta-feira (20/3) duas propostas alinhadas à agenda conservadora do ex-presidente Donald Trump durante a assembleia anual da empresa. As medidas pediam, respectivamente, o rompimento com o Índice de Igualdade Corporativa da Human Rights Campaign (HRC) e a abertura de um relatório sobre uma suposta discriminação política e religiosa na escolha de onde anunciar.

Segundo comunicado da empresa após a votação, apenas cerca de 7% dos acionistas aprovaram a proposta relacionada ao HRC. Já a sugestão para investigar a seleção de compradores de publicidade teve apoio de aproximadamente 1% dos votantes.

Conselho e direção se posicionaram contra

As propostas foram formalmente recusadas após recomendação unânime do conselho de administração da Disney, presidido por James Gorman. O vice-presidente jurídico da empresa, Horacio E. Gutierrez, declarou que os itens com teor político foram “não aprovados”.

A rejeição é considerada crucial para a continuidade da governança da empresa sem interferência de interesses ideológicos externos, especialmente em meio a pressões do movimento MAGA, que tenta influenciar decisões corporativas em empresas de grande alcance global.

Alvo era o apoio a iniciativas de inclusão

A proposta contrária à iniciativas de inclusão, igualdade e diversidade (DEI, na sigla em inglês) criticava a pontuação máxima recebida pela Disney no Índice de Igualdade Corporativa da HRC desde 2007, alegando que isso traria prejuízos à empresa.

A justificativa fazia acusações diretas contra organizações de direitos humanos, alegando que elas “procuram semear confusão de gênero em crianças, encorajar procedimentos cirúrgicos irreversíveis em adolescentes confusos, eliminar esportes e banheiros femininos e reverter liberdades religiosas consolidadas”. O objetivo da proposta era cortar projetos com personagens LGBTQIA+ e diminuir a ênfase em minorias em futuras produções.

O documento citava ainda empresas como Jack Daniel’s, Harley-Davidson e Toyota como exemplos de corporações que abandonaram o índice da HRC desde o início da campanha de Trump à reeleição.

Acusação de viés político em decisões comerciais

Outro item votado, intitulado “Respect Civil Liberties in Advertising Services”, acusava a Disney de prejudicar empresas e plataformas com determinadas orientações políticas. A proposta pedia um relatório detalhado sobre como a empresa administra “os riscos relacionados à discriminação contra compradores e vendedores de anúncios com base em sua condição ou visão política ou religiosa”.

A medida citava indiretamente o caso envolvendo Elon Musk, que teve anúncios suspensos na plataforma X (ex-Twitter) após endossar uma publicação antissemita em 2023.

Foco declarado na neutralidade e no entretenimento

Nos últimos meses, o CEO Bob Iger tem reiterado que o objetivo da Disney não é promover disputas ideológicas. “A missão principal da empresa é entreter”, afirmou em declarações recentes. Isto também vale contra o desmonte ideológico das conquistas dos direitos civis que tem marcado o governo Trump.

A direção também justificou a rejeição das propostas com base em critérios administrativos e financeiros. “Dadas as práticas existentes da companhia para avaliar sua participação em iniciativas de transparência e a supervisão do conselho sobre relatórios ESG, equidade na força de trabalho e políticas de direitos humanos, não acreditamos que esta proposta traria valor adicional aos acionistas.”

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