Silêncio após tortura e piadas sobre o Oscar
A equipe do documentário “Sem Chão”, vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 2025, afirmou que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos se recusou a demonstrar apoio público a Hamdan Ballal, codiretor palestino da obra, após sua prisão e agressões por soldados israelenses.
O relato foi feito por Yuval Abraham, cineasta israelense que dividiu a direção do filme com Ballal e outros dois realizadores. Em publicação feita no X, Abraham afirmou: “Infelizmente, a Academia dos Estados Unidos, que nos deu o Oscar há três semanas, se recusou a apoiar Hamdan Ballal publicamente enquanto ele era agredido e torturado por soldados israelenses”.
Segundo o diretor, a justificativa apresentada foi a de que outras pessoas também foram agredidas na mesma operação militar. “Disseram que, como outros palestinos foram agredidos no ataque dos colonos, [o caso] poderia não ter relação com o filme, então não sentiram a necessidade de se pronunciar”, escreveu.
Abraham acrescentou que, durante a detenção, Ballal ouviu piadas dos soldados sobre o Oscar vencido por “Sem Chão”. “Em outras palavras, apesar de Hamdan ter claramente sido escolhido por fazer ‘Sem Chão’, ele também foi escolhido por ser palestino — como inúmeros outros que são ignorados todos os dias. Aparentemente, isso deu à Academia uma desculpa para ficar calada quando um cineasta que eles homenagearam, que vive sob uma ocupação israelense, mais precisava dela”, completou.
Outras entidades se manifestaram
Enquanto a Academia permaneceu em silêncio, diversas organizações do setor audiovisual reagiram à prisão de Ballal. A Academia Europeia de Ciências e Artes foi uma das entidades que emitiram comunicados sobre o caso, assim como festivais e instituições ligadas ao cinema documental.
A Associação Internacional de Documentários divulgou nota exigindo “a libertação imediata de Ballal e que sua família e comunidade sejam informadas sobre sua condição, localização e a justificativa para sua detenção”.
Yuval Abraham também revelou que houve mobilização interna dentro da própria Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA. “Vários membros da Academia, especialmente na área de documentários, pressionaram por uma declaração, mas tiveram o pedido recusado”, declarou.
Procurada pelo site The Hollywood Reporter, a Academia norte-americana não se pronunciou até o momento.
