Recriação digital sem consentimento
A inteligência artificial foi utilizada para recriar a voz do falecido Alain Dorval, dublador francês de Sylvester Stallone por quase 50 anos, na versão local de “Blindado”. A decisão gerou revolta entre profissionais da dublagem e levou a produtora a apagar a voz artificial e contratar um ator humano para o trabalho.
Dorval, que morreu em 2024, era a voz a Stallone na França desde “Rocky”. A recriação digital foi feita pelas empresas Lumiere Ventures e ElevenLabs, sob o argumento de preservar o timbre icônico do dublador. “Uma maneira de honrar a tradição e criar novas possibilidades na produção cinematográfica”, afirmou Mati Staniszewski, CEO da ElevenLabs.
Filha do dublador criticou decisão
Aurore Bergé, filha de Dorval e ministra da Igualdade entre Mulheres e Homens da França, declarou que não autorizou o uso da voz de seu pai para a versão final do filme. “Nunca autorizei essa divulgação. E meu pai jamais teria aprovado isso nessas condições”, escreveu na rede social X.
Ela afirmou que permitiu apenas “testes” com inteligência artificial, mas não a aplicação definitiva na dublagem do longa-metragem.
Protestos de dubladores franceses
A controvérsia reacendeu debates sobre o impacto da inteligência artificial na indústria audiovisual e os direitos de artistas falecidos. O setor de dublagem, que emprega cerca de 15 mil profissionais na França, teme que o avanço da tecnologia substitua gradativamente os dubladores humanos.
Diante do caso, dubladores franceses criaram o movimento “Touche pas à ma VF” (“Não toque na minha versão francesa”), pressionando o Ministério da Cultura por regulamentações que protejam a categoria contra o uso indiscriminado da IA.