Estados Unidos já sofrem com censura nas artes com ascensão de Trump

Estados Unidos já sofrem com censura nas artes com ascensão de Trump

Partido Republicano busca proibir exibição de nudez em museus em meio ao aumento de livros proibidos nas escolas e bibliotecas dos Estados Unidos

Unsplash/Kevin Laminto

Restrição a conteúdos artísticos

Um relatório da PEN America, intitulado “O horizonte da censura”, alerta para um aumento significativo de censura em museus dos Estados Unidos em meio à ascensão política de Donald Trump e seu partido político. O documento destaca que exposições e obras de arte vêm sendo alvo de restrições devido a temas como diversidade sexual, questões religiosas, ambientalismo e o conflito entre Israel e Palestina.

A organização aponta ainda que legisladores estaduais, majoritariamente do Partido Republicano, apresentaram projetos de lei para eliminar isenções de responsabilidade penal na exibição de nudez ou material sexualmente explícito para menores. Caso sejam aprovadas, essas propostas podem permitir que obras clássicas, como estátuas e pinturas, resultem em processos judiciais contra museus e seus diretores. Exibir a estátua de Davi, de Michelangelo, por exemplo, poderia dar cadeia e fechar o museu.

Impacto na liberdade artística

Os autores do relatório alertam que essas iniciativas representam uma ameaça direta à liberdade dos museus e do público. “A arte é um veículo vital para a mudança social, mas no momento em que ela tem que lutar pelo seu próprio direito de existir em um espaço público, a credibilidade da liberdade de uma sociedade é erodida”, afirma o texto.

O estudo foi conduzido em parceria com a Associação de Diretores de Museus de Arte (AAMD) e a organização Artists at Risk Connection (ARC), e teve a participação de 95 diretores de museus.

Pressões internas e externas

Entre os entrevistados, 90% disseram que não há protocolos definidos para lidar com tentativas de censura. Os temas mais frequentemente contestados envolvem críticas ao cristianismo, abordagens sobre sexualidade e referências ao conflito entre Israel e Palestina.

Quase 65% dos diretores relataram ter sofrido pressão para excluir obras ou exposições em algum momento da carreira. Além de autoridades políticas, outras fontes de pressão incluem membros dos conselhos dos museus (13%), doadores (12%), funcionários internos (11%) e até o público visitante (7%).

Temas considerados sensíveis

Segundo o relatório, 45% dos entrevistados afirmaram ter recebido pressões para não exibir obras por serem vistas como “potencialmente ofensivas”. As queixas mais comuns envolviam aspectos da vida pessoal dos artistas (26%) e sua origem racial ou étnica (9%). Outros fatores considerados sensíveis incluíam críticas ao cristianismo (30%), menções a Donald Trump (28%) e Joe Biden (21%), além de representações de forças de segurança (21%), apoio ao aborto (19%) e obras de artistas palestinos (18%) ou israelenses (13%).

Cerca de 30% dos entrevistados também mencionaram restrições a obras consideradas “inapropriadas para crianças” em visitas escolares. Mais de 80% indicaram que a retirada de obras com base na raça, etnia ou identidade LGBTQIAP+ dos artistas seria um caso claro de censura.

Autocensura e futuro dos museus

Os diretores de museus destacaram que a pressão para autocensura vem aumentando. “Agora parece inevitável ofender alguém”, disse um dos entrevistados. Outros afirmaram que exposições sobre Israel e Palestina se tornaram “para-raios para as vozes extremistas de um lado ou de outro”.

O relatório sugere que os museus reforcem seus compromissos com a liberdade de expressão para resistir a pressões externas. “As comunidades precisam da arte para prosperar, refletir e pensar criticamente, e os artistas precisam de espaços para compartilhar suas vozes”, aponta o documento.

Censura na literatura

O estudo da PEN America foi divulgado um mês após outro relatório da organização revelar um aumento expressivo no número de livros proibidos em escolas e bibliotecas nos Estados Unidos. O total de títulos censurados subiu de 3.362 para 10.046 em um ano, resultado de leis estaduais e da pressão de grupos conservadores.

Entre os autores com obras proibidas, figuram nomes como Stephen King, Isabel Allende, Gabriel García Márquez, Agatha Christie, Toni Morrison e Federico García Lorca.