Recuo em políticas de diversidade
A Disney reduziu a ênfase em iniciativas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) em seu mais recente relatório regulatório, removendo menções ao programa “Reimagine Tomorrow”, lançado em 2021 para amplificar vozes sub-representadas. Programas voltados para o desenvolvimento de talentos e bolsas para grupos minoritários também foram omitidos, com a empresa agora destacando iniciativas de contratação de veteranos militares.
A mudança foi comunicada internamente em um memorando da chefe de recursos humanos, Sonia Coleman, enviado nesta terça-feira (11/2). O documento apresenta uma nova estratégia de talentos para a alta liderança, avaliando como os executivos “defendem os valores da empresa, incorporam diferentes perspectivas para impulsionar o sucesso dos negócios, cultivam um ambiente onde todos os funcionários possam prosperar e sustentam uma linha de produção robusta para garantir a força organizacional a longo prazo”.
Pressões governamentais e impacto no setor
O recuo ocorre em um momento de intensificação das investigações do governo dos EUA sobre políticas DEI em empresas privadas. O ex-presidente Donald Trump emitiu uma ordem executiva determinando a revisão de programas de diversidade sob alegações de possíveis violações das leis federais de direitos civis.
A interpretação conservadora é uma inversão de valores da lei de Direitos Civis de 1964, que proíbe discriminação baseada em raça, gênero e outras características protegidas. Criada para proteger minorias, ela agora está sendo usada contra as minorias. Programas que estabelecem metas específicas para contratação e promoção de grupos sub-representados são acusados de criar discriminação reversa, excluindo candidatos que não pertencem a essas categorias, especialmente homens brancos heterossexuais. A decisão da Suprema Corte de 2023, que proibiu o uso de raça em admissões universitárias, fortaleceu esse argumento ao considerar tais práticas uma violação da 14ª Emenda, que garante proteção igualitária sob a lei.
O cenário político conservador, representado pelo governo Trump, já levou grandes empresas, como Meta, Amazon e Google, a reduzirem iniciativas voltadas à diversidade. Desde 2020, várias companhias vêm evitando menções explícitas a questões raciais nesses programas, reforçando termos como “origens sub-representadas”. A Disney, por exemplo, estabelecia que pelo menos metade dos produtores e roteiristas contratados deveria pertencer a esses grupos, mas teme que tais práticas possam ser interpretadas como cotas discriminatórias, numa reversão completa da política de inclusão que norteou os Estados Unidos nos últimos 64 anos – desde que John F. Kennedy lançou a primeira ação afirmativa em 1961.
Ajustes em conteúdo e políticas internas
A Disney também considera mudanças na forma como alerta o público sobre representações problemáticas em suas produções. Desde 2020, avisos sobre conteúdos com estereótipos negativos ou ofensivos em animações e filmes clássicos, como “Peter Pan”, “Aristogatas” e “Dumbo”, eram exibidos no início das produções. Segundo fontes internas, a empresa planeja transferir esses alertas para uma aba informativa separada.
Nos últimos anos, a companhia enfrentou críticas de setores conservadores por incluir personagens racialmente diversos e LGBTQIA+ em suas produções. Em uma entrevista concedida em 29 de novembro ao evento DealBook, do New York Times, o CEO da Disney, Bob Iger, reconheceu que parte dos criadores da empresa perderam o foco no objetivo central. “Temos que entreter primeiro. Não se trata de mensagens”, afirmou.
Processos e disputas políticas
A redução de iniciativas DEI ocorre em meio a ações judiciais contra a empresa. O grupo America First Legal, fundado por Stephen Miller, ex-assessor de Trump, acusa a Disney de violar leis de direitos civis ao promover programas de diversidade. A companhia também continua em litígio com o governador da Flórida, Ron DeSantis, por conta da revogação do distrito fiscal especial que concedia privilégios à empresa para a administração de seus parques no estado.
Outra disputa envolve a atriz Gina Carano, que processou a Disney por discriminação e demissão injusta após ser afastada da série “The Mandalorian” por postagens controversas nas redes sociais. A ação é financiada por Elon Musk, que criticou a empresa por retirar anúncios da plataforma X.