Tweets racistas de Karla Sofía Gascón enterram chances de “Emilia Pérez” no Oscar 2025

Tweets racistas de Karla Sofía Gascón enterram chances de “Emilia Pérez” no Oscar 2025

Postagens antigas da atriz com declarações islamofóbicas e racistas geram crise para o filme, que lidera a disputa com 13 indicações

Divulgação/Pathé

Redescoberta de postagens controversas

A campanha de “Emilia Pérez” ao Oscar 2025 foi fortemente impactada pela mais recente controvérsia envolvendo Karla Sofía Gascón. Postagens antigas da atriz, que ressurgiram nas redes sociais na última quinta-feira (30), chocaram o público – e os eleitores do Oscar – com declarações islamofóbicas e racistas. Entre os comentários atribuídos a Gascón, ela chama muçulmanos de “retardados” e o Islã de “profundamente repugnante”, se refere a George Floyd, cujo assassinato foi o estopim do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), como “um vigarista viciado em drogas” e ironiza a diversidade do Oscar, descrevendo-o como “um festival afro-coreano”.

Nesta semana, dois dias antes da canadense Sarah Hagi fazer a exposição dos tweets, Gascón já estava envolvida numa polêmica ao criticar profissionais ligados a Fernanda Torres por lançarem uma campanha contra ela nas redes sociais. A acusação grave e sem provas virou aperitivo perto da nova revelação, que coloca em risco não apenas a candidatura ao prêmio de Melhor Atriz, mas toda a campanha do longa-metragem.

Estratégia da Netflix e ascensão do filme

“Emilia Pérez” era visto como a maior aposta da Netflix para finalmente conquistar o Oscar de melhor filme. A plataforma adquiriu os direitos do longa em Cannes, onde Gascón e colegas do elenco compartilharam o prêmio de Melhor Atriz, e desde então concentrou a campanha na estrela espanhola. Para aumentar suas chances, a empresa até a inscreveu como protagonista e colocou Zoë Saldaña na categoria de Coadjuvante, apesar da narrativa ser centrada na personagem de Saldaña e seu tempo de tela ser maior.

A estratégia parecia bem-sucedida. No Globo de Ouro, Gascón aceitou o prêmio de Melhor Filme Musical ou Comédia em nome da produção e fez um discurso emocionado, declarando: “Você nunca poderá tirar nossa alma, nossa resistência, nossa identidade”. A frase foi amplamente interpretada como uma resposta à onda conservadora nos Estados Unidos, incluindo o movimento que levou à reeleição de Donald Trump.

Com o republicano no governo e já implementando medidas contra a população trans, como a proibição de presos trans em unidades correspondentes ao seu gênero e tentativas de barrar militares transgêneros, a Netflix apostava que o filme poderia ser impulsionado como um símbolo de resistência. No entanto, as declarações de Gascón desmontam esse discurso e expõem as contradições da campanha.

Repercussão e desculpas

O caso reacende debates sobre a falta de checagem prévia em campanhas publicitárias de grande porte e o impacto de fatores externos nas premiações.

A repercussão negativa já levanta dúvidas sobre o futuro da campanha. Restou à Netflix apenas correr para conter os danos. Na própria noite de quinta-feira, Karla Sofía Gascón divulgou um pedido de desculpas pelas mensagens altamente insensíveis e racistas feitas anos atrás.

“Quero reconhecer a discussão em torno das minhas postagens antigas nas redes sociais, que causaram sofrimento. Como alguém de uma comunidade marginalizada, conheço esse sofrimento muito bem e peço desculpas profundamente para aqueles a quem causei dor. Durante toda a minha vida, lutei por um mundo melhor. Acredito que a luz sempre triunfará sobre a escuridão”, ela disse na nota à imprensa.

Ainda não há posicionamento dos demais integrantes do elenco ou de Jacques Audiard, diretor do filme. Também permanece incerto se Gascón comparecerá à cerimônia do Oscar em março.

A eleição de Donald Trump e suas políticas contra a população trans poderiam ter fortalecido a narrativa de “Emilia Pérez” como um símbolo de resistência, mas as declarações de Gascón desmontam esse discurso. De forma irônica, a situação reflete justamente um dos temas centrais do próprio filme: o fato de que identidade não define caráter. Em “Emilia Pérez”, a protagonista muda de sexo, mas não deixa de ser um mau-caráter agindo de forma opressiva.