Fim do programa de verificação
A Meta, responsável pelo Facebook e Instagram, anunciou nesta terça-feira (7/1) o encerramento do programa de checagem de fatos por terceiros, substituindo-o por um sistema de notas da comunidade. A iniciativa começará pelos Estados Unidos e poderá ser implementada em outros países. O anúncio foi feito pelo CEO da companhia, Mark Zuckerberg, em vídeo divulgado nas redes sociais, em que ele defendeu uma “volta às nossas raízes de liberdade de expressão”.
O novo modelo permitirá que usuários das plataformas publiquem explicações com links e imagens sobre conteúdos questionáveis, que serão avaliadas por outros internautas. O sistema se assemelha ao modelo adotado pelo X, rede social de Elon Musk.
Críticas ao antigo modelo
Zuckerberg declarou que o programa anterior falhou ao tentar responder às preocupações sobre fake news sem tornar a Meta “árbitro da verdade”. “Depois da eleição de Trump, em 2016, a mídia tradicional escreveu sem parar sobre como fake news eram uma ameaça para a democracia. Tentamos de boa-fé endereçar essas preocupações, sem nos tornarmos árbitros da verdade. Mas os checadores de fatos são muito enviesados politicamente e destruíram mais a confiança [das pessoas] do que a criaram, especialmente nos EUA”, afirmou o executivo.
Zuckerberg ressaltou que sistemas de moderação complexos podem cometer erros, o que teria resultado em censura de milhões de usuários: “Criamos vários sistemas complexos de moderação, mas o problema é que eles cometem erros. Mesmo se eles acidentalmente censurem apenas 1% das publicações, isso significa milhões de pessoas, e chegamos a um ponto onde há muitos erros e muita censura”.
Politização de Zuckerberg
Durante o vídeo, Zuckerberg criticou a regulamentação de conteúdo na Europa e em países da América Latina, mencionando supostas ações judiciais sigilosas para remoção de postagens. “A Europa tem um crescente número de leis que institucionalizam a censura, tornando difícil criar qualquer coisa inovadora por lá. Países da América Latina têm cortes secretas, que exigem que companhias removam conteúdos na surdina. A China censura nossos apps de funcionarem lá”, declarou.
O executivo também reforçou sua aliança com o governo dos Estados Unidos para resistir à censura global. “Vamos trabalhar com o presidente Trump para resistir a governos ao redor do mundo, que vão contra empresas dos Estados Unidos e que queiram censurar mais. (…). A única forma de resistir a essa tendência global é com o apoio do Governo dos EUA”, afirmou.
Aproximação com Trump
O presidente eleito Donald Trump elogiou publicamente a decisão da Meta e a comparou às políticas de Elon Musk no X. “A apresentação da Meta foi excelente”, disse Trump em entrevista à Fox News Digital. O republicano considerou que a empresa “percorreu um longo caminho” ao adotar medidas contrárias ao programa de checagem de fatos.
Em coletiva de imprensa na mesma data, Trump foi questionado se a mudança teria relação com ameaças feitas contra Zuckerberg durante sua campanha eleitoral. “Provavelmente”, respondeu de forma ambígua.
Trump social
A relação entre Zuckerberg e Trump teve momentos de tensão. Em agosto de 2024, o então candidato à presidência ameaçou “prisão perpétua” ao empresário, acusando-o de direcionar o conteúdo das redes contra sua candidatura em 2020. Contudo, após ser reeleito, Trump recebeu uma doação de US$ 1 milhão da Meta para seu fundo inaugural.
A aproximação se intensificou com a recente nomeação de Dana White, presidente do UFC e aliado de Trump, para o conselho da empresa. Além disso, a saída de Nick Clegg, ex-diretor de assuntos globais da Meta, abriu espaço para Joel Kaplan, republicano e crítico das supostas supressões a conteúdos conservadores, assumir o cargo.
O novo presidente dos EUA sempre foi contrário à checagem de fatos nas redes sociais. Trump chegou a ser expulso do Twitter (hoje X) por conta de divulgação de notícias falsas e suspenso das plataformas Meta, Facebook e Instagram, por seus “elogios às pessoas envolvidas em violência no Capitólio em 6 de janeiro”. Por isso, Trump criou sua própria rede social, a Truth Social. Suas contas foram reinstaladas desde então.
Em sua coletiva de imprensa, o político americano afirmou que o anúncio da Meta foi “impressionante”.