Joan Plowright, lenda do teatro britânico, morre aos 95 anos

Joan Plowright, lenda do teatro britânico, morre aos 95 anos

A atriz vencedora do Tony e do Globo de Ouro faleceu na quinta-feira cercada por sua família

Divulgação/Disney

Uma carreira que marcou gerações

Joan Plowright, uma das maiores atrizes do século 20 e viúva de Laurence Olivier, morreu na quinta-feira (16/1), aos 95 anos. A notícia foi confirmada por sua família ao jornal The Guardian nesta sexta-feira (17/1). “É com grande tristeza que a família de Dame Joan Plowright, Lady Olivier, informa que ela faleceu pacificamente cercada por sua família em Denville Hall aos 95 anos. Ela teve uma longa e ilustre carreira no teatro, cinema e TV por sete décadas, até que a cegueira a obrigou a se aposentar”, diz o comunicado. A atriz viveu seus últimos anos em Sussex, recebendo visitas de amigos e familiares.

O começo no teatro

Ela começou sua carreira no teatro amador ainda na juventude, destacando-se ao vencer um prêmio de interpretação aos 15 anos. Após concluir os estudos, ganhou uma bolsa para a prestigiada Old Vic Theatre School, onde iniciou sua formação profissional. Seu talento ficou evidente em sua estreia no teatro em 1948, com a peça “Se as Paredes Falassem”. Em 1956, ingressou no Royal Court Theatre e participou de montagens emblemáticas, como “As Cadeiras”, de Eugene Ionesco, e “Santa Joana”, de Bernard Shaw.

Plowright alcançou destaque no teatro britânico ao interpretar a jovem Jo na peça “A Taste of Honey”, de Shelagh Delaney. A montagem, considerada um marco do realismo social britânico, estreou no Royal Court Theatre em 1958 e explorava temas inovadores para a época, como relações inter-raciais, gravidez na adolescência e a amizade com um homem gay. A performance de Plowright foi amplamente elogiada pela crítica, consolidando seu status como uma atriz de primeira linha.

No ano seguinte, “A Taste of Honey” foi transferida para a Broadway, onde Plowright repetiu seu papel e recebeu o Tony de Melhor Atriz em Peça. Sua atuação foi destacada pela intensidade emocional e autenticidade, características que a tornaram uma referência na interpretação de personagens complexas. A peça também foi fundamental para sua transição para o reconhecimento internacional e pavimentou o caminho para futuras oportunidades no teatro e no cinema.

Primeiros trabalhos nas telas

Parceria com Laurence Olivier

No cinema, sua estreia ocorreu com o thriller noir “A Sombra da Forca” (1957), dirigido por Joseph Losey. O reconhecimento internacional, porém, veio com “Vida de Artista” (1960), baseado na peça homônima de John Osborne. Na adaptação, Plowright interpretou a filha do personagem principal, vivido por Laurence Olivier. Além do impacto de sua atuação, o filme marcou o início de sua parceria pessoal e profissional com Olivier, que culminou no casamento do casal em 1961.

Já casada com Olivier, ela se tornou uma das principais atrizes do National Theatre, instituição fundada pelo ator em 1963. No National Theatre, consolidou-se em montagens como “As Três Irmãs”, “O Mercador de Veneza” e “Tio Vânia”, reafirmando sua posição como uma das grandes intérpretes de sua geração.

Após se tornar mãe, Plowright passou a dividir seu tempo entre criar os três filhos e atuar esporadicamente, só retornando com força total aos palcos e telas depois da morte de Olivier em 1989, já com 60 anos.

Papéis marcantes no cinema

Seu retorno foi marcado por um renascimento de sua carreira no cinema, onde construiu uma trajetória repleta de papéis marcantes. A crítica destacou sua habilidade de equilibrar humor e dramaticidade, como em “Te Amarei Até Te Matar” (1990), uma comédia ácida de Lawrence Kasdan em que interpretou a mãe da personagem de Tracy Ullman. O reconhecimento veio logo em seguida, com uma indicação ao Oscar por sua atuação em “Um Abril Encantado” (1991), onde interpretou Mrs. Fisher, uma viúva com uma presença forte e cômica. Por esse papel, ainda recebeu o Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante.

Plowright também participou de adaptações literárias, como “O Mercador de Veneza” (1973), dirigida por Laurence Olivier, e “Jane Eyre” (1996), sob a direção de Franco Zeffirelli, consolidando seu status como uma intérprete versátil, capaz de transitar entre o teatro clássico e o cinema contemporâneo.

Outros destaques incluem “Avalon” (1990), de Barry Levinson, no qual viveu a matriarca de uma família judaico-russa em Baltimore, e “Viúvas em Guerra” (1994), ambientado em uma pequena vila irlandesa após a 1ª Guerra Mundial, onde interpretou uma figura autoritária com toques de humor. Ela também deu vida à tutora inglesa que marcou a infância do diretor Franco Zeffirelli no filme “Chá com Mussolini” (1999), ao lado de Maggie Smith, Judi Dench e Cher, e viveu uma aristocrata na comédia “A Casa Caiu” (2003), com Steve Martin e Queen Latifah.

Mesmo em seus últimos anos de carreira, continuou a impressionar. Em “Mrs. Palfrey at the Claremont” (2005), interpretou uma viúva que busca independência em um hotel londrino, um papel que lhe rendeu novos elogios da crítica. Seus trabalhos ainda incluem performances cativantes em “O Jardim dos Esquecidos” (2008), na adaptação live-action de “101 Dálmatas” (1996), onde contracenou com Glenn Close, e como a tia misteriosa de “As Crônicas de Spiderwick” (2008).

Além disso, Plowright estrelou o documentário “Nothing Like a Dame” (2018), ao lado de Judi Dench, Maggie Smith e Eileen Atkins, compartilhando histórias sobre sua carreira icônica.

Reconhecimentos e homenagens

Em 1970, ela foi nomeada Comandante da Ordem do Império Britânico e recebeu o título de Dame em 2004, da Rainha Elizabeth.

O talento e o legado de Plowright será celebrado nos teatros de Londres. A Society of London Theatre anunciou que as luzes do West End serão apagadas por dois minutos na próxima terça-feira (21/1), às 19h, em sua memória.