Claudia Leitte cria polêmica ao não cantar Iemanjá em música de axé

Secretário de Cultura de Salvador acusa cantora de desrespeito ao Axé Music e à cultura afro após alteração de letra em show

Instagram/Claudia Leitte

Troca de verso gera polêmica

Claudia Leitte se tornou alvo de críticas após viralizar um vídeo em que altera a letra da música “Caranguejo”. No lugar do verso original “Saudando a rainha Iemanjá”, a cantora substituiu por “Eu canto meu Rei Yeshua”, termo hebraico que se refere a Jesus.

A mudança gerou forte repercussão, especialmente entre defensores da cultura afro-brasileira. O secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Pedro Tourinho, usou as redes sociais para repudiar a atitude e defender o respeito à história e às origens do Axé Music.

Pedro Tourinho critica apropriação e desequilíbrio

Tourinho destacou a importância do Axé na cultura brasileira e o papel das tradições africanas em sua construção: “Axé é uma palavra de origem yorubá, que tem um significado e um valor insubstituível na cultura e nos cultos de matriz africana. Deste mesmo lugar, e com essa mesma importância, vêm também os toques de percussão que sustentam, dão identidade e ritmo à chamada Axé Music.”

O secretário criticou o apagamento das referências afrodescendentes e ressaltou que a homenagem aos 40 anos do Axé Music, prevista para 2025, precisa corrigir desequilíbrios históricos: “Homenagens ao Axé Music em 2025 têm de ser também afirmativas, trazendo os tambores para frente, os compositores para o alto. Têm de remunerar também de forma equivalente todas as cores. Têm de trazer a informação da origem daquela batida, falar de Dodô tanto quanto de Osmar.”

Racismo e resgate da história

Em tom mais incisivo, Tourinho mencionou Claudia Leitte diretamente, questionando a postura da cantora: “Quando um artista se diz parte desse movimento, saúda o povo negro e sua cultura, reverencia sua percussão e musicalidade, faz sucesso e ganha muito dinheiro com isso, mas, de repente, escolhe reescrever a história e retirar o nome de Orixás das músicas, não se engane: o nome disso é racismo, e é o surreal e explícito reforço do que houve de errado naquele tempo.”

Chamada por reflexão e crítica

Tourinho concluiu pedindo respeito e uma reflexão mais ampla: “A celebração dos 40 anos do Axé Music é muito bem-vinda, é necessária e pertinente. Contudo, ela não pode vir sem também trazer junto algum pensamento crítico. Importante botar as coisas no seu devido lugar antes de começar o oba oba.”

Ele ainda reforçou que sua crítica não tem como objetivo direcionar ódio a ninguém, mas sim abrir um debate: “A questão que levantei é muito mais sobre o todo do que sobre a parte, e maior e mais endêmica do que qualquer caso isolado.”

Apoio de artistas

Nos comentários da publicação, artistas como Ivete Sangalo, Alinne Rosa e Tereza Cristina manifestaram apoio a Pedro Tourinho, usando emojis de palmas para expressar concordância com seu posicionamento.