O publicitário Washington Olivetto, responsável por algumas das campanhas mais memoráveis da propaganda brasileira, faleceu neste domingo (13/10) aos 73 anos, após complicações pulmonares que o mantiveram internado no hospital Copa Star, no Rio de Janeiro, por quase cinco meses. Sua morte foi causada por falência múltipla de órgãos.
Campanhas que marcaram gerações
Olivetto consolidou sua fama por criar campanhas que se tornaram parte do imaginário popular. Entre os trabalhos mais conhecidos estão o comercial do “Garoto Bombril”, criado em 1978 e estrelado por Carlos Moreno, e “O Primeiro Sutiã a Gente Nunca Esquece” (1987) com Patrícia Lucchesi, para a Valisère. Ele também foi responsável por bordões que transcenderam a publicidade, como “Não é assim uma Brastemp”, para a marca de eletrodomésticos, e “É possível contar um monte de mentiras, dizendo só a verdade”, em campanha premiada para o jornal Folha de S. Paulo, além de ter colocado a resistência estudantil contra a ditadura em comercial dos jeans Starout em 1988.
Prêmios e contribuições históricas
Reconhecido internacionalmente, Olivetto acumulou mais de 50 Leões no Festival de Cannes, na categoria Filmes, e é o único latino-americano a receber um Clio em 2001. Em sua carreira de cinco décadas, foi eleito duas vezes Publicitário do Século pela Associação Latino-Americana de Agências de Publicidade (Alap) e introduzido no Hall da Fama do Festival Ibero-Americano de Publicidade (Fiap). Em 2015, foi o primeiro não anglo-saxão a ser admitido no “Creative Hall of Fame” do The One Club.
Trajetória e fundação da W/Brasil
Olivetto iniciou sua carreira na agência HGP, onde foi contratado após um encontro inusitado causado por um pneu furado. Em 1974, na DPZ, conquistou o primeiro Leão de Ouro da publicidade brasileira, abordando o tema do etarismo. Em 1986, fundou a W/Brasil, responsável por campanhas icônicas como o “Casal Unibanco”, o cachorro da Cofap e uma parceria inusitada entre os políticos Paulo Maluf e Leonel Brizola, representando respectivamente o “pé direito” e o “pé esquerdo” da marca de calçados Vulcabrás.
A W/Brasil se tornou pop ao virar nome de música em 1991, um sucesso de Jorge Ben Jor que começava com a saudação “Alô, alô, W Brasil”. Em 2010, a empresa se associou à McCann, transformando-se na W/McCann. Em 2017, Olivetto se mudou para Londres, onde atuou como consultor criativo da McCann Europa até 2019. Na ocasião, o grupo o destacou como um “executivo criativo brasileiro” cuja marca “W” se tornou símbolo de brasilidade.
Produção literária
Sua paixão pela profissão resultou em quatro livros autobiográficos, incluindo “O Que a Vida Me Ensinou” e “Direto de Washington”. Corinthiano fervoroso, Olivetto, que participou ativamente do clube como vice-presidente de marketing e fundador do movimento Democracia Corinthiana, também expressou seu amor pelo time em livros como “Corinthians x Outros” e “Corinthians – É Preto no Branco”. Em 2013, foi homenageado pela Gaviões da Fiel no Carnaval, num desfile que destacou sua contribuição à publicidade e ao clube.
Sequestro de três meses
Nem tudo foram alegrias em sua trajetória. Em 2001, Olivetto foi sequestrado por ex-guerrilheiros argentinos, colombianos e chilenos em São Paulo. Ele passou quase 3 meses em cativeiro, e acabou resgatado após denúncias de vizinhos sobre os barulhos que vinham do local do cativeiro. Foi um dos sequestros que mais causaram apreensão e comoção no Brasil. Os criminosos queriam um resgate de R$ 10 milhões, que nunca foi pago, foram presos e condenados a 16 anos de prisão.
Olivetto deixa a mulher Patrícia Olivetto e três filhos, Homero, Theo e Antônia.