Morte do ícone
O músico Arthur Moreira Lima, que se tornou uma referência no piano brasileiro, morreu na quarta-feira (30/10) aos 84 anos. O artista tratava um câncer no intestino desde o ano passado, e estava na casa da família em Florianópolis. A informação foi confirmada pela enteada do pianista.
Carreira de Arthur Moreira Lima
Nascido no Rio, Arthur Moreira Lima começou a estudar piano com Lúcia Branco (1897-1973), que também ministrou aulas para o mineiro Nelson Freire (1944-2021) e o carioca Tom Jobim (1927-1994). Seu currículo ainda se enriqueceu com outros dois professores de prestígio na Europa, Marguerite Long (1874-1966) e Rudolf Kehrer (1923-2013).
Moreira Lima conquistou dois prêmios de prestígio no pianismo internacional: um segundo lugar no Frédéric Chopin (1965) e um terceiro lugar no Tchaikovsky (1970). Seu talento o levou a ser chamado de “o Pelé do piano” pela revista francesa La Suisse, sobressaindo-se como intérprete de compositores eruditos românticos como o polonês Frédéric Chopin, (1810 – 1849), o austríaco Franz Liszt (1811 – 1886) e o brasileiro Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959).
O músico poderia ser seguido como solista em gravações com a Filarmônica de Viena ou com a Sinfônica de Boston, sob a direção de grandes regentes do final do século 20, mas optou por fazer história no Brasil. Ele colocou um piano na carroçaria de um caminhão e saiu tocando pelo país. As plateias de Moreira Lima não tinham grandes noções sobre técnica e musicalidade, mas aprovavam seu repertório que mesclava músicas clássicas e popular.
O intérprete erudito da MPB
Além de shows, ele ajudou a reposicionar vários artistas populares brasileiros sob um olhar erudito.
Em 1975, o mercado discográfico brasileiro foi surpreendido por um LP de Moreira Lima interpretando peças para piano do compositor Ernesto Nazareth (1863-1934), até então pouco valorizado pelos fãs de música erudita e até pelos ouvintes de música popular. O álbum “Arthur Moreira Lima interpreta Ernesto Nazareth” se tornou tão influente que gerou um segundo volume em 1977.
Em seguida, em 1979, juntou-se com craques do choro, incluindo o clarinetista Abel Ferreira (1915 – 1980), o flautista Copinha (1910 – 1984), o bandolinista Joel Nascimento e o trombonista Zé da Velha, além do grupo Época de Ouro – em show que deu origem ao disco ao vivo “Chorando Baixinho – Encontro Histórico”. E ainda lançou no mesmo ano um disco dedicado ao compositor Noel Rosa (1910 – 1937), pioneiro do samba carioca.
No início dos anos 1980, lançou dois álbuns com compositor e trovador Elomar, seguido pelo marcante show e disco “Pescador de Pérolas” com Ney Matogrosso, em 1987, além de virar apresentador de um programa de concertos na extinta TV Manchete
O pianista continuou surpreendendo nos anos 1990, ao se juntar ao veterano cantor Nelson Gonçalves (1919 – 1998) no álbum “O Boêmio”, revisitando o repertório de sambas-canção, valsas e tangos do cantor gaúcho dos anos 1940 e 1950. E nos anos 2000 gravou sucessos de Roberto Carlos.