O escritor chileno Antonio Skármeta, conhecido pelo romance “O Carteiro e o Poeta”, morreu nesta terça-feira (15/10), aos 83 anos. A morte, confirmada por seu filho Fabián Skármeta, ocorreu após uma longa luta contra o Alzheimer. “De fato, meu pai faleceu nesta manhã. Foi um longo processo que começou há anos com Alzheimer e terminou em uma morte natural”, declarou Fabián, ressaltando que ele e sua mãe, Nora María Preperski, acompanharam Skármeta durante todo o processo.
Nascido em 7 de novembro de 1940 em Antofagasta, Skármeta integrou a geração literária dos anos 1960. Estudou Filosofia na Universidade do Chile, onde atuou como diretor de teatro e professor. Mas aós o golpe militar de 1973, foi forçado ao exílio, vivendo na Argentina e posteriormente na Alemanha, onde continuou produzindo e promovendo a cultura chilena.
Conexão cinematográfica
Skármeta ganhou projeção internacional com o romance “Ardente Paciência”, que inspirou o filme “O Carteiro e o Poeta”, do inglês Michael Radford, indicado a cinco Oscars em 1994. Ele próprio chegou a adaptar o livro antes, em 1983, em sua carreira paralela como diretor de cinema. “Ardente Paciência” ainda foi filmado uma terceira vez há dois anos, numa produção da Netflix dirigida por Rodrigo Sepúlveda (“Aurora”).
Além de seu livro mais famoso, o escritor teve outras obras adaptadas por importantes cineastas latinos, que renderam filmes premiados como “A Dançarina e o Ladrão” (2009), do espanhol Fernando Trueba, “No” (2012), do chileno Pablo Larraín, e “O Filme da Minha Vida” (2017), do brasileiro Selton Mello. Foi o próprio Skármeta quem sugeriu o projeto ao diretor e ator brasileiro.
Apaixonado por cinema, Skármeta escreveu vários roteiros e dirigiu três filmes durante o período em que morou na Alemanha, fugindo da ditadura militar chilena. Ele trabalhou como professor na Academia Alemã de Cinema e Televisão e chegou a integrar o júri do Festival Internacional de Cinema de Berlim em 1987. Só voltou ao Chile em 1989, com a saída de Augusto Pinochet da presidência. A derrota da ditadura o inspirou a escrever uma peça teatral, “El Plebiscito”, que permaneceu inédita até ser transformada no filme “No”.
Sua relação com a Alemanha ainda lhe rendeu o cargo de embaixador do Chile no país de 2000 a 2003.
Ao longo de sua carreira, o escritor foi reconhecido com diversos prêmios, como o Prêmio Casa de las Américas, o Prêmio Unesco em 2003 e o Prêmio Planeta em duas ocasiões. Em 2014, recebeu o Prêmio Nacional de Literatura do Chile.
Homenagem do Presidente Gabriel Boric
O presidente do Chile, Gabriel Boric, homenageou o escritor em sua rede social X, agradecendo por sua obra e seu legado: “Obrigado, mestre, pela vida vivida. Pelos contos, os romances e o teatro. Pelo compromisso político”. Boric também destacou o impacto do programa cultural “O Show dos Livros”, idealizado por Skármeta na década de 1990, que “ampliou as fronteiras da literatura”. “Obrigado por sonhar que a neve ardia no Chile que tanto te doeu”, completou Boric.