O longa-metragem “Manas”, estreia da documentarista Marianna Brennand Fortes como diretora de ficção, venceu nesta sexta-feira (6/9) o GDA Director’s Award, grande prêmio da Jornada dos Autores (Giornate Degli Autori), uma das principais mostras paralelas do Festival de Veneza. O filme rodado na Amazônia narra a trajetória de Marcielle, uma jovem de 13 anos da Ilha do Marajó (PA) que decide confrontar a violência que domina sua família e as mulheres da comunidade. A estreia mundial foi ovacionada na segunda-feira (2/9) e aclamada por seu olhar sensível sobre questões sociais. O filme aborda o delicado tema do abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes na Ilha do Marajó.
“Estou transbordando de felicidade e emoção. Esse prêmio é importante para mim como diretora, para toda a equipe brilhante que fez esse filme, para todas as ‘manas’ do Pará, do Brasil e do mundo”, comemorou Brennand. “É um prêmio que eu recebo em nome do nosso cinema brasileiro. Ele representa nossa força, nossa verdade, nossa ousadia e coragem em resistir, assim como nossa protagonista resiste e reage bravamente.”
A premiação, decidida por um júri presidido pela cineasta britânica Joanna Hogg (“The Souvenir”), oferece € 20.000 para o diretor e o distribuidor internacional do filme, divididos igualmente para promover a circulação da obra.
Elogios do júri
Em post no Instagram, a Jornada dos Autores enalteceu o filme. “‘Manas’ conquistou nossos corações ao abordar com cuidado o tema extremamente sensível e difícil do abuso, tanto em contextos domésticos como em contextos mais sistemáticos. Embora o cenário da ilha de Marajó ainda não fosse conhecido, a diretora retratou algo tão universal, que cada um de nós poderia se conectar profundamente. Este filme se destacou na programação pelo seu trabalho magistral, atuações brilhantes e uma mensagem forte que acreditamos que irá repercutir em muitas pessoas em todo o mundo, aumentando a conscientização e apelando à mudança” .
Brennand celebrou a conexão do júri com o filme e a maneira como comentaram a importância da história. “Acabei de assistir à deliberação do júri e a conexão deles com o filme, a maneira emocionada com que falaram de ‘Manas’, como reconheceram a importância cinematográfica do filme, a delicadeza com que essa história tão difícil é contada, de uma maneira respeitosa, verdadeira, usando a potência do cinema para colocar o espectador dentro da alma e do coração de Marcielle enquanto ela vive as maiores violências que uma mulher pode passar”, declarou a diretora.
Brennand também destacou o caráter universal da trama. “Reconheceram a importância de uma história que precisa ser contada, dividida, porque ela é brasileira, mas universal. Foi preciso ter coragem para fazer esse filme, e espero que ‘Manas’ possa lançar luz e encorajar mulheres a quebrarem silêncios”, acrescentou.
Elenco e produção
“Manas” traz no elenco a estreante Jamilli Correa como protagonista, além de Dira Paes (“Pantanal”), Fátima Macedo (“A Praia do Fim do Mundo”) e Rômulo Braga (“DNA do Crime”).
O papel de Dira Paes, a policial Aretha, foi baseado em pessoas reais como o delegado Rodrigo Amorim e Marie Henriqueta Ferreira Cavalcante, referências no enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes na região Amazônica.