A programação de cinema desta quinta (19/9) destaca “A Substância”, terror estrelado por Demi Moore e premiado no Festival de Cannes. Elogiadíssimo pela crítica internacional, o horror corporal feminista tem 89% de aprovação no Rotten Tomatoes, que é a régua digital da crítica norte-americana. O circuito também recebe uma nova performance tresloucada de Nicolas Cage, no suspense “Ligação Sombria”, e o último filme de Woody Allen, “Golpe de Sorte em Paris”, filmado na França com astros franceses. Com menor projeção, o circuito limitado ainda exibe o potente drama político chileno “Prisão nos Andes” e um dos pré-candidatos do Brasil à vaga no Oscar, “Saudade Fez Morada Aqui Dentro”, além de nada menos que quatro longas de ficção de novos diretores brasileiros, entre diversos outros lançamentos. A lista completa de estreias pode ser conferida abaixo.
A SUBSTÂNCIA
O terror estrelado por Demi Moore (“Feud: Capote vs. The Swans”) venceu o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes 2024, quando ganhou a fama de ser “completamente insano”. Aplaudido por cerca de 10 minutos em sua première em Cannes, o body horror segue a personagem de Moore, Elizabeth Sparkle, após ser demitida de seu cargo como apresentadora de um programa de exercícios diurnos. Sua trajetória de ex-atriz vencedora do Oscar com estrela na Calçada da Fama de Hollywood não é suficiente para mantê-la no programa “Sparkle Your Life”, pois o (Dennis Quaid, de “Juntos para Sempre”) está determinado a substituí-la por uma estrela mais jovem e bonita, refletindo a crueldade da indústria televisiva.
Elisabeth recorre a um programa chamado “A Substância”, que permite às pessoas clonarem versões mais jovens de si mesmas. As regras são claras: os clones alternam suas rotinas entre um estado de coma e atividade a cada sete dias. Elisabeth e sua versão mais jovem, chamada de Sue (Margaret Qualley, de “Pobres Criaturas”), inicialmente seguem as regras, mas logo entram em conflito. Sue prospera, ganhando a atenção do produtor e seu próprio programa de exercícios, enquanto Elisabeth enfrenta a invisibilidade e o declínio.
O segundo longa-metragem da cineasta francesa Coralie Fargeat explora a descartabilidade das mulheres em uma sociedade sexista, tema que Fargeat já tinha abordado em seu thriller de 2017, “Vingança”, e transforma em terror a maneira como convenções sociais colocam mulheres contra si mesmas, propondo uma reflexão sobre a toxicidade dos padrões impostos pela sociedade. Demi Moore entrega uma performance visceral, destacando a angústia e o desespero de sua personagem, que serve sob medida para o estilo visual hiperativo da diretora, cheio de ângulos ultra-wide, closes e uma paleta de cores vibrantes.
LIGAÇÃO SOMBRIA
O título genérico esconde o subtexto do filme originalmente chamado de “Sympathy for the Devil”, que traz Nicolas Cage (“Renfield – Dando Sangue Pelo Chefe”) endiabrado. Dirigido pelo cineasta israelence Yuval Adler (“Agente Infiltrada”), o suspense gira em torno de Dave (Joel Kinnaman, de “O Esquadrão Suicida”), um motorista que é rendido quando vai ver a mulher no hospital, sendo obrigado a conduzir um homem armado de cabelos vermelhos (Cage). Conforme a viagem avança, fica evidente que algo está errado com esse passageiro sarcástico e apavorante.
A história ganha a dinâmica de um jogo de gato e rato, conforme o personagem de Cage atormenta Dave/Kinnaman, conduzindo-o a um local desconhecido. Numa parada num posto de gasolina, outras pessoas aparentemente aleatórias também se tornam reféns do jogo sádico. Mas será que o personagem de Kinnaman é realmente um mero inocente, escolhido aleatoriamente? Reviravolta.
GOLPE DE SORTE EM PARIS
O novo e talvez último filme de Woody Allen foi rodado na França, após o cineasta perder apoio financeiro para continuar a carreira nos EUA. Ele foi “cancelado” por uma campanha de sua filha Dylan Farrow e da ex-mulher Mia Farrow, que resgataram um suposto caso de pedofilia julgado nos anos 1990, do qual o diretor foi inocentado. A história gira em torno de um tema típico das comédias francesas, a infidelidade, mas é filmada em clima de suspense dramático, ao estilo de “Match Point” (2005), um dos melhores filmes europeus do diretor, considerados por muitos o seu renascimento. O que começa com a traição de uma mulher casada e aparentemente feliz toma rumo inesperado, ao despertar as suspeitas do marido. O desenvolvimento, porém, é mais leve que a tragédia vivida por Scarlet Johansson em “Match Point”, resultando praticamente numa comédia romântica.
O elenco destaca Lou de Laâge (“O Baile das Loucas”) e Niels Schneider (“Amores Imaginários”) como os amantes, Melvil Poupaud (“Laurence Anyways”) como o marido e Valerie Lemercier (“Aline – A Voz do Amor”) como a mãe da protagonista.
SIDONIE NO JAPÃO
Cineastas adoram levar Isabelle Huppert (“Elle”) para filmar na Ásia. Após dois dramas de Hong Sang-soo na Coreia do Sul, ela segue para o Japão com a diretora Élise Girard (“Um segredo em Paris”). Huppert vive a Sidonie do título, uma escritora que, após perder o grande amor de sua vida, enfrenta uma fase de solidão e reflexão até receber uma proposta inesperada: visitar o Japão para participar da reedição de seu primeiro livro. Durante a viagem, Sidonie é acompanhada por seu editor japonês, e a trama se desenrola à medida que os dois exploram a cidade de Kyoto. Essa jornada é marcada por uma mistura de reflexão pessoal e novos vínculos, enquanto Sidonie lida com a presença simbólica do “fantasma” de seu falecido marido, que continua a assombrá-la emocionalmente.
O filme explora a complexidade do luto, da autodescoberta e da relação entre o visível e o invisível, temas recorrentes no cinema de Élise Girard.
PRISÃO NOS ANDES
O primeiro longa de Felipe Carmona aborda um período sombrio da história do Chile, focando nos torturadores mais cruéis da ditadura de Augusto Pinochet. Os cinco piores auxiliares do ditador cumprem suas longas sentenças em uma prisão luxuosa localizada aos pés da Cordilheira dos Andes. A prisão, equipada com piscina, jardins e outros confortos, parece mais um refúgio do que uma punição, com os guardas se comportando quase como empregados dos internos. Entretanto, quando uma equipe de televisão entrevista um dos prisioneiros, suas declarações acabam provocando uma série de eventos inesperados, colocando em risco o status privilegiado dos torturadores. Temendo serem transferidos para uma prisão comum, os internos desencadeiam um clima de violência e delírio na prisão.
“Prisão dos Andes” foi apresentado em diversos festivais internacionais e acabou premiado no Festival de Cinema Latino-Americano de Huelva, na Espanha, e no Festival Internacional de Cinema de Kerala, na Índia.
SAUDADE FEZ MORADA AQUI DENTRO
O drama dirigido por Haroldo Borges (“Filho de Boi”) é centrado em Bruno (Bruno Jefferson), um adolescente de 15 anos que vive no interior da Bahia e luta com uma doença degenerativa que o levará à cegueira. Bruno, que até então ignorava a violência e o preconceito da cultura machista em que está inserido, passa a enfrentar não só as dificuldades de sua condição física, mas também as complexidades emocionais da adolescência. O filme aborda a aceitação das diferenças, o preconceito, e o impacto da deficiência visual na vida de Bruno, ao mesmo tempo em que explora questões de identidade e os desafios de enxergar o mundo “com outros olhos”. A narrativa é carregada de simbolismo e emoção, comparando a cegueira literal que afeta o protagonista com sua realidade.
Vencedor do Festival de Mar del Plata, na Argentina, e amplamente aclamado pela crítica estrangeira, o longa é um dos seis finalistas do comitê da Academia Brasileira de Cinema que determinará o representante do Brasil na disputa do Oscar 2025 de Melhor Filme Internacional.
PASSAGRANA
A comédia de ação marca a estreia na direção do ator Ravel Cabral (“Aruanas”). A trama acompanha quatro amigos de infância — Zoinhu (Wesley Guimarães), Linguinha (Juan Queiroz), Mãodelo (Elzio Vieira) e Alãodelom (Wenry Bueno) — que sobrevivem aplicando pequenos golpes nas ruas. Cansados de ser perseguidos pela polícia por crimes pequenos, os amigos decidem ousar ainda mais, planejando um assalto a banco para ter condições de sair das ruas. A maior parte da história se concentra no planejamento inusitado do quarteto, que resolve convencer atores de que farão um filme de assalto, visando envolvê-los num plano elaborado de assalto real. Entre os que se apresentam, destaca-se ninguém menos que a veterana Irene Ravache, que dá um show à parte. O elenco ainda destaca Carol Castro, Luciana Paes, Giovanna Grigio, Caco Ciocler e o próprio Ravel Cabral.
QUANDO EU ME ENCONTRAR
O drama cearense acompanha as repercussões da partida inesperada de Dayane, uma jovem que deixa sua família sem explicações, apenas com uma carta de despedida. O filme explora como sua mãe Marluce (Luciana Souza), sua irmã mais nova Mariana (Pipa), e seu noivo Antônio (David Santos) lidam com essa ausência abrupta. Cada um dos personagens enfrenta o impacto de formas diferentes: a mãe tenta esconder o choque de ter sido abandonada, a irmã mais nova lida com problemas na escola e o noivo fica desolado, buscando respostas para entender o que levou Dayane a deixá-los. Primeiro longa das curta-metragistas Michelline Helena e Amanda Pontes (“Topofilia”), foi premiado no Festival Olhar de Cinema, de Curitiba, na categoria de Melhor Roteiro.
BOCAINA
O título do primeiro longa dirigido pela atriz Ana Flávia Cavalcanti (“Os Outros”) em parceria com Fellipe Barbosa (diretor de “Todas as Flores”) se refere ao local, em Minas Gerais, em que vivem duas irmãs, Zulma (Malu Galli) e Musk (a própria diretora). Isoladas em meio à pandemia, ela recebem a visita inesperada de um forasteiro misterioso, Josevelt (Alejandro Claveaux), que chega à região aparentemente doente. A presença desse homem desencadeia um “jogo de espelhos”, onde as irmãs são confrontadas com suas próprias tensões e conflitos internos, levando a uma transformação pessoal provocada pela convivência e também por eventos astronômicos inesperados.
SOFIA FOI
A produção independente combina elementos de ficção e documentário para contar a história de Sofia Tomic, uma jovem tatuadora que, após ser despejada de seu apartamento, encontra-se sem ter para onde ir e acaba passando a noite vagando pelo campus da Universidade de São Paulo. Durante essa noite, Sofia examina sua vida, suas lutas internas e memórias que a confrontam com suas emoções mais profundas. A Cidade Universitária da USP desempenha um papel central no primeiro longa de Pedro Geraldo, quase como um personagem, refletindo o isolamento e a busca da protagonista por pertencimento, enquanto ela lida com sua crise pessoal.
NÃO VAMOS SUCUMBIR
Com imagens históricas e filmagens de três anos, inclusive na pandemia, o documentário de Miguel Przewodowski discute as escolas de samba, fazendo um inventário histórico desde seu surgimento até os dias de hoje, mostrando a força cultural, o significado político e social que faz do carnaval o maior show do planeta.
ASSEXYBILIDADE
Histórias sobre a sexualidade de pessoas com deficiência. O documentário de Daniel Gonçalves (“Meu Nome é Daniel”), que é deficiente, ouve de pessoas com limitações físicas coisas que a sociedade não espera que elas digam e façam, quebrando o mito de que são seres assexuados, angelicais, especiais e, até mesmo, desprovidos de desejos.
JUNG KOOK – I AM STILL
Uma jornada de oito meses pela carreira solo de Jung Kook, integrante do grupo de K-pop BTS, através de entrevistas exclusivas, imagens de bastidores e performances ao vivo.