A programação de cinema oferece filmes para crianças, adultos e eternos adolescentes nesta quinta (5/9). Três títulos se destacam entre os lançamentos com distribuição mais ampla: a continuação “Os Fantasmas Ainda se Divertem – Beetlejuice Beetlejuice”, que retoma personagens dos anos 1980, o reboot “Hellboy e o Homem Torto”, reinvenção da franquia do personagem dos quadrinhos com maior ênfase no horror, e “Vovó Ninja”, aventura infantil estrelada por Gloria Pires. O circuito ainda recebe mais um terror, duas animações – uma delas, brasileira – , dois documentários culturais e um cult ultraviolento. Seguem os detalhes.
OS FANTASMAS AINDA SE DIVERTEM – BEETLEJUICE BEETLEJUICE
“Os Fantasmas Se Divertem” foi um grande sucesso dos anos 1980, rendendo mais de US$ 70 milhões nas bilheterias, um valor alto considerando seu orçamento de US$ 15 milhões. A crítica também adorou o filme, que deu início à filmografia sombria do diretor Tim Burton no cinema. Na comédia original, a família formada por Delia Deetz (Catherine O’Hara), seu marido Charles (Jeffrey Jones) e a filha Lydia (Winona Ryder) se mudava para uma casa mal-assombrada. Mas, para sua sorte, os fantasmas moradores (Alec Baldwin e Geena Davis) eram tão inexperientes que não conseguiam assustá-los para que fossem embora. Por isso, os mortos contratam o experiente e assustador Beetlejuice (Michael Keaton), esperando que ele os livre da infestação de gente viva em sua amada residência. Só que a adolescente Lydia se revela uma garota gótica que adora coisas assustadoras e, sem medo, consegue ludibriar Beetlejuice.
30 anos depois, a antiga casa assombrada volta a ser visitada, quando a família retorna para o funeral de Charles Deetz. A ausência do ator Jeffrey Jones não surpreende, já que ele está afastado de Hollywood desde que foi acusado de possuir pornografia infantil em 2002. Em compensação, o elenco conta com os retornos de Michael Keaton, Winona Ryder e Catherine O’Hara, e ainda é reforçado por Jenna Ortega (“Wandinha”) como Astrid, a filha adolescente de Lydia Deetz, que acaba envolvida num pacto fatal e faz Lydia ter que apelar para Beetlejuice para salvá-la. Novamente dirigido por Tim Burton, a continuação tem roteiro de Alfred Gough e Miles Millar, os criadores de “Wandinha”, e também inclui no elenco Monica Bellucci (“007 Contra Spectre”), Justin Theroux (“A Costa do Mosquito”) e Willem Dafoe (“Pobres Criaturas”).
Michael Keaton, que mal envelheceu um dia em sua maquiagem demoníaco com olhos de panda, parece ter mais energia do que tinha 35 anos atrás, saltando nas paredes do purgatório com um entusiasmo juvenil. O ritmo acelerado, a energia vibrante e o fluxo constante de momentos hilários expressam a alegria que Burton parece ter encontrado ao revisitar este mundo – o que, para quem amou o primeiro filme, é contagiante.
HELLBOY E O HOMEM TORTO
O quarto filme do personagem de quadrinhos “Hellboy” é menos glamouroso que as produções anteriores, assumindo clima de terror barato com um elenco pouco conhecido. A produção é da Millennium Media, que comprou os direitos de “Hellboy” em 2018 e espera que o o novo lançamento possa gerar uma nova série de filmes de sucesso, depois de experimentar a decepção de bilheteria em seu primeiro reboot de 2019, estrelado por David Harbour (“Stranger Things”) no papel-título. Um detalhe importante da produção é que, pela primeira vez na franquia cinematográfica, o roteiro foi escritor por Mike Mignola, criador dos quadrinhos de “Hellboy”. Ele trabalhou na história com seu parceiro nos quadrinhos, Chris Golden.
A trama é um prólogo, que acompanha Hellboy e uma agente novata do Bureau de Pesquisa e Defesa Paranormal (BPRD, na sigla em inglês) presos na zona rural dos Apalaches durante os anos 1950. Lá, eles descobrem uma pequena comunidade assombrada por bruxas e um demônio local com uma conexão preocupante com o passado de Hellboy: o Homem Torto do título. Nos quadrinhos, ele era um homem avarento e aproveitador do século 18 chamado Jeremiah Witkins, que foi enforcado por seus crimes, mas voltou do Inferno como o demônio residente da região. A direção é de Brian Taylor (“Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança”) e o elenco destaca o ator Jack Kesy (“The Strain”) no papel que já foi vivido por Ron Pearlman e David Harbour no cinema.
KILL – O MASSACRE NO TREM
O filme sangrento de Nikhil Nagesh Bhat, conhecido por quebrar barreiras no cinema indiano, não é para os fracos de coração. A produção ultraviolenta se passa numa viagem de trem e acompanha uma dupla de soldados, que enfrenta um exército de bandidos invasores. A ação é brutal, destacando a luta pela sobrevivência em combates corpo a corpo e faca a carne, o que lhe rendeu fama de visceral. A rapidez com que se tornou cultuado lembra o impacto de “Operação Invasão” (The Raid) em 2011. O longa indiano obteve praticamente a mesma aclamação do clássico indonésio por sua violência estilizada e coreografias de luta intensas, culminando em 90% de aprovação no Rotten Tomatoes.
A VINGANÇA DE CINDERELA
O segundo terror trash de Cinderela em 2024 (após “A Maldição de Cinderela”) faz parte da tendência recente de transformar contos de fadas em filmes horrosos. A trama é uma reimaginação sombria da fábula de Cinderela, transformada em uma narrativa violenta. Nesta versão, ao invés de ser uma vítima passiva dos abusos de sua madrasta e irmãs, Cinderela toma as rédeas da situação em suas próprias mãos, buscando vingança contra aqueles que a prejudicaram. A produção é um exemplo do cinema independente que se apropria de histórias conhecidas para criar terrores baratos e derivativos. A direção é de Andy Edwards, que nunca teve um filme avaliado com nota superior a 4 (de 10) no IMDb.
VOVÓ NINJA
Glória Pires vive a vovó do título, que recebe em sua fazenda os três netinhos pequenos, depois de muito tempo sem vê-los. Insatisfeitas por passar as férias em um sítio sem internet, cheio de regras e tarefas domésticas, as crianças acabam se surpreendendo ao descobrir que a avó tem algumas “habilidades fora do comum” após uma tentativa de roubo no local, e decidem descobrir mais sobre o passado misterioso dela. Apesar de conter cenas de ação, o foco do filme é a família, centrado na relação da vovó com os netos. O elenco também destaca a filha de Gloria, Cleo, marcando a terceira produção que elas compartilham – após a minissérie “Memorial de Maria Moura” (1994) e o filme “Lula, o Filho do Brasil” (2009). A produção ainda marca um reencontro de Gloria com o diretor Bruno Barreto, mais de uma década após a parceria em “Flores Raras” (2013).
ZUZUBALÂNDIA
O longa animado é uma expansão do universo criado no livro infantil e nas séries de Mariana Caltabiano, que mantém a essência divertida e colorida do mundo onde alimentos e personagens animados vivem juntos. Para salvar o reino encantado de Zuzubalândia, onde tudo é feito de comida, a abelhinha Zuzu tem que enfrentar a Bruxa Anoréxica, que, disfarçada de influenciadora, convence as demais abelhas a pararem de polinizar e seguirem profissões como youtubers, designers de sobrancelha e professoras de ioga. A nova aventura mantém a atmosfera cativante que fez a série ser tão popular entre o público infantil, e como sempre é escrita e dirigida por Caltabiano.
CORRIDA MALUCA
A animação com bichos falantes é uma coprodução internacional que envolveu mais de 200 artistas em várias localizações, entre Montreal, no Canadá, e Mumbai, na Índia. A história segue Zhi, um jovem loris lento, que participa de uma corrida de carros pela antiga Rota da Seda, na Ásia, para salvar sua vila rural de um vilão. Roteiro e direção são de Ross Venokur, que trabalhou na série clássica “The Tick”.
BLACK RIO BLACK POWER
Em seu novo documentário, o diretor Emílio Domingos traça o impacto dos bailes soul e do movimento Black Rio na música, na cultura e na luta por justiça racial no Brasil dos anos 1970. A obra inclui imagens históricas da época e depoimentos dos organizadores e frequentadores dos primeiros bailes black do Rio de Janeiro. E chega exatamente um ano depois de Domingos lançar uma série documental na Globoplay sobre os bailes black do Chic Show em São Paulo. Num trabalho de registro quase antropológico da cultura urbana brasileira, o cineasta também já filmou a dança (“A Batalha do Passinho: O Filme”), os cabelos (“Deixa Na Régua”) e a moda das favelas (“Favela É Moda”).
OTHELO, O GRANDE
O documentário celebra a carreira de Grande Othelo, comediante que marcou época e se tornou um dos atores mais renomados do Brasil no século 20. Negro, órfão e neto de escravizados, ele desafiou o racismo estrutural ao eternizar seus personagens no cinema e na TV, abrindo caminhos para as futuras gerações de artistas negros. O primeiro longa de Lucas H. Rossi dos Santos oferece uma visão íntima e pessoal do homem que se tornou um ícone, deixando um legado inestimável na cultura brasileira.