O penúltimo dia do Rock in Rio, celebrado como o Dia Brasil, foi marcado por atrasos significativos que impactaram toda a programação do Palco Mundo e estenderam o evento até quase às 4h da manhã deste domingo (22). O show Para Sempre Trap, previsto para começar às 15h30, aconteceu quase às 17h, com cerca de uma hora e meia de atraso. A demora provocou vaias e coros de “vergonha” do público jovem, ansioso para assistir às performances de grandes nomes do trap, e gerou um efeito em cadeia que empurrou a programação para muito mais tarde que o previsto.
Quando Cabelinho, Filipe Ret, Kayblack, Matuê, Orochi e Veigh subiram ao palco, o entusiasmo foi prejudicado pela demora. Além disso, problemas técnicos marcaram a apresentação, que chegou a ser interrompida. As mesmas falhas de som acompanharam todos os demais shows do Palco Mundo, que deixaram a plateia insatisfeita em diversos momentos.
Rap e samba no Palco Sunset
O Palco Sunset abriu com o show Para Sempre Rap, que reuniu alguns dos maiores nomes do rap nacional. Marcelo D2, Criolo, Djonga, Karol Conká e Rael dividiram o palco para uma celebração poderosa do gênero. Em um dos momentos mais intensos da apresentação, Djonga comandou a plateia ao som de “Olho de Tigre”, com o verso “fogo nos racistas”, que incendiou o público. Karol Conká, única mulher do grupo, aproveitou a oportunidade para homenagear pioneiras do rap feminino, como Negra Li, Dina Di, Tássia Reis e Flora Matos. A apresentação foi marcada por discursos sobre racismo e resistência, com Criolo e Marcelo D2 reforçando a importância do rap como ferramenta de transformação social.
Em contraste, a roda de samba que reuniu Zeca Pagodinho, Alcione, Diogo Nogueira, Jorge Aragão, Maria Rita e Xande de Pilares foi a que menos contagiou a plateia. Apesar disso, teve um momento emocionante, quando imagens de grandes nomes do samba, como Beth Carvalho, Dona Ivone Lara e Martinho da Vila, foram exibidas nos telões, homenageando os ícones do gênero.
Para Sempre Funk celebra pioneiros do gênero
No Espaço Favela, o público acompanhou a história do funk carioca com pioneiros como Buchecha, Cidinho & Doca, MC Carol e Tati Quebra Barraco. A apresentação Para Sempre: Baile de Favela teve início com apenas 30 minutos de atraso, uma das menores esperas do dia, e foi marcada por sucessos dos anos 2000, que transformaram o espaço em um verdadeiro baile funk, com hits como “Nosso Sonho”, “Só Quero É Ser Feliz” e “Rap das Armas”. O encerramento foi feito por Kevin O Chris, que animou o público com hits mais recentes, como “Dentro do Carro” e “Evoluiu”.
Em seguida, veio outro baile, desta vez com funkeiros paulistanos, incluindo MC Livinho, MC Don Juan, MC Dricka, MC Hariel, MC IG e MC PH, que curiosamente animou mais o público carioca que as pratas da casa, graças a um repertório repleto de sucessos populares mais recentes, garantindo que o público permanecesse dançando e cantando durante toda a apresentação.
Para Sempre MPB vira show de rock
O show Para Sempre MPB foi o segundo a acontecer no Palco Mundo. A apresentação foi aberta por Ney Matogrosso, aos 83 anos, com… balada de rock. A música “Poema”, uma canção de Cazuza e Frejat, foi reverenciado pelo público que, além dos atrasos, enfrentou uma chuva leve. Sua performance começou em ritmo mais contido, mas ganhou força com outro rock, “Balada do Louco”, de Rita Lee e Arnaldo Baptista, libertando a emoção da plateia.
Ney terminou seu show de rock no palco da MPB com “Pro Dia Nascer Feliz”. Zeca Baleiro assumiu a sequência no mesmo tom, com “Heavy Metal do Senhor” e homenageando Charlie Brown Jr. com sua releitura de “Proibida pra Mim (Grazon)”. Gaby Amarantos, em trajes esfuziantes, levou seu brega estilizado ao palco com “Ex Mai Love”, comemorando ser a primeira paraense a cantar no Palco Mundo. Majur e Gaby fizeram um dueto vibrante em “Xirley”, e Majur levou o público à apoteose com… rap. Ela cantou “AmarElo”, hit de Emicida. O encontro inédito entre Majur e a banda de dub rock BaianaSystem na poderosa “Capim Guiné” deu ao show uma energia intensa, destacando o afropunk da… MPB? Carlinhos Brown e Daniela Mercury fecharam a apresentação em clima de festa baiana, mas também não faltaram citações de rock, como “Uma Brasileira”, pareceria de Carlinhos com os Paralamas do Sucesso. O final com a rainha do axé foi um verdadeiro carnaval, com direito ao hino “O Canto da Cidade” em formato de samba-enredo.
Para Sempre Pop traz duetos marcantes
O show Para Sempre Pop compensou os atrasos e falhas técnicas com parcerias impactantes. Lulu Santos abriu com “Tempos Modernos”, mas sua performance foi prejudicada pelo som mais potente do Palco Mundo, onde Daniela Mercury ainda se apresentava no Para Sempre MPB. Mesmo assim, Lulu brilhou em dueto com Luísa Sonza em “Como Uma Onda”.
Mais integrada que as demais, a apresentação seguiu uma estrutura de duetos. Jão e Luísa Sonza dividiram os vocais em “Malandragem”, hit de Cássia Eller, enquanto Jão e Duda Beat emocionaram o público com “Como Eu Quero”, do Kid Abelha. Ivete Sangalo e Gloria Groove fecharam a apresentação com uma versão poderosa de “Não Quero Dinheiro”, de Tim Maia.
Cancelamento de Luan Santana e karaokê sertanejo
Um dos principais impactos dos atrasos foi o cancelamento de Luan Santana, que estava programado para se apresentar no show Para Sempre Sertanejo ao lado de Chitãozinho e Xororó, Ana Castela, Simone Mendes e Junior. Luan teve que cancelar sua participação devido a um compromisso com um show em Santa Catarina na mesma noite. O cantor só havia confirmado sua presença sob o compromisso de que não haveria atrasos, mas com o show sendo remarcado para 22h40, ele foi forçado a se retirar.
Mesmo sem Luan, Chitãozinho e Xororó, Ana Castela e os demais artistas mantiveram a energia, conduzindo a multidão em uma verdadeira celebração da música sertaneja. O ponto alto foi o clássico “Evidências”, que transformou o festival em uma grande festa de karaokê, com o público cantando junto a plenos pulmões.
Para Sempre Rock in Rio
O ritmo que batiza o Rock in Rio foi o mais prejudicado pelo acúmulo de problemas, terminando sua apresentação quase às 4 horas da manhã. Entretanto, também foi o que mais animou o público, demonstrando que o rock tem realmente mais a ver com o festival. A entrada de Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, conseguiu reviver a energia de um público que já havia enfrentado chuvas e muita demora. “Natasha” e “A Sua Maneira” arrancaram coros emocionados, com as pulseirinhas de LED iluminando o público enquanto imagens de fãs chorando eram exibidas no telão. Curiosamente, os artistas veteranos optaram por músicas lentas. O reggae romântico de Garrido, com canções como “A Estrada”, transformou brevemente o clima, para alegria dos casais presentes.
Pitty foi a responsável por retomar a força do rock, ainda que com a balada “Equalize”, mas Rogério Flausino, do Jota Quest, voltou a deixar o show romântico. Coube aos mais novos, Detonautas e Nx Zero, representarem o rock mais enérgico. Tico Santa Cruz e Di Ferrero levantaram a plateia com “Outro Lugar” e “Só Rezo”, criando uma atmosfera de celebração e animação, com direito a rodinhas de pogo e cerveja lançada ao ar.
No encerramento, os artistas se reuniram para uma versão de “Por Enquanto”, de Cássia Eller. Apesar das falhas técnicas ao longo da apresentação, o setlist composto por clássicos do rock nacional sustentou a energia do público até o final. Mesmo após as 3h40 da madrugada, os gritos de “eu não vou embora” ecoaram pelo Rock in Rio, deixando no ar a emoção que só o rock pode proporcionar.