Diversos astros de Hollywood estão pedindo que o Sindicato dos Atores dos Estados Unidos, SAG-AFTRA, projeta seus membros e impeça que sejam colocados numa lista negra por demonstrarem apoio à Palestina. Em carta-aberta, eles mencionam a ausência de apoio e dificuldades de comunicação com o comando do Sindicado, além de apontar que um documento pedindo cessar-fogo na Faixa de Gaza foi desconsiderado pela organização.
O abaixo-assinado traz nomes de mais de 700 atores, incluindo Mark Ruffalo (“Pobres Criaturas”), Ramy Youssef (“Papai em Apuros”), Susan Sarandon (“Besouro Azul”), Melissa Barrera (“Pânico”), Cynthia Nixon (“Sex and the City”), Riz Ahmed (“O Som do Silêncio”), Common (“Silo”), Busy Philipps (“Eu Nunca”), Griffin Dunne (“This Is Us”), Kendrick Sampson (“Insecure”), Indya Moore (“Pose”), Sara Ramirez (“Grey’s Anatomy”) e muitos outros.
Sindicato apoiou Israel
Em sua manifestação, o grupo de atores insatisfeitos lembrou que sindicato fez uma declaração pró-Israel em outubro passado, quando os terroristas do Hamas invadiram o país, mataram e sequestraram civis, afirmando que “condena os atos horríveis de agressão contra o povo israelense”. Eles alertam que, desde então, o comando do sindicato e de outras associações assistiram sem reação ao “governo israelense travar uma guerra de punição coletiva contra a população civil de Gaza — matando mais de 40 mil palestinos, ferindo mais de 90 mil, deslocando à força 2 milhões de pessoas e alvejando abertamente membros da imprensa e suas famílias”.
Além disso, os atores destacam que civis estão morrendo de “fome, desidratação e falta de suprimentos médicos e combustível” em Gaza, e que “grandes grupos de direitos humanos rotularam esses atos como crimes de guerra e até mesmo genocídio”, como foi o caso da ONU, que lamentavelmente descreveu a região como um “cemitério para crianças”.
Antes de finalizar o documento, os integrantes pediram que a presidente do sindicato, Fran Drescher, e outros líderes de associações de Hollywood peçam um cessar-fogo imediato e permanente em Gaza, e que protejam seus membros de serem impedidos de expressar opiniões pró-Palestina, bem como condenem a violência contra jornalistas.
Atores sofrem retaliação
Desde que começaram a denunciar os crimes cometidos na faixa de Gaza, atores tem sido demitidos e perderam projetos, como foi o caso de Melissa Barrera, dispensada da franquia “Pânico” e rotulada como antissemita pelo estúdio Spyglass, sem que o sindicato fizesse nada.
O ator Amin El Gamal (“Breaking Fast”) afirmou que tem sido “ignorado por meses” pelo comando do SAG-AFTRA, embora ele seja presidente de um comitê da entidade. Ele ainda comentou que recebeu ligações “em voz baixa” de funcionários, que prometeram reuniões e nunca as cumpriram. “Como você pode lamentar a perda de alguns tipos de pessoas [israelenses] e não de outras [palestinos], especialmente quando você tem uma associação tão diversa? Você não consegue fazer cosplay de equidade e inclusão, e então abandonar seus membros mais vulneráveis”, ele declarou, em tom indignado, ao The Hollywood Repórter.
Além dele, a atriz Sarah Alami (“Guardiões da Galáxia”) avaliou que o “apagamento e difamação dos palestinos não são nenhuma novidade”, pois ela mesma já enfrentou discriminação ao longo da carreira. “Pessoas que demonstram apoio à Palestina e aos direitos humanos são recebidas com retaliação”, afirmou ela.
Um artista que não quis se identificar disse ao THR que ele e seus representantes sofreram retaliação por defender a vida de palestinos. “Recebemos uma enxurrada de e-mails de ódio, alguns de produtores conhecidos. Fiquei com medo pela minha carreira e pela segurança da minha família. É dever do nosso sindicato nos proteger desse novo macartismo, especialmente quando estamos falando pelos direitos humanos e por nossos colegas de trabalho. Tem sido um silêncio ensurdecedor”, lamentou.
Desencanto com os rumos do SAG
Outro membro do conselho, Gabriel Kornbluh (“Revisions”), considerou que o desprezo do SAG-AFTRA nos últimos meses encerrou toda boa-fé que os líderes sindicais conquistaram durante a greve dos atores no ano passado. “Estou perdendo a fé na capacidade da presidente Fran Drescher de liderar nossa união por um caminho equitativo”, disse ele, referindo-se à protagonista da série clássica “Nanny”, que foi reeleita ao cargo após conduzir com sucesso a greve recente.
Fran Descher é de família judaica.