A volta do terror espacial “Alien” é o único lançamento amplo desta quinta (15/8), e também o melhor – é de fato uma das melhores estreias do ano. “Alien: Romulus” representa uma surpresa completa para quem não esperava nada e um susto enorme para quem tem os primeiros filmes da franquia em alta estima. Basta dizer que, depois de “Alien” (1979) e “Aliens” (1986), a saga enfim ganhou uma continuação à altura de seu legado.
Apesar da ênfase na nova produção da Disney, os cinemas recebem mais 10 filmes inéditos, metade deles brasileiros. Além disso, a programação ainda vai exibir sessões limitadas de dois títulos bem conhecidos do grande público: a animação “Coraline” (2009) e a comédia gótica “Beetlejuice” (1986), antigamente conhecida como “Os Fantasmas se Divertem”. Esta reexibição acontece como preparação para a chegada da sequência “Bettlejuice Bettlejuice – Os Fantasmas Ainda se Divertem” em setembro. Veja abaixo quais são os filmes inéditos da semana.
ALIEN: ROMULUS
Quase ninguém apostava na volta da franquia “Alien” aos cinemas, muito menos que o resultado pudesse ser bom. E é por isso que “Alien: Romulus” é a maior surpresa de 2024. Um dos melhores lançamentos do ano e da saga, “Romulus” é a extensão perfeita do horror sci-fi do original de Ridley Scott, mas também não deixa para trás a ação eletrizante da sequência de James Cameron. A narrativa se inclina fortemente para as origens de terror ao criar uma experiência visceral e implacável, que começa lentamente e vai aumentando sua intensidade até tomar todo o fôlego do público em seu ato final. Cailee Spaeny como Rain é uma personagem perfeita para seguir nesta jornada, mas com as reviravoltas o espectador dificilmente será capaz de saber para onde a história se dirige. O terceiro ato é verdadeiramente insano. Fede Álvarez entregou um dos títulos mais arrepiantes de “Alien”, cheio de pavor, tensão e entranhas.
O cineasta uruguaio também assina o roteiro com Rodo Sayagues, seu parceiro em “O Homem nas Trevas” (2016) e “A Morte do Demônio” (2013). Na trama, Romulus é o nome de uma antiga estação espacial que um grupo de jovens rebeldes decide pilhar, apenas para se ver cercado por alienígenas sugadores de rosto em corredores escuros. Um dos ataques é particularmente explícito, em termos sexuais, enquanto outro recria de forma impactante a cena clássica do tórax invadido prestes a explodir. Não demora e os monstros também aparecem em sua forma “adulta”, ampliando o pânico.
O elenco é formado por Cailee Spaeny (“Guerra Civil”), Isabela Merced (“Dora e a Cidade Perdida”), David Jonsson (“Industry”), Archie Renaux (“Sombra e Ossos”), Spike Fearn (“Conte Tudo para Mim”) e Aileen Wu (“Away from Home”). Todos jovens, num contraste com os outros filmes, que se concentraram em adultos em papéis corporativos, militares e científicos.
OS INSEPARÁVEIS
A animação franco-belga poderia ser descrita como um “Toy Story” de baixo orçamento – e há até uma conexão, já que o roteirista Joel Cohen foi um dos seis autores do filme original da Pixar. A comparação, porém, também reforça que o filme de 1995 já tinha uma qualidade técnica bastante superior ao lançamento atual do diretor Jérémie Degruson (“A Mansão Mágica”).
A história segue as desventuras de dois amigos improváveis: uma marionete de Dom Quixote com uma imaginação sem limites e um cachorro rapper de pelúcia abandonado que precisa de um amigo. Eles se encontram no Central Park, principal parque de Nova York, e, contra todas as probabilidades, unem-se para uma aventura na cidade, quando Dom tem a chance de virar um herói de verdade e salvar outros marionetes de ladrões que os roubaram com a intenção de vendê-los.
PRINCESA ADORMECIDA
A comédia infantil brasileira é baseada no livro homônimo de Paula Pimenta e segue o formato de um conto de fadas moderno, com princesinha que corre perigo e, por algum motivo, os tiozões de “Três É Demais”. A história acompanha Anna Rosa, uma adolescente aparentemente normal, que é protegida de forma rigorosa por seus três tios. Aos 15 anos, ela descobre que é mais que uma simples jovem que vai à escola, se diverte com sua melhor amiga e troca mensagens com o seu crush. Na verdade, seu nome é Áurea e ela é um princesa adormecida, que de uma hora para outra se vê alvo de uma vilã vingativa, que coloca sua vida em risco.
Este é a segundo roteiro de Bruno Garotti e Marcelo Saback inspirado nas fábulas de Paula Pimenta. Em 2019, Maisa virou a “Cinderela Pop” e, por sinal, “Princesa Adormecida” se passa no mesmo universo, trazendo Maisa de volta ao papel de DJ Cinderela, numa participação especial. Já a nova princesinha é vivida por Pietra Quintela (“Poliana Moça”), que contracena com Patrícia França (“Malhação”), Aramis Trindade (“Justiça”), Claudio Mendes (“Novela”), René Stern (“Gaby Estrella”), Guilherme Cabral (“Nos Tempos do Imperador”), Lívia Silva (“Um Ano Inesquecível: Primavera”) e Juliana Knust (“Malhação”). A direção é de Cláudio Boeckel (“As Aventuras de Poliana – O Filme”).
MEU FILHO, NOSSO MUNDO
O drama com elementos de comédia explora a complexa relação entre Max Bernal (Bobby Cannavale, de “Bem-Vindos à Vizinhança”), um ex-roteirista de comédia noturna que se torna um comediante de stand-up, e seu filho autista de nove anos, Ezra (William Fitzgerald). Após enfrentar uma série de dificuldades na carreira e no casamento, Max decide sequestrar seu filho e embarcar em uma viagem pelo país, na tentativa de se reconectar e encontrar uma solução para os desafios que enfrentam juntos.
O filme estreou no Festival Internacional de Cinema de Toronto passado e recebeu críticas mistas, mas foi elogiado pela honestidade e pela profundidade emocional na representação das relações familiares. A produção teve um cuidado especial em retratar a neurodiversidade de forma autêntica, contando com atores e membros da equipe que têm experiência direta com o autismo.
A direção é de Tony Goldwyn, mais conhecido por seu trabalho como ator – esteve, por exemplo, no filme vencedor do Oscar 2024, “Oppenheimer”. Ele também integra o elenco grandioso da produção, que inclui Robert De Niro (“Assassinos da Lua das Flores”) como Stan, o pai de Max, Rose Byrne (“Physical”) como Jenna, ex-esposa de Max, além de Vera Farmiga (“Invocação do Mal”), Rainn Wilson (“The Office”) e Whoopi Goldberg (“Harlem”) em papéis coadjuvantes.
O DIABO NA RUA NO MEIO DO REDEMUNHO
Depois de estrelar a estilização distópica de “Grande Sertão”, Caio Blat volta ao papel de Riobaldo numa nova adaptação do clássico literário “Grande Sertão: Veredas”, de João Guimarães Rosa. Dirigido por Bia Lessa, que é mais conhecida por seus trabalhos no teatro que no cinema, o longa segue uma abordagem experimental que utiliza recursos de cenografia minimalista, coreografia e encenação teatral para recriar o ambiente do sertão. De fato, a obra é uma extensão da adaptação teatral de “Grande Sertão: Veredas”, que Bia Lessa dirigiu em 2017 com quase três horas de duração.
O título “O Diabo na Rua, no Meio do Redemunho” foi escolhido para capturar a essência da obra de Guimarães Rosa, focando na luta entre forças antagônicas, uma característica central da narrativa original. A escolha também reflete uma frase marcante do livro, que ressoa com a atmosfera do filme.
Caio Blat vive o jagunço Riobaldo, que relembra sua trajetória no sertão, abordando sua juventude turbulenta, suas experiências no cangaço e o momento em que assume a liderança de seu grupo. A narrativa é marcada por reflexões filosóficas e pela complexidade das emoções de Riobaldo em relação ao misterioso Diadorim, seu amigo e amor, interpretado por Luiza Lemmertz (“Na Selva das Cidades”).
“O Diabo na Rua, no Meio do Redemunho” foi exibido em festivais importantes como o Festival do Rio e a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, recebendo elogios pela sua abordagem poética e visualmente impactante da obra literária
O MENSAGEIRO
A ditadura militar brasileira é tema do cinema de Lucia Murat desde o documentário “Que Bom Te Ver Viva” (1989), e está no âmago de obras tão diferentes quanto “Quase Dois Irmãos” (2004) e “A Memória que me Contam” (2012). Em seu novo drama, a cineasta, que foi prisioneira política, incorpora elementos de sua própria experiência no roteiro, escrito em parceria com Tunico Amâncio. A trama ambientada em 1969 segue a história de Vera, interpretada por Valentina Herszage (“Fim”), uma prisioneira política que enfrenta a tortura nos porões da ditadura. Vera conhece Armando, um jovem soldado interpretado por Shico Menegat (“Tinta Bruta”), que decide levar mensagens dela para sua família, criando um vínculo afetivo com a mãe de Vera, Maria, interpretada por Georgette Fadel (“Aruanas”).
A história é baseada no que aconteceu com a própria diretora, que ficou três anos e meio encarcerada, período no qual sofreu torturas e foi dada como desaparecida. Sua família só ficou sabendo de seu paradeiro porque um dos soldados da prisão aceitou levar uma mensagem clandestina, exatamente como faz o personagem de Menegat. Exibido no Festival do Rio do ano passado, o filme se destacou com elogios por sua profundidade e abordagem sensível dos horrores da ditadura.
REVOADA – ÚLTIMA VINGANÇA DO CANGAÇO
O longa de José Umberto Dias (“O Anjo Negro”) tem bastidores tão dramáticos quanto o próprio filme. O original é de 2008, mas na época das filmagens o diretor ficou doente e o produtor tomou a frente, montando como quis. Após muita luta, Dias recuperou as cópia e lançou sua “versão do diretor” no Festival de Tiradentes de 2014. Agora, finalmente, a reedição ganha melhor acabamento e lançamento comercial.
O drama de época se passa após a morte de Lampião, o lendário líder dos cangaceiros. A trama acompanha um grupo de cangaceiros composto por duas mulheres e oito homens, que ficam desnorteados com a morte de seu líder e enfrentam um dilema entre se render ou buscar vingança. A polícia e a angústia os perseguem pelo interior do Nordeste, enquanto eles lutam para decidir seu próximo passo.
FAMÍLIA
O drama de Izuru Narushima (“Renascimento”) explora a vida de uma comunidade brasileira no Japão. Após um acidente de carro, um jovem brasileiro é acolhido por uma família japonesa, e a narrativa mostra como os laços familiares podem transcender nacionalidades e diferenças culturais, destacando a integração e os desafios enfrentados por imigrantes. O elenco é formado por integrantes da comunidade “burajirujin” no Japão, que não são atores profissionais, numa opção por maior autenticidade. Mas, por conta disso, as filmagens envolveram intensas preparações, com os atores passando por meses de treinamento para viverem seus personagens de forma convincente.
“Família” também se destaca por sua cinematografia, que contrapõe a vida na cidade com a beleza natural da região de Aichi, no Japão. Este contraste sublinha a experiência de imigração e a busca por identidade e pertencimento em um país estrangeiro.
O AUGE DO HUMANO 3
A obra experimental dirigida pelo argentino Eduardo Williams é uma continuação livre de “O Auge do Humano” (2016). E o detalhe curioso é que o filme não tem uma sequência intitulada “O Auge do Humano 2”, indicando que a numeração é mais uma escolha estilística do diretor do que uma sequência tradicional. A produção segue grupos de amigos de diferentes partes do mundo que interagem em seus momentos de folga do trabalho, com o diretor utilizando uma câmera de 360 graus para capturar a fluidez entre espaços e sensações. O filme foi rodado em Taiwan, Sri Lanka e Peru, destacando a beleza das interações humanas e a busca por uma utopia queer.
Premiado nos festivais de San Sebastian e Indie-Lisboa, o longa foi elogiado pela sua ousadia e abordagem única de sua filmagem, especialmente pela habilidade de Williams em transformar a experiência de assistir ao filme em uma jornada hipnótica e imersiva, misturando o esplendor natural com a sensualidade humana.
LIVRE
O documentário dirigido por Santos Blanco explora a vida monástica em 12 mosteiros na Espanha, oferecendo uma visão rara e íntima das pessoas que escolheram a vida contemplativa. O filme leva os espectadores aos interiores desses locais, onde os moradores dedicam suas vidas à oração e ao silêncio, renunciando ao mundo exterior. A produção destaca a busca pela liberdade interior e a conexão espiritual em contraste com o mundo moderno obcecado por tecnologia e ruído.
O CONTATO
O diretor Vicente Ferraz (“A Estrada 47”) registra a vida de três famílias indígenas das etnias Yanomami, Arapaso e Hupda na região de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. O documentário retrata como esses grupos lidam com os impactos do contato com a sociedade não indígena, destacando suas travessias entre aldeias e a cidade, as influências culturais, e os desafios de manter suas tradições e línguas vivas em meio à modernidade. Explorando a diversidade linguística e cultural da região conhecida como Cabeça do Cachorro, na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Venezuela, o filme também toca em temas atuais e urgentes, como a crise humanitária dos Yanomami, destacando as consequências das ações de garimpeiros e a necessidade de preservação cultural e territorial.