Estreias | Cinemas recebem “O Corvo” e outros destaques

Programação oferece variedade de opções, como o terror "Pisque Duas Vezes", o filme de arte "Tipos de Gentileza", o drama nacional "Motel Destino" e o infantil "Harold e o Lápis Mágico"

Divulgação/Lionsgate

Os cinemas começam a exibir mais uma adaptação de quadrinhos nesta quinta (22/8): o remake de “O Corvo”, que não terá um lançamento tão amplo devido à enorme concorrência da semana. A programação também inclui o terror “Pisque Duas Vezes”, estreia da atriz Zoe Kravitz (“Batman”) na direção, o infantil “Harold e o Lápis Mágico”, primeiro filme live-action do diretor brasileiro Carlos Saldanha (de “Rio” e “A Era do Gelo”), o esquisito “Tipos de Gentiliza”, nova obra de arte da dupla formada pela atriz Emma Stone e o diretor Yorgos Lanthimos (ambos de “Pobres Criaturas”), e o drama nacional “Motel Destino”, de Karim Aïnouz (“A Vida Invisível”), exibido no Festival de Cannes deste ano. Confira a seguir mais detalhes, incluindo os títulos do circuito limitado.

 

O CORVO

 

O remake emo do filme cult dos anos 1990 é marcado por violência extrema e o capricho visual característico dos filmes de Rupert Sanders – diretor de “A Vigilante do Amanhã – Ghost in the Shell” (2017) e “Branca de Neve e o Caçador” (2012). Tanto a versão original de 1994, estrelada pelo falecido Brandon Lee, quanto a nova adaptação são baseadas na graphic novel homônima de James O’Barr, e ambas tomam liberdades com a história, embora a atual vá mais longe. Na refilmagem, Bill Skarsgård (“Noites Brutais”) interpreta Eric Draven, que é assassinado ao lado de sua namorada Shelly (a cantora FKA Twigs) por criminosos que invadem seu lar. Vagando em um limbo entre a vida e a morte, Eric recebe a chance de voltar ao plano terreno e executar uma vingança contra seus assassinos. Para isso, ele retorna diferente, podendo resistir a tiros, explosões e facadas. Numa das cenas, Eric atira através de seu próprio peito para derrubar um agressor e remove uma espada fincada em seu corpo para terminar o trabalho.

Os quadrinhos de James O’Barr eram puro suco gótico. Mas para acompanhar as tendências dos últimos anos, foram adicionados muitos elementos à la “John Wick” na nova adaptação, que minam parcialmente a mensagem original.

A versão original de “O Corvo” foi dirigida por Alex Proyas e apresentou a estrela em ascensão Brandon Lee, filho de Bruce Lee, como Eric Draven. Durante a produção, Lee morreu durante uma cena com tiros – supostamente – de festim no set do filme. Sua trágica morte aos 28 anos provocou um clamor e lançou uma sombra sobre o filme, mas ele foi eventualmente concluído e distribuído pela Miramax. A história tornou o filme amaldiçoado, pelo menos para o estúdio Relativity, que faliu enquanto desenvolvia o projeto do atual remake, sem recuperar os gastos. A empresa gastou mais de US$ 20 milhões com a pré-produção sem ter filmado uma cena sequer – foram gastos em desenvolvimento, roteiros não filmados, adiantamentos de contratos, reserva de estúdios, locações etc, tudo perdido. Para recuperar parte das despesas, os direitos de filmagem foram vendidos vendidos a um preço muito baixo para os atuais produtores.

O resgate da franquia seria originalmente dirigido por Stephen Norrington (“A Liga Extraordinária”) e estrelado por Mark Wahlberg (“Transformers: O Último Cavaleiro”), os primeiros a desistirem há 12 anos. Seus substitutos, o ator Bradley Cooper (“Maestro”) e o diretor Juan Carlos Fresnadillo (“Extermínio 2″), foram, respectivamente, substituídos por Luke Evans (“Drácula – A História Nunca Contada”) e F. Javier Gutierrez (“3 Dias”). Jack Houston (“Ben-Hur”) virou a opção seguinte, antes de Jason Momoa (“Aquaman”) se candidatar, sob direção de Corin Hardy – que na época tinha apenas um longa em seu currículo, o terror “A Maldição da Floresta”.

O roteiro que Hardy ia filmar tinha sido escrito por Jesse Wigutow (“Acontece Nas Melhores Famílias”), que também era responsável por escrever a sequência abortada de “Tron: O Legado” (2010). Mas o estúdio não ficou satisfeito e encomendou outra nova para o roqueiro Nick Cave (!!!) e Cliff Dorfman (“Guerreiro”). Só que Momoa e Hardy desistiram da produção poucas semanas antes da data marcada para o início das filmagens. Com isso, o projeto chegou na configuração final, estrelada por Bill Skarsgård, dirigida por Rupert Sanders e escrita por Zach Baylin, indicado ao Oscar por “King Richard” (2022).

Assim como o personagem, o filme de “O Corvo” insistiu muito para voltar à vida após ser dado como morto. Críticos tem dúvida e o público vai decidir se valeu a pena tanta determinação.

 

PISQUE DUAS VEZES

 

O terror que marca a estreia da atriz Zoë Kravitz (“Batman”) na direção de longa-metragens traz Channing Tatum (“Magic Mike”) como um bilionário do ramo de tecnologia, que compra uma ilha e convida duas mulheres desconhecidas para se juntarem a ele e alguns amigos ricos numa festa privada no local. Inicialmente, tudo parece prazeroso, mas um clima estranho logo se manifesta, conforme os convidados percebem que a estadia se estende, esquecem coisas e até desaparecem, culminando em derramamento de sangue e um mistério mortal sobre o que estaria acontecendo.

Para sua estreia na direção, Kravitz reuniu um elenco impressionante. Além de Tatum, o filme conta com Naomi Ackie (“Master of None”), Christian Slater (“Mr. Robot”), Simon Rex (“Red Rocket”), Adria Arjona (“Morbius”), Kyle MacLachlan (“Fallout”), Geena Davis (“Thelma e Louise”), Haley Joel Osment (“O Sexto Sentido”) e Alia Shawkat (“Search Party”).

Kravitz também escreveu o roteiro com E.T. Feigenbaum (seu parceiro em “Alta Fidelidade”), que foi bastante elogiado pela imprevisibilidade. A crítica americana amou, dando 81% de aprovação no Rotten Tomatoes.

 

TIPOS DE GENTILEZA

 

Emma Stone volta a se reunir com o diretor Yorgos Lanthimos após vencer o Oscar pelo último trabalho da parceria, “Pobres Criaturas” (2023), e o resultado é um filme hermético, que desafia a perplexidade do espectador. O projeto é uma fábula tríptica, que segue três personagens: um homem submisso ao patrão opressivo, que tenta assumir o controle de sua própria vida; um policial que está alarmado, porque sua esposa desaparecida no mar voltou e parece uma pessoa diferente; e uma mulher determinada a encontrar alguém específico com uma habilidade especial, que esteja destinado a se tornar um líder espiritual prodigioso. As histórias são distintas, mas os atores são os mesmos em todas elas, interpretando personagens diferentes.

Emma Stone, que também trabalhou com o cineasta em “A Favorita” (2018), encabeça o elenco ao lado de Jesse Plemons (“Ataque dos Cães”) e outros dois atores de “Pobres Criaturas”, Willem Dafoe e Margaret Qualley. A produção ainda inclui Joe Alwyn (que também trabalhou em “A Favorita”), Hong Chau (“A Baleia”), Mamoudou Athie (“Arquivo 81”) e Hunter Schafer (“Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes”).

Lanthimos co-escreveu o roteiro com o conterrâneo grego Efthimis Filippou, seu colaborador em “O Sacrifício do Cervo Sagrado” (2017), “O Lagosta” (2015) e “Dente Canino” (2009), mantendo o tom perturbador e repleto de absurdos dos três longas anteriores. A crítica aprovou (71% no Rotten Tomatoes), mas o público não entendeu nada (46% no mesmo site de avaliações).

 

MOTEL DESTINO

 

O novo longa de Karim Aïnouz (“A Vida Invisível”) incorpora o cenário e a atmosfera nordestina para contar a história de um motel de beira de estrada que, sob o calor implacável da região, é palco de jogos perigosos de desejo, poder e violência. Uma noite, a chegada de um jovem, interpretado pelo estreante Igor Xavier, muda completamente o cotidiano e o destino do motel. Heraldo, o jovem periférico, se esconde no motel para tentar se livrar de uma dívida. Lá, ele conhece Dayana, casada com Elias, um homem violento, iniciando um triângulo perigoso. A premissa é de filme noir clássico, mas com sex toys.

O elenco também inclui Nataly Rocha (“Segunda Chamada”) e Fabio Assunção (“Onde Está Meu Coração”). Lançado mundialmente no último Festival de Cannes, a produção dividiu opiniões e ficou com 64% de aprovação no Rotten Tomatoes.

 

HAROLD E O LÁPIS MÁGICO

 

A adaptação do livro clássico de Crockett Johnson, dirigida pelo brasileiro Carlos Saldanha (“Rio” e “A Era do Gelo”), acompanha um personagem de livro infantil, o aventureiro Harold (Zachary Levi, de “Shazam!”), que dentro de sua história pode dar vida a qualquer coisa simplesmente desenhando-a. Quando cresce, ele desenha uma porta para o mundo real, onde é atropelado pela vida, na forma de Zooey Deschanel (“New Girl”). A habilidade de Harold de usar seu lápis roxo para dar vida a qualquer coisa ainda funciona no mundo real, criando muitas confusões. Mas quando o poder da imaginação ilimitada cai nas mãos erradas, Harold e seus amigos, incluindo Alce (Lil Rel Howery, de “Free Guy”) e Porco-espinho (Tanya Reynolds, de “Sex Education”), devem usar toda a sua criatividade para salvar o mundo.

Saldanha chegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Animação por “Ferdinando”, mas sua estreia em live-action passou longe desse tipo de consagração. Nos EUA, onde foi lançado no começo de agosto, o filme foi um fracasso de crítica (25% no Rotten Tomatoes) e público (abriu em 6º lugar e saiu do Top 10 em duas semanas).

 

BAILE DAS LOUCAS

 

O drama francês é ambientado em Paris no ano de 1894, dentro do famoso hospital psiquiátrico La Salpêtrière. O filme explora o “Bal des Folles”, um evento anual realizado no hospital, onde a alta sociedade parisiense se reunia para observar as internas, muitas delas diagnosticadas com “histeria” ou internadas por terem praticado abortos. A trama segue Fanni, interpretada por Mélanie Thierry (“Memórias da Dor”), uma jovem que se interna voluntariamente na instituição com o objetivo de encontrar sua mãe, desaparecida há muitos anos. Lá, Fanni descobre um ambiente opressor e aterrorizante, mas também forma laços inesperados com outras mulheres internadas. O filme mergulha nas injustiças e crueldades enfrentadas pelas mulheres naquele período, questionando o tratamento dado às chamadas “loucas”.

A nova obra de Arnaud des Pallières (“Michael Kohlhaas”) tem como trunfo o elenco cheio de atrizes renomadas, como Josiane Balasko (“Uma Cama para Três”), Marina Foïs (“As Bestas”), Carole Bouquet (“Beije Quem Você Quiser”), Dominique Frot (“Titane”), Elina Löwensohn (“Nadja”) e Yolande Moreau (“Séraphine”), que dão vida às presas na instituição.

 

A VIÚVA CLICQUOT – A MULHER QUE FORMOU UM IMPÉRIO

 

O longa retrata a vida de Barbe-Nicole Ponsardin Clicquot, mais conhecida como Madame Clicquot, uma das primeiras grandes empresárias do mundo. Interpretada por Haley Bennett (“A Garota no Trem”), ela assume o comando de uma vinícola com a morte de seu marido no final do século 18, mas enfrenta preconceitos e tem a capacidade administrativa questionada por ser uma mulher. Enfrentando os críticos e as dificuldades financeiras, ela revoluciona os negócios ao transformar a vinícola em uma das mais respeitadas produtoras de champanhe do mundo.

O drama biográfico de Thomas Napper (da série “A Roda do Tempo”) também é estrelado por Tom Sturridge (“Sandman”), Sam Riley (“Controle”), Natasha O’Keeffe (“Peaky Blinders”) e Leo Suter (“Vikings: Valhalla”).

 

DEEP WEB – O SHOW DA MORTE

 

O trash de baixo orçamento mergulha no universo obscuro da deep web, onde o anonimato e a falta de regulação permitem a proliferação de crimes e atividades ilícitas. A trama gira em torno de um grupo de hackers que se envolvem em uma série de assassinatos transmitidos ao vivo na internet. À medida que os personagens se aprofundam nesse mundo sombrio, eles enfrentam dilemas morais e o terror crescente de serem descobertos. A narrativa também explora a tensão psicológica e a desconexão entre o virtual e o real, trazendo à tona questões sobre privacidade, ética e a facilidade com que vidas podem ser destruídas por trás de uma tela. Mas o roteiro é mal desenvolvido e a atuação faz jus à falta de créditos relevantes do elenco pouco conhecido.

 

POSSESSÕES

 

O terror de Tiago Santiago é um trash assumido, não só pelo orçamento microscópico, mas pelo próprio estilo da filmagem, com efeitos especiais risíveis de tão rudimentares, atuações exageradas e uma narrativa que abraça o exagero e o absurdo. Conhecido por seu trabalho em telenovelas, o diretor evocou seus dias de “Mutantes” para filmar três histórias distintas de possessão demoníaca e exorcismo. Tudo é muito sério, mas frequentemente beira o cômico, devido à execução desleixada.

O elenco absurdamente eclético ajuda a dar o tom, indo do veterano Antônio Pitanga (“Abe”) e seu filho Rocco Pitanga (“Joaquim”) até Dado Dolabella (“A Fazenda”) e Fernanda Nobre (“Malhação”), sem esquecer de Marcelo Serrado (“Crô: O Filme”), Tuca Andrada (“Amor de Mãe”), Pathy Dejesus (“Coisa Mais Linda”) e Ítala Nandi (“Os Mutantes”).

 

ENTRELINHAS

 

A estreia do documentarista Guto Pasko (“Entre Nós, O Estranho”) na ficção é ambientada nos anos 1970, durante a ditadura militar. O filme acompanha a história de Beatriz, uma estudante de 18 anos (interpretada pela estreante Gabriela Freire), que é presa e torturada pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) sob a acusação de envolvimento com movimentos estudantis subversivos e com a guerrilha VAR-Palmares. Durante dez dias, Beatriz é submetida a intensos interrogatórios e torturas sem que os militares consigam provar seu envolvimento com as acusações. Ao final, ela é liberada, completamente abalada, com a simples desculpa de que tudo foi um engano.

A trama reflete os horrores da repressão militar no Brasil e a brutalidade enfrentada por aqueles que foram injustamente perseguidos durante o regime. “Entrelinhas” é um retrato da resistência e das consequências psicológicas deixadas por esse período sombrio da história brasileira.

 

FAVELA DO PAPA

 

O novo documentário de Marco Antônio Pereira (“Paisagem Carioca – Vista do Morro”) sobre as favelas cariocas aborda o movimento de resistência dos moradores da Favela do Vidigal contra uma ordem de remoção durante a década de 1970. O filme resgata a luta desses moradores, que culminou na visita do Papa João Paulo II à comunidade em 1980, marcando uma vitória importante na história do Rio de Janeiro. Utilizando imagens de arquivo e depoimentos dos moradores, o documentário oferece uma visão profunda sobre a importância da luta da comunidade na política fundiária do período.

 

CRISTINA, 1300 – AFFONSO ÁVILA – HOMEM AO TERMO

 

A diretora Eleonora Santa Rosa celebra a trajetória literária e intelectual de Affonso Ávila, um dos poetas e ensaístas mais importantes do Brasil na segunda metade do século 20. Seu documentário é uma viagem audiovisual pela obra e pelo pensamento de Ávila, destacando sua contribuição para os estudos do barroco e sua influência no cenário cultural brasileiro. Através de entrevistas, imagens de arquivo e leituras de seus textos, o documentário oferece um olhar profundo sobre o artista, explorando a riqueza de sua poesia e o impacto duradouro de seu trabalho acadêmico e literário.