O Comitê Olímpico Internacional (COI) se manifestou nesta sexta (2/8) contra as fake news espalhadas nas redes sociais de que “homens” estariam disputando a categoria de boxe feminino nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. As acusações surgiram em decorrência da desistência da italiana Angela Carini em sua luta contra a argelina Imane Khelif, 46 segundos após o início, citando temores por sua integridade física.
Disseminação de fake news
A polêmica atraiu a atenção de personalidades como a escritora J.K. Rowling, o youtuber Logan Paul, o ex-juiz Sergio Moro e o magnata Elon Musk, entre outras personalidades da direita, que afirmaram na quinta-feira (1/8) que Khelif era um homem, possivelmente lutando após mudar de sexo.
Nasceu, cresceu e luta como mulher
O detalhe é que Imane Khelif nasceu mulher e sempre se identificou como tal. Em entrevista coletiva, o porta-voz do COI, Mark Adams, leu uma declaração forte defendendo a elegibilidade da lutadora e criticando a desinformação. “A boxeadora argelina nasceu mulher, foi registrada como mulher, vive como mulher, luta como mulher e possui passaporte feminino. Isso não é um caso de transexualidade”, afirmou Adams.
Adams também abordou os abusos online dirigidos a Khelif após a luta controversa. “Ninguém gosta de ver agressão online contra qualquer atleta. Esperamos que isso pare, embora saibamos que é difícil controlar”, disse ele.
Para piorar a situação, Khelif representa um país, a Argélia, onde ser homossexual dá cadeia. Influenciada pela religião muçulmana, a sociedade argelina reprime as pessoas LGBTQ+ com penas que variam de meses a anos de prisão. Elas sofrem discriminação e estigmatização tanto do governo quanto da sociedade. Essa situação força muitos a viverem de forma clandestina e impede que se exibam com segurança no país. A Argélia jamais admitiria uma atleta transexual, nem mesmo lésbica.
Mulher macho?
Uma jornalista conservadora do jornal britânico The Telegraph, Suzanne Moore, tentou embasar os ataques contra Khelif com uma explicação científica, afirmando que ela “provavelmente” nasceu com o que é chamado de “Diferenças no Desenvolvimento Sexual” (DSD), com cromossomos XY, afirmando que mulheres assim “têm a força e o poder dos homens porque geneticamente é isso que elas são”.
A atleta de 25 anos chegou a ser desclassificada anteriormente pela IBA (Associação Internacional de Boxe), entidade descredenciada pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) e desacreditada por denúncias de corrupção e manipulação de resultados, por não atender aos critérios de saúde de elegibilidade. A IBA, entretanto, não apresentou provas da afirmação, dizendo que são “confidenciais”. Já o COI afirmou que todas as atletas que disputam os Jogos Olímpicos de Paris 2024 cumprem os regulamentos de elegibilidade de gênero. Khelif também disputou os Jogos Olímpicos de Tóquio sem causar a mesma polêmica e sem conquistar medalhas, caindo nas quartas de final.
Além de Khelif, a taiwanesa Lin Yu-ting foi reprovada nos testes de elegibilidade da IBA e participa dos Jogos Olímpicos de Paris. Ela se qualificou para as quartas de final do boxe feminino peso pena e voltará a lutar no domingo (4/8).
Khelif enfrentará a seguir a húngara Anna Luca Hamori, também pelas quartas de final do boxe feminino, mas na categoria de peso meio médio, neste sábado (3/8).