Robert Towne, um dos roteiristas mais renomados de Hollywood, morreu na segunda-feira (1/7) em sua casa aos 89 anos. Towne venceu o Oscar pelo roteiro original de “Chinatown” (1974) e foi indicado outras três vezes por “Shampoo” (1975), “A Última Missão” (1973) e “Greystoke: A Lenda de Tarzan, o Rei das Selvas” (1984). Além do Oscar, ele ganhou prêmios BAFTA, Globo de Ouro e WGA (do Sindicato dos Roteiristas) por “Chinatown”.
Towne foi um perfeccionista conhecido por seu trabalho meticuloso, evitando reuniões de estúdio e notas de roteiro. Ele tinha relações estreitas com estrelas como Jack Nicholson, Warren Beatty e Tom Cruise, capturando suas personas em personagens do cinema.
Primeiros trabalhos e ascensão
Sua carreira começou com o roteiro da sci-fi “A Última Mulher Sobre a Terra” (1960) e do terror “Túmulo Sinistro” (1964), com Vincent Price, e incluiu contribuições para séries de TV como “Quinta Dimensão” (The Outer Limits) e “Agente da U.N.C.L.E.” (The Man from U.N.C.L.E.). Antes de ficar famoso, ele também trabalhou sem receber créditos no aprimoramento das histórias de filmes importantes como “Bonnie e Clyde: Uma Rajada de Balas” (1967), “O Poderoso Chefão” (1972) e “A Trama” (1974).
Ele começou a se destacar com “A Última Missão” (1973), um drama militar estrelado por Jack Nicholson como um oficial da Marinha encarregado de escoltar um recruta (Randy Quaid) para a prisão. Após sua primeira indicação ao Oscar, Towne começou a pareceria com Nicholson que seria definidora para sua carreira.
O marco de “Chinatown”
Seu filme seguindo foi “Chinatown”. Dirigido por Roman Polanski e com Nicholson na pele do detetive Jake Gittes, o longa prestou homenagem ao cinema noir, ao mesmo tempo em que contou a história das guerras de direitos hídricos da Califórnia no início do século 20. O filme foi um sucesso crítico e comercial, sendo indicado a 11 Oscars e garantindo a Towne o prêmio de Melhor Roteiro Original.
No mesmo ano, ele também co-escreveu “Operação Yakuza” (1974) com Paul Schrader e em seguida teve grande sucesso comercial e crítico com a comédia “Shampoo” (1975), estrelada por Warren Beatty, que lhe rendeu outra indicação ao Oscar.
As controvérsias da carreira
Com o sucesso de seus primeiros roteiros, Towne resolveu virar diretor. E escolheu um tema espinhoso para começar. Ele estreou atrás das câmeras com o clássico “Parceiras” (Personal Best, 1982), um drama esportivo sobre atletas lésbicas (Mariel Hemingway e Patrice Donnelly), que tentam entrar no time olímpico dos Estados Unidos, para desgosto de seu treinador (Scott Glenn). O filme marcou época por trazer à tona discussões que o conservadorismo tentava evitar e esconder nos esportes. Mas a ousadia teve um preço alto para Towne.
Ele escreveu o roteiro de “Greystoke: A Lenda de Tarzan, o Rei das Selvas” (1984), estrelada por Christopher Lambert, com a intenção de dirigir o filme. No entanto, a controvérsia e o fraco desempenho financeiro de “Parceiras” levou a Warner Bros a entregar a direção a Hugh Hudson, que estava em alta após vencer o Oscar de Melhor Filme por “Carruagens de Fogo” em 1981. Towne ficou irritado com a decisão e pediu para que seu nome fosse retirado dos créditos do filme, optando por dar a autoria do roteiro a P.H. Vazak, seu cachorro. Só que, ironicamente, o roteiro recebeu uma indicação ao Oscar, tornando Vazak o único cão a concorrer na categoria de Melhor Roteiro Adaptado em todos os tempos. Aquela também foi a primeira indicação ao Oscar para um filme de Tarzan.
Depois disso, Towne retomou a carreira de diretor com o drama criminal “Conspiração Tequila” (1988), estrelado por Mel Gibson, Michelle Pfeiffer e Kurt Russell, e escreveu a sequência de “Chinatown”, “A Chave do Enigma”, protagonizada e dirigida por Nicholson. A continuação não fez o mesmo sucesso do original e abortou planos para uma trilogia.
A parceria com Tom Cruise
Em compensação, no mesmo ano Towne iniciou outra parceria de sucesso ao escrever “Dias de Trovão” (1990), o barulhento drama de corridas dirigido por Tony Scott e estrelado por Tom Cruise e Nicole Kidman – o filme que uniu o casal na vida real.
O roteiro foi tão importante para a vida de Tom Cruise que Towne escreveu os longas seguintes estrelados pelo astro: “A Firma” (1993), de Sydney Pollack, e o filme de ação de Brian De Palma que lançou uma franquia blockbuster, “Missão: Impossível” (1996), além da sequência de 2000, “Missão: Impossível 2”, dirigida por John Woo.
Últimos trabalhos
Entre os dois “Missão: Impossível”, ele escreveu e dirigiu outro drama esportivo, “Prova de Fogo” (1998). Depois, despediu-se com “Pergunte ao Pó” (2006), adaptação do célebre livro homônimo de John Fante, estrelada por Colin Farrell. Foi seu último roteiro e direção de cinema.
Towne não chegou a se aposentar. Em 2019, ele se juntou ao cineasta David Fincher para desenvolver uma série baseada em “Chinatown”. A trama seria um prólogo baseado na juventude de Jake Gittes. No mês passado, o autor revelou que escreveu a série inteira, entregando todos os roteiros prontos a Fincher. A produção ainda não começou a ser gravada e só deverá ser lançada em 2026 na Netflix.