O cantor, pianista e guitarrista John Mayall, conhecido como o “padrinho do blues britânico”, faleceu na segunda-feira (22/7) em sua casa na Califórnia aos 90 anos. Sua família anunciou a morte nas redes sociais, mencionando problemas de saúde recentes.
Escola de blues dos anos 1960
Figura central no movimento revivalista do blues britânico, Mayall foi fortemente influenciado por blueseiros americanos, mas os próprios pioneiros dos Estados Unidos afirmavam que deviam o reconhecimento musical do blues aos esforços do artista inglês, que dedicou sua vida a manter o gênero vivo. “John Mayall, ele era o mestre do blues”, disse B.B. King, enfatizando a importância do artista nos anos 1960.
De fato, Mayall influenciou gerações de músicos com sua banda, Bluesbreakers, formada em 1963, que incluiu nomes lendários do rock como Eric Clapton, Peter Green, Mick Taylor, Jack Bruce, John McVie, Mick Fleetwood e Aynsley Dunbar.
Conhecido por seu estilo de liderança generoso, o cantor sempre deu espaço para que seus músicos se destacassem. “A razão pela qual escolho músicos é o que eles trazem para a mesa, e eu gosto de seu trabalho. Quero dar-lhes a oportunidade de se expressarem”, disse ele em uma entrevista de 2016.
Os discípulos famosos
Eric Clapton, que se juntou aos Bluesbreakers em 1965 após deixar os Yardbirds, encontrou na banda um ambiente propício para explorar sua paixão pelo blues. O álbum “Blues Breakers with Eric Clapton” de 1966, também conhecido como “Beano”, é considerado um dos pontos altos do blues britânico.
Foi nos Bluesbreakers que Clapton conheceu o baixista Jack Bruce, que entrou na banda em 1965, após a saída temporária do fundador John McVie devido a problemas com bebida. Bruce só tocou com os Bluesbreakers durante alguns meses antes de ser convidado para se juntar ao Manfred Mann e, posteriormente, por Clapton para formar o Cream com o baterista Ginger Baker.
Clapton também teve uma passagem curta e foi substituído logo em seguida por Peter Green, que igualmente marcou a banda com sua habilidade excepcional na guitarra. Green brilhou no álbum “A Hard Road” de 1967, antes de fundar o Fleetwood Mac com outros ex-membros dos Bluesbreakers, como o baterista Mick Fleetwood e John McVie. Todos os três sempre reconheceram a importância de Mayall em suas carreiras.
O herdeiro da vaga de Green foi outra lenda. Mick Taylor foi recrutado com apenas 18 anos e apareceu em quatro álbuns da banda entre 1967 e 1969. Ele saiu dos Bluebreakers para se juntar aos Rolling Stones, ocupando a vaga do falecido Brian Jones. Sua passagem pelos Stones no começo dos anos 1970 é lembrada como uma das fases mais criativas da banda.
Durante anos, a banda de John Mayall se manteve como uma base de lançamento de novos artistas. Muitos outros músicos que passaram pelos Bluesbreakers seguiram carreiras notáveis por conta própria. O saxofonista Dick Heckstall-Smith, o baixista Tony Reeves e o baterista Jon Hiseman fundaram a banda de jazz-rock Coliseum. O guitarrista acústico Jon Mark e o flautista-saxofonista Johnny Almond formaram sua própria unidade, a Mark-Almond.
Foi na era Mark-Almond que Mayall lançou seu single americano mais conhecido, “Room to Move”. O álbum ao vivo de onde a música foi extraída, “The Turning Point” (1969), foi o único LP dos Bluesbreakers a alcançar status de ouro.
O blues nos anos 1970 e 1980
No início dos anos 1970, Mayall se mudou para Los Angeles, onde trabalhou com alguns músicos notáveis de blues americanos, como o guitarrista Harvey Mandel, o violinista Don “Sugarcane” Harris e o baixista Larry Taylor. O disco “USA Union” de 1970, que contou com essa formação, alcançou a 22ª posição na parada de álbuns da Billboard, o maior sucesso da carreira do artista inglês.
Mayall comemorou shows mais lotados no período, que só foram superados em 1982, quando voltou a se reunir com Mick Taylor e John McVie para uma longa turnê mundial.
Uma nova versão dos Bluesbreakers, lançada em 1984, contou com uma formação de duas guitarras, com Coco Montoya e Walter Trout, e marcou um reavivamento no interesse por Mayall, celebrado num contrato importante com a Silvertone Records, a gravadora americana que revitalizou a carreira de Buddy Guy.
Últimos anos e legado
O músico começou o novo milênio com um álbum repleto de celebridades, “Along for the Ride”, e um concerto de 70º aniversário em Liverpool que colocou pela primeira vez Clapton e Taylor a tocarem juntos nos Bluebreakers. Desde então, Mayall acrescentou outros guitarristas renomados à banda, como Sonny Landreth, Robben Ford e Carolyn Wonderland.
Ele permaneceu ativo nos últimos anos, lançando álbuns e fazendo turnês até se tornar octogenário. Em 2019, lançou “Nobody Told Me”, com participações de grandes nomes como Todd Rundgren e Joe Bonamassa. Seu último álbum, “The Sun Is Shining Down”, foi lançado em 2022, aclamado pela crítica e indicado ao Grammy de Melhor Álbum de Blues Tradicional.
Quando foi anunciado como um dos indicados ao Hall da Fama do Rock deste ano, suas redes sociais refletiram sua satisfação: “John Mayall está feliz por ser incluído no hall ao lado de Alexis Korner, que em 1963 sugeriu que se poderia viver tocando blues em Londres”.
Agora, o músico será homenageado postumamente em outubro pelo Rock and Roll Hall of Fame, com o Musical Influence Award, junto de outros dois blueseiros falecidos, seu amigo Alexis Korner (1928-1984) e a pioneira Big Mama Thornton (1926-1984). Muitos artistas prestaram tributo ao seu legado, incluindo o próprio Hall da Fama: “John Mayall foi um pioneiro que manteve o blues vivo e relevante. Sua contribuição para a música será eternamente lembrada.”