Diretores franceses são detidos sob acusações de violência sexual

Benoît Jacquot e Jacques Doillon negam as acusações e questionam legalidade das prisões

Divulgação/4A4 Productions

Os cineastas franceses Benoît Jacquot (“Adeus, Minha Rainha”) e Jacques Doillon (“Rodin”) foram detidos nesta segunda-feira (1/7) para interrogatório pela Brigada de Proteção de Menores, após serem acusados de violência sexual pela atriz Judith Godrèche e outras artistas.

Jacquot e Doillon, que negam todas as acusações, compareceram à Direção Regional da Polícia Judiciária de Paris acompanhados de suas advogadas. Julia Minkowski, advogada de Jacquot, afirmou que seu cliente “finalmente poderá se expressar perante à Justiça”, mas criticou a prisão dele após se apresentar voluntariamente à unidade policial. Já Marie Dosé, advogada de Doillon, declarou que “nenhum critério legal justifica esta medida” de prisão, considerando que os fatos relatados ocorreram há 36 anos e estão prescritos há mais de duas décadas.

Acusações

O Ministério Público de Paris afirmou que investiga supostos crimes como estupro de um menor de 15 anos por uma pessoa com autoridade. Judith Godrèche, de 52 anos, acusou publicamente Benoît Jacquot de estupro em fevereiro e Jacques Doillon de agressão sexual, durante uma entrevista a uma rádio francesa. Ela também apresentou as queixas correspondentes na Justiça.

Denúncia de Jacquot

As acusações surgiram após Godrèche assistir a um documentário de 2011, onde o diretor se vangloriava de ter se relacionado com ela durante sua adolescência. O relacionamento começou em 1986, quando Godrèche tinha apenas 14 anos, e durou até o início de 1992. Durante esse período, ela atuou em dois filmes do cineasta, “Les Mendiants” (1987) e “La Desenchantee” (1990).

No documentário, Jacquot descreveu o relacionamento como uma “transgressão”, insinuando que a indústria cinematográfica oferecia uma espécie de proteção para tais comportamentos. Ele sugeriu que, apesar das leis, havia uma certa admiração e inveja no meio cinematográfico por esse tipo de relação. Mas Godrèche contestou essa narrativa, afirmando que foi manipulada e controlada por Jacquot durante os seis anos de relacionamento, sofrendo abusos físicos e psicológicos. Ela destacou que, aos 14 anos, o conceito de consentimento é inexistente, negando qualquer ideia de sedução e descrevendo-se como vítima de manipulação.

Após sua acusação, outras duas atrizes também denunciaram Jacquot: Julia Roy por agressão sexual e Isild Le Besco, no final de maio, por estupro de menor, supostamente ocorrido entre 1998 e 2007.

Denúncia de Doillon

No caso de Doillon, ela contou que o diretor despediu o ator que iria contracenar com ela e assumiu o papel em “La Fille de 15 Ans” (1989). “De repente, (Jacques Doillon) decide que há uma cena de amor, uma cena de sexo entre ele e eu. E aí fazemos 45 tomadas. E eu tiro meu suéter e estou sem camisa, e ele me apalpa e me beija de língua”, disse ela, que na época tinha 17 anos.

Diversas vezes indicado ao César (prêmio da Academia Francesa de Cinema), Doillon era então casado com a cantora e atriz Jane Birkin, ícone pop marcada por músicas e papéis de transgressão sexual. Ainda de acordo com Godrèche, toda equipe do filme assistiu à cena, incluindo uma impotente e constrangida Jane Birkin. “Jane estava logo atrás, e foi uma situação extremamente dolorosa para ela, que, para mim, me deixa desconfortável”.

Além da cena pública, a atriz fez menção a outro incidente, que teria ocorrido no “escritório de Doillon”, mas não deu mais detalhes publicamente.

Defesa dos cineastas

A defesa de ambos cineastas denunciou a violação da presunção de inocência de seus clientes. “Esta prisão é uma medida excessiva e desnecessária, considerando o tempo decorrido desde os supostos crimes e a ausência de evidências novas”, afirmou Dosé. Jacquot e Doillon aguardam os próximos passos da investigação.