Cheng Pei-pei, estrela do cinema de kung fu, morre aos 78 anos

A atriz de "Venha Beber Comigo", "O Tigre e o Dragão" e "Mulan" teve uma carreira de seis décadas

Divulgação/SB

Cheng Pei-pei, a pioneira atriz chinesa apelidada de “Rainha das Espadas” e considerada uma das primeiras estrelas de ação feminina do cinema, morreu aos 78 anos. A notícia foi confirmada por sua família em um comunicado, revelando que a atriz faleceu pacificamente em casa, cercada por seus entes queridos, em 17 de julho. Cheng lutava contra a degeneração corticobasal, uma doença neurodegenerativa rara, desde 2019.

Explosão no cinema de artes marciais

Nascida em Xangai, China, em 1946, Cheng mudou-se para Hong Kong em 1962 e encontrou emprego na famosa produtora Shaw Brothers Studios. Com treinamento em dança, Cheng foi inicialmente posicionada para estrelar filmes de ópera chinesa. Fez sua estreia nas telas em 1964, figurando em dois dramas, “A Última Mulher de Shang” e “Rocha do Amante”. No entanto, no ano seguinte, com a mudança da Shaw Brothers para o gênero de ação, Cheng foi treinada em artes marciais e começou a fazer filmes do gênero wuxia, aventuras de época com kung fu.

Em 1966, Cheng teve seu grande avanço com o filme wuxia “Venha Beber Comigo”, dirigido por King Hu. No filme, ela interpretou a espadachim Golden Swallow (A Andorinha Dourada), estabelecendo-se como uma das principais figuras no gênero wuxia. A parceria com o Shaw Brothers Studios continuou com sucessos como “A Jade Raksha” (1968), “O Pântano do Dragão” (1969), “A Senhora Ermitã” (1971) e “O Chicote das Sombras” (1971).

Desafios e sucessos

Apesar do sucesso, Cheng enfrentou dificuldades ao trabalhar com diretores do estúdio, como Chang Cheh, que tinha visões conservadoras sobre mulheres. Em “A Andorinha Dourada” (1968), a personagem de Cheng foi significativamente alterada, levando a tensões no set. “Chang Cheh não gostava de mulheres, ele gostava de homens”, contou Cheng ao Hong Kong Film Archive’s oral history series. “Quando eu estava fazendo ‘A Andorinha Dourada’ com Jimmy Wang Yu e Lo Lieh, ele pediu que eles pulassem de uma janela, e que eu passasse por uma porta. Eu recusei – disse que queria fazer a mesma coisa que eles, já que eu era uma espadachim. Mas ele disse, ‘Você é uma dama, e damas devem ser mais refinadas.'”

Cheng decidiu trocar os Shaw Brothers por produções do estúdio Golden Harvest, onde estrelou “A Garota do Kung Fu” (1973) e “Whiplash” (1974), e após uma década prolífica mudou-se para os EUA com sua família. Sem dominar a língua, ela continuou voltando ao mercado de Hong Kong e diminuiu suas aparições cinematográficas nos anos 1980 e 1990.

Carreira recente

Seu retorno triunfal ocorreu em 2000, com o papel da vilã Jade Fox em “O Tigre e o Dragão”, de Ang Lee, um grande sucesso de crítica e bilheteria que venceu quatro Oscars, incluindo Melhor Filme em Língua Estrangeira.

O sucesso de “O Tigre e o Dragão” revitalizou a carreira de Cheng, levando-a a participar de filmes como “Street Fighter: A Lenda de Chun-Li” (2009), “Na Cadência do Amor” (2014) e “Meditation Park” (2017), entre dezenas de outras produções. Seu último papel foi como A Casamenteira no remake live-action de “Mulan” (2020).

Ela deixa um legado duradouro no cinema de artes marciais, sendo lembrada como a lendária “Rainha das Artes Marciais”, que inaugurou o cinema de ação para as mulheres.