Bob Newhart, lenda da comédia, morre aos 94 anos

Ator consagrado das séries "The Bob Newhart Show" e "Newhart" faleceu nesta quinta-feira

Divulgação/CBS

Bob Newhart, comediante conhecido por seu humor seco e irônico em duas sitcoms aclamadas, morreu na manhã desta quinta-feira (18/7) em sua casa em Los Angeles, após uma série de doenças. Ele tinha 94 anos.

Primeiros anos

George Robert Newhart nasceu em 5 de setembro de 1929, em Oak Park, Illinois. Formado em comércio pela Universidade Loyola, ele começou sua carreira como contador, mas para combater o tédio no trabalho, Newhart e um amigo passavam trotes telefônicos. Ao decidir virar comediante, ele se inspirou nas brincadeiras para criar conversas telefônicas unilaterais no palco, que se tornaram sua marca registrada no stand-up, ajudando-o a ganhar notoriedade.

Começo da carreira

Em 1960, Newhart lançou seu revolucionário disco de comédia “The Button-Down Mind of Bob Newhart”. O álbum se tornou um dos mais vendidos de todos os tempos, alcançando o topo das paradas da Billboard e rendendo-lhe prêmios Grammy por álbum do ano e melhor artista revelação. Este sucesso catapultou sua carreira e solidificou sua posição como um dos grandes nomes da comédia.

A notoriedade o levou à Hollywood, onde começou a ganhar pequenos papéis. Sua estreia no cinema foi como um soldado no drama de guerra “O Inferno É para Heróis” (1962), de Don Siegel, que foi seguido, seis anos depois, por sua primeira comédia, “A Máquina de Fazer Milhões” (1968), como coadjuvante de Peter Ustinov. O ator ainda coadjuvou em “Num Dia Claro de Verão” (1970), de Vincente Minnelli, “Ardil 22” (1971), de Mike Nichols, e “Uma Cidade Contra o Vício” (1972), de Norman Lear.

Sucesso na Televisão

Em 1972, ele foi convidado pela produtora MTM a estrelar seu próprio programa televisivo, criado por David Davis (1936-2022), o famoso criador de “Taxi”, e Lorenzo Music, seu parceiro em “Rhoda”. A sitcom ganhou o nome do ator, “The Bob Newhart Show”, mas o protagonista se chamava Bob Harley, um psicólogo clínico vivido por Newhart. Na época, era costume os programas terem o nome de seu ator principal, e Davis e Music já escreviam para uma produção do gênero, “Mary Tyler Moore”.

“Arthur Price [co-fundador da MTM] era meu empresário. Ele me perguntou se eu estava interessado. Durante 12 anos, estive na estrada fazendo stand-up, principalmente shows de uma noite em que no dia seguinte você estava a 8.500 quilômetros de distância. Eu queria uma vida normal onde eu pudesse estar em casa com minha família”, contou Newhart ao The Hollywood Reporter. “Eu não tinha muitas exigências. Eu só não queria que a série fosse sobre um pai idiota que todos amam, que se mete em encrenca e depois a esposa e os filhos se reúnem para tirá-lo dela.”

Além de Newhart, a produção tinha um elenco maravilhoso, incluindo Suzanne Pleshette, Peter Bonerz, Marcia Wallace, Bill Daily e Jack Riley. Com o texto engraçadíssimo dos criadores, a atração se tornou uma das sitcoms mais populares de todos os tempos.

Newhart encerrou a série em 1978 após 142 episódios, sentindo que havia esgotado suas ideias. Mas ele foi novamente convencido à voltar à CBS em 1982 para protagonizar outra comédia da MTM intitulada com seu nome.

Ainda mais sucesso na televisão

Em “Newhart”, ele interpretou Dick Loudon, um autor de Nova York que se torna proprietário da hospedaria Stratford Inn em Vermont. A atração foi novamente um enorme sucesso durante oito temporadas e também contou com um grande elenco (Mary Frann, Tom Poston — que mais tarde se casaria com Pleshette — Julia Duffy, Peter Scolari, William Sanderson, Tony Papenfuss e John Voldstad).

Num dos finais de série mais admirados da história, “Newhart” foi encerrado em 1990 com uma cena final antológica em que Loudon, o protagonista de “Newhart”, acorda no meio da noite como Bob Hartley, o protagonista de “The Bob Newhart Show”, na cama com sua esposa daquela série, vivida por Pleshette, e em seu apartamento em Chicago, sugerindo que toda a sua segunda série havia sido um sonho.

Outros projetos

Em 1992, ele embarcou em outra série com seu nome, “Bob”, interpretando um artista de quadrinhos cult, mas a atração nunca encontrou um público. O mesmo aconteceu com “George & Leo” (1997), em que ele interpretou um dono de livraria ao lado de Judd Hirsch (de “Taxi”).

Depois disso, ele nunca mais protagonizou uma série, mas continuou a aparecer na TV, incluindo num arco marcante em “Plantão Médico” (E.R.), como um médico que está desenvolvendo degeneração macular (o que lhe rendeu uma indicação ao Emmy em 2004), e no papel do marido de Lesley Ann Warren em “Desperate Housewives”, em 2003. Mais recentemente, Newhart interpretou Judson na trilogia de telefilmes “O Guardião” (2004-2008), repetindo o desempenho em três episódios da série derivada “The Librarians”, entre 2014 e 2017.

Paralelamente à televisão, Newhart seguiu tendo uma presença significativa no cinema, dublando personagens nas animações da Disney “Bernardo e Bianca” (1977) e “Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus” (1990), e participando de comédias de grande sucesso como “Legalmente Loira 2” (2003), “Quero Matar Meu Chefe” (2011) e principalmente “Um Duende em Nova York” (2003), onde viveu Papai Elf, o pai adotivo do protagonista Buddy, interpretado por Will Ferrell.

Final premiado de carreira

O ex-contador demorou a ganhar um Emmy, recebendo seu único troféu apenas em 2013 por sua participação como Arthur Jeffries (ou Professor Proton) em “The Big Bang Theory”. O personagem era um antigo apresentador de programa infantil de ciência que inspirou Sheldon Cooper (vivido por Jim Parsons). O Professor Proton também foi o último papel de sua carreira, que ele repetiu na série “Jovem Sheldon”, sobre a juventude de Sheldon Cooper, em três episódios distribuídos entre 2017 e 2020.

Newhart foi introduzido no Hall da Fama da Academia de Artes e Ciências da Televisão em 1992 e foi o quinto destinatário do Prêmio Mark Twain de Humor Americano do Kennedy Center em 2002. Em 2006, publicou suas memórias, “I Shouldn’t Even Be Doing This”.

Ele foi casado por 60 anos com Virginia Quinn Newhart, falecida no ano passado, e deixa quatro filhos.