O diretor francês Laurent Cantet, que conquistou a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2008 com o filme “Entre os Muros da Escola”, morreu nesta quinta-feira (25/4) aos 63 anos. Um porta-voz da agência de Cantet, UBBA, confirmou que o diretor morreu nesta manhã em decorrência de doença.
Carreira marcada pelo humanismo
Além da produção que lhe rendeu o principal prêmio de Cannes, Cantet deixa um legado de filmes que exploram temáticas sociais relevantes. Ele começou a carreira com trabalhos na TV e curtas nos anos 1990, antes de lançar seu primeiro longa, “Recursos Humanos”, em 1999. O filme acompanhava um jovem trainee em seu início de carreira na fábrica do pai, e rendeu ao diretor o César (o “Oscar francês”) de Melhor Obra de Estreia.
Após o sucesso inicial, ele dirigiu “A Agenda” (2001), premiado em Veneza, que narrava a história de um homem que escondia da família o fato de ter sido demitido – e fazia uma reflexão sobre a mentira e suas consequências trágicas.
Ao longo da carreira, Cantet dirigiu obras como “Em Direção ao Sul” (2005), sobre turismo sexual no Haiti, o filme coletivo “7 Dias em Havana” (2012), “Foxfire: Confissões de uma Gangue de Garotas” (2012), baseado no romance homônimo de Joyce Carol Oates, a tragicomédia “Retorno a Ítaca” (2014), “A Trama” (2017), que acompanhava jovens da comuna de La Ciotat, no sul da França, e “Arthur Rambo – Ódio nas Redes” (2021), seu trabalho mais recente, que abordava a vida de um adolescente cuja identidade online é revelada.
O cineasta foi aclamado pela crítica francesa por trazer generosidade e humanismo aos temas que abordava. Seus filmes variavam de sistemas brutais de gestão e status no mundo do trabalho, como visto no primeiro, “Recursos Humanos”, até o cancelamento implacável das redes sociais, retratado no último, “Arthur Rambo”.
Reconhecimento internacional
Mas sua obra prima foi mesmo “Entre os Muros da Escola”, que lhe rendeu notoriedade internacional. O longa retratava a dinâmica dentro de uma sala de aula de uma escola secundária num bairro multicultural e diversificado de Paris. A narrativa explorava a relação entre os alunos, interpretados de forma notável por jovens não profissionais, e seu dedicado, porém por vezes exasperado, professor. Baseado em um romance autobiográfico sobre um jovem professor idealista diante de uma turma problemática de alunos carentes, Cantet escalou o próprio autor do livro para o papel principal.
“Entre os Muros da Escola esmiuçava os embates intelectuais e as conversas que ocorriam por trás das portas fechadas da sala de aula: fracassos e frustrações não apenas entre professores e alunos, mas também entre um sistema educacional rígido e a visão desigual da sociedade moderna em relação aos jovens. Deu tanto o que falar que o então presidente Nicolas Sarkozy chegou a comentar o filme, destacando que ele retratava a dificuldade do sistema educacional francês, assim como o esforço heroico dos professores.
“Sério, sutil, incisivo, perturbador, engraçado e comovente”, escreveu o jornal Le Monde sobre o filme, que conquistou uma decisão unânime do júri de Cannes, presidido na ocasião pelo ator americano Sean Penn.
Além do apoio da crítica, o longa se tornou um dos poucos vencedores da Palma de Ouro a ultrapassar a marca de 1 milhão de ingressos vendidos nas bilheterias francesas nas últimas duas décadas.
Ao destacar sua obras, o Festival de Cannes o descreveu como “um humanista feroz, que buscava luz apesar da violência social e encontrava esperança apesar da dureza da realidade”.
Na véspera de sua morte, Cantet trabalhava em um novo filme, “O Aprendiz”, cuja estreia estava prevista para o ano que vem.