O jornalista-ativista americano Michael Shellenberger admitiu que não tem provas de sua acusação contra o ministro Alexandre de Moraes, que forma o alicerce dos chamados Twitter Files Brasil, dossiê usado por Elon Musk e bolsonaristas para atacarem o Poder Judiciário brasileiro.
Admitiu que era falso
Ele recuou nesta quinta-feira (11/4) ao ser rebatido por uma ex-integrante do Ministério da Justiça. Sem provas, ele divulgou que o ministro Alexandre de Moraes ameaçou processar criminalmente uma advogado brasileiro do X (antigo Twitter). Entretanto, era fake news. Ou melhor, uma confusão segundo Shellenberger.
Numa nova publicação, o jornalista assumiu que errou ao dizer que “Moraes e outros funcionários do governo ameaçaram processar criminalmente o advogado do Twitter no Brasil se ele não entregasse informações privadas e pessoais”. “Isso está incorreto. Não tenho provas de que Moraes tenha ameaçado processar criminalmente o advogado brasileiro do Twitter”, acrescentou.
Misturou processos para criar tese
O processo que, segundo o Twitter Files, teria sido aberto Moraes foi, na verdade, uma ação do Ministério Público de São Paulo, sem nenhuma relação com supostos atos antidemocráticos. De acordo com um documento publicado pela advogada Estela Aranha, ex-secretária do Ministério da Justiça, a ação pedia acesso a dados cadastrais para prender uma liderança do PCC.
“A troca de emails dos funcionários do Twitter que ele publica refere-se a uma ação do GAECO do Ministério Público de SP, que pede acesso a dados cadastrais, no seu poder legal de requisição, visando prender uma liderança do PCC em uma ação contra o tráfico de drogas”, revelou Estela, que salientou que o tema do processo nunca teve nada a ver com “liberdade de expressão”.
O pedido do Gaeco sobre os dados do criminoso foi negado duas vezes pelo Twitter, que alegou que “somente poderia entregar os dados por determinação judicial”. “Não tem STF, TSE, não tem Ministro Alexandre de Moraes, não tem liberdade de expressão ou debate politico. Esses trechos de comunicações internas entre funcionários do Twitter nada tem com o STF e foram usados para manipular o debate. Uma bela narrativa sem base fática”, denunciou a advogada, desmontando a narrativa.
Tentativa de manter distorção
Shellenberger ainda tentou justificar a imprecisão dos Twitter Files. “No texto acima eu inadvertidamente misturei a exigência de Moraes de desmascarar as identidades das pessoas que usaram essas hashtags com casos diferentes. Lamento o erro e peço desculpas pelo meu erro”, ele escreveu nas redes sociais.
Mas foi um dos jornalistas brasileiros parceiros de Shellenberger na “investigação”, David Ágape, quem buscou rebater que foi só um erro, no meio de muitas acusações. Admitindo que “o comentário do Mike [Shellenberger] tem uma imprecisão”, ele ainda atacou a advogada ao dizer que ela “desinforma em dizer que ‘não tem STF, TSE, não tem Ministro Alexandre de Moraes’, fazendo parecer que tudo se resume a esse caso do MP de SP”. E subiu o tom com ironias: “Se você tivesse tido a pachorra de ler nosso trabalho, ou as versões traduzidas para te facilitar, teria visto que há diversas menções a Moraes e ao TSE nos outros emails do Twitter Files Brasil”, disse o bolsonarista.
Só que Estela rebateu, afirmando que os e-mails da “investigação” e “denúncia” contra Moraes são apenas e unicamente dos advogados que “defendem os interesses da empresa, sobre diversas decisões que não tem conexão, em diferentes âmbitos (nesse caso de investigação criminal sobre atuação do MPSP) para criar uma narrativa”.
“Em um fio anterior, que comento todo o caso, afirmo: estão misturando os debates do time jurídico de casos bem diferentes, como se fosse tudo uma coisa só. Como se a investigação criminal/entrega de dados nesse caso tivesse a ver com liberdade de expressão, cortes superiores”, completou a advogada sobre a manipulação feita pelo chamado Twitter Files Brasil.
Esvaziamento de acusação e consequências
A denúncia inverídica era a principal alegação contra Moraes no trabalho encampado por Elon Musk no X.
O desmentido aconteceu no mesmo dia em que Shellenberger e Ágape foram convidados por parlamentares bolsonaristas a depor no Senado contra os supostos abusos do ministro Alexandre de Moraes. Mesmo admitindo que acusou Moraes de forma equivocada, o americano voltou a atacar o ministro na casa do legislativo brasileiro, dizendo que as decisões de Moraes parecem mais legislativas do que jurídicas. “São muito fortes, muito sérias. A nós, nos Estados Unidos, ele parece agir como legislador, não somente um juiz”, afirmou.
O ministro ainda não se manifestou a respeito de um possível processo criminal contra Shellenberger e/ou Ágape por lhe imputar uma atuação judicial inverídica, com repercussão no Senado e também na comunidade internacional.