Estreias | Novo “Ghostbusters” e “Evidências do Amor” chegam aos cinemas

O circuito ainda recebe "A Paixão Segundo GH", a animação "Um Gato de Sorte" e filmes europeus premiados

Divulgação/Sony Pictures

O novo filme da franquia “Ghostbusters” é o maior lançamento na semana nos cinemas, com distribuição em cerca de 900 salas, seguido pela comédia brasileira “Evidências do Amor”. Mas o circuito ainda destaca a adaptação do clássico literário “A Paixão Segundo GH”, de Clarice Lispector, a animação “Um Gato de Sorte” e filmes europeus premiados

 

GHOSTBUSTERS – APOCALIPSE DE GELO

 

O quarto “Ghostbusters” (franquia originalmente conhecida no Brasil como “Os Caça-Fantasmas”) volta às origens da franquia dos anos 1980, sendo novamente ambientado em Nova York e com os figurinos característicos dos personagens. Além disso, sua premissa é basicamente uma reprise da trama original – com a adição de gelo. Um grande mal é desencadeado sobre Nova York, neste caso um antigo deus fantasma com chifres e poder congelante, e uma fenda dimensional ameaça a própria estrutura da civilização, graças à participação involuntária de uma pessoa comum.

Ao mesmo tempo, a trama dá sequência aos eventos do filme anterior, com Carrie Coon (“O Estrangulador de Boston”), Finn Wolfhard (“Stranger Things”) e McKenna Grace (“O Conto de Aia”) como os herdeiros do legado do Dr. Egon Spengler (o falecido Harold Ramis), acompanhados pelo professor dos adolescentes, vivido por Paul Rudd (“Homem Formiga”).

A continuação também volta a contar com Ernie Hudson no papel do Caça-Fantasma original Winston Zeddmore, que agora é um benfeitor da nova geração, além de trazer participações de Bill Murray e Dan Aykroyd como Peter Venkman e Raymond Stantz, mais dois “Caça-Fantasmas” originais. Já as novidades incluem Kumail Nanjiani (“Eternos”), Patton Oswalt (“Agents of SHIELD”), James Acaster (“Cinderela”) e Emily Alyn Lind (“Gossip Girl”).

Diretor do longa anterior – e filho do diretor dos lançamentos dos anos 1980 – , Jason Reitman assina produção e roteiro, passando a direção para Gil Kenan, que coescreveu com ele “Ghostbusters: Mais Além”, de 2021. A falta de criatividade e o excesso de personagens fizeram os críticos americanos acharem medíocre, com apenas 45% de aprovação na média do agregador de críticas Rotten Tomatoes.

 

EVIDÊNCIAS DO AMOR

 

A comédia fantasiosa, estrelada por Fábio Porchat (“O Palestrante”) e a cantora Sandy Leah (“Quando Eu Era Vivo”), inspira-se no maior sucesso da dupla Chitãozinho & Xororó para contar uma história de amor, coração partido e viagem no tempo. No enredo, Porchat volta no tempo cada vez que ouve a música “Evidências”. Com isso, ele tem a chance de reviver momentos de seu fracassado casamento com Sandy – que, como todos sabem, é filha de Xororó e, com o papel, volta ao cinema após 10 anos.

Escrito e dirigido por Pedro Antônio Paes (“Tô Ryca! 2”), o filme gira em torno do casal Marco Antônio (Porchat) e Laura (Sandy), que se conhecem em um karaokê e se apaixonam após cantarem a música “Evidências”. Em meio a muitos altos e baixos, o relacionamento acaba. Mas logo Marco percebe que algo ficou mal resolvido, pois sempre que escuta “Evidências”, ele se lembra de cada discussão que teve com Laura. Mais que lembranças, os acordes o levam literalmente ao passado. Determinado a se livrar desse incômodo, ele inicia uma jornada para superar Laura e seguir em frente com sua vida. Só que não. A descida pela ladeira da memória serve apenas para que os protagonistas vejam seus erros e entendam que se amam de verdade.

O elenco também destaca Evelyn Castro (“Encantado’s”), que rouba as cenas como porteira do prédio de Marco. Mesmo com tempo de tela limitado, sua personagem é mais interessante que as citações geeks – “A Origem” – da produção.

 

A PAIXÃO SEGUNDO GH

 

A adaptação do famoso livro homônimo de Clarice Lispector segue a história de G.H. (interpretada por Maria Fernanda Cândido, de “O Traidor”), uma escultora da elite de Copacabana em 1964 (data da publicação da obra original). Após o fim de um relacionamento amoroso, G.H. decide arrumar seu apartamento, começando pelo quarto de serviço. No dia anterior, a empregada havia pedido demissão. No quarto, porém, acontece o encontro inesperado entre a grã-­fina e uma barata, que forma base para uma profunda divagação de Clarice Lispector (1920-1977) sobre a existência.

“A Paixão Segundo GH” teve sua estreia na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2023, com ingressos esgotados em apenas 8 minutos, e marca apenas a segunda produção para o cinema do diretor Luiz Fernando Carvalho – que após o premiado “Lavoura Arcaica” (2001), lançado há 23 anos, dedicou-se de forma exclusiva às minisséries e novelas da Globo. Sua volta às telonas se dá simplesmente com a adaptação de um dos livros mais “infilmáveis” do Brasil.

A obra original é um fluxo de pensamentos, questionando todas as convenções sociais que aprisionam o feminino até os dias de hoje. Alicerçado em vozes internas, com pouca coisa de fato acontecendo no plano real, o livro tem pouquíssimo apelo visual e, para piorar, seu climax kafkiano é repulsivo, entre GH e a barata. Mas o cineasta surpreende ao conseguir capturar a introspecção e o questionamento existencial, enquanto adiciona novos elementos através do meio cinematográfico.

 

UM GATO DE SORTE

 

A animação infantil anglo-canadense gira em torno de Beckett, um gato mimado que não reconhece a sorte que tem ao ser resgatado e acolhido por Rose, uma estudante apaixonada e de bom coração. Ele leva uma vida mansa na costa de Dorset, na Inglaterra, sob os cuidados de sua dona amorosa. No entanto, quando Rose começa a se dedicar a um projeto de pesquisa para curar doenças na população de abelhas com seu parceiro de laboratório, Beckett começa a se sentir negligenciado. Incomodado com a situação, ele decide sair de casa em busca de atenção. No entanto, um acidente fatal leva à perda de todas as suas nove vidas. Indo parar num limbo entre o céu e o purgatório, ele consegue negociar dez vidas adicionais na Terra como parte de um programa experimental de reabilitação para animais narcisistas. A única condição? Nenhuma dessas vidas será como um gato.

Quando Beckett retorna à casa de Rose, ele é rapidamente expulso – afinal, é isso que se faz com gambás. Mas ele não é o único em risco. À medida que continua morrendo e retornando em formas animais cada vez mais desagradáveis, ele começa a suspeitar que sua antiga (e esperançosamente futura) dona está em perigo real. Seu orientador, o Professor Craven, tem um plano próprio para eliminar a população de abelhas e criar um mercado para suas abelhas robóticas patenteadas.

Embora a qualidade da animação não seja comparável à da Pixar ou da Illumination, o desenho tem uma boa história, que contrasta com a produção cada vez mais genérica produzida pelos estúdios americanos nos últimos anos. Como bônus, a versão legendada inclui as dublagens originais de Simone Ashley (“Bridgerton”), Bill Nighy (“A Primeira Profecia”), Dylan Llewellyn (“Derry Girls”) e o cantor pop Zayn Malik, além do humorista britânico de stand-up Mo Gilligan como Beckett.

 

20.000 ESPÉCIES DE ABELHAS

 

O drama espanhol conta a história de uma criança de oito anos que passa o verão com a família de sua mãe em uma casa de campo ligada à apicultura. Durante esse verão, ela começa a afirmar o que sabe ser verdade: que é uma menina, e que a família e os amigos que a consideram menino estão errados. Mas na pequena comunidade rural em que mora, todos conhecem seu nome – um lembrete constante e doloroso se esse nome não se encaixa mais com sua identidade. Isto faz a criança rejeitar seu nome de nascimento para se estabelecer como uma nova pessoa, Lucia.

Retrato delicado da busca de identidade de uma criança transgênero, o longa de estreia da diretora Estibaliz Urresola Solaguren chama atenção também pelo uso câmeras portáteis para captar os menores detalhes das expressões faciais dos personagens. Venceu dezenas de prêmios, entre eles o de Melhor Diretor Novo no Goya (o Oscar Espanhol) e o de Melhor Atriz no Festival de Berlim, troféu conquistado pela pequena Sofía Otero, de apenas nove anos na vida real.

 

O SABOR DA VIDA

 

O drama romântico histórico francês se passa no final do século 19 e traz Juliette Binoche (“The New Look”) como Eugénie, uma talentosa cozinheira, e Benoît Magimel (“A Prima Sofia”) como Dodin Bouffant, um renomado gourmet para quem ela trabalhou nos últimos 20 anos. Com o tempo, a prática da gastronomia e a admiração mútua se transformam em um relacionamento. A narrativa explora paixão pela culinária e o amor entre Eugénie e Dodin, enquanto eles criam pratos deliciosos que impressionam até mesmo os chefs mais conceituados. Até que Dodin se depara com a relutância de Eugénie em se comprometer com ele. A partir daí, ele decide começar a cozinhar para ela.

“O Sabor da Vida” foi bem recebido pela crítica – atingiu 97% de aprovação no Rotten Tomatoes – e rendeu o prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes para o vietnamita Anh Hung Tran (“O Cheiro do Papaia Verde”). Isto acabou gerando uma percepção distorcida de que ele seria o melhor título para representar a França no Oscar 2024. Barrado na peneira que define os indicados ao prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, “O Sabor da Vida” acabou entrando para a História como a escolha que impediu “Anatomia de uma Queda” de dar à França seu 13º Oscar de Melhor Filme Internacional – afinal, o suspense de Justine Trier faturou o troféu de Melhor Roteiro Original.

 

CINEMA É UMA DROGA PESADA

 

A nova dramédia do francês Cédric Kahn (“Vida Selvagem”) aborda os desafios e pressões da indústria cinematográfica. A narrativa segue a história de Simon (Denis Podalydès, de “Caché”), um diretor experiente que começa a rodar um filme sobre a luta dos trabalhadores para salvar sua fábrica. No entanto, nada sai como planejado. Sua produtora deseja reescrever o final, sua equipe entra em greve, sua vida pessoal está em ruínas e, para piorar as coisas, o ator principal é um desagradável egocêntrico.

A situação é amplificada pela chegada de um jovem aspirante a cineasta, que tropeça na oportunidade de acompanhar o diretor veterano para criar um documentário ao estilo de “making of”, e acaba testemunhando os caprichos mais cruéis e pressões da indústria. Recrutado para filmar o “making of”, o jovem vivido por Stefan Crepon (“Peter Von Kant”) passa a equilibrar sua nova tarefa com seu trabalho existente, como chef no restaurante de pizza de sua irmã, mas passa a levar o trabalho de acompanhar Simon extremamente a sério.

O fato da produção de um filme sobre os direitos dos trabalhadores ter suas próprias práticas trabalhistas duvidosas é apenas uma das contradições que Kahn explora nesta representação menos lisonjeira do cinema e de seu processo.

 

AS LINHAS DA MINHA MÃO

 

Co-diretor do premiadíssimo “Arábia” (2017), João Dumans volta num filme centrado na atriz Viviane de Cássia Ferreira, que também divide os créditos do roteiro com o cineasta. Rodado em Belo Horizonte durante a pandemia, o longa custou só R$ 8 mil para ser realizada e traz reflexões da atriz sobre sua experiência com problemas mentais – diagnosticada com transtorno afetivo bipolar, ela integra o Núcleo de Criação e Pesquisa Sapos e Afogados, grupo formado por pessoas em sofrimento mental. Dividido em sete atos, a obra reúne fragmentos de músicas, conversas, performances e poemas, que discutem o papel político da imaginação e da arte, assim como os estereótipos que conformam a ideia de loucura no mundo atual. Venceu a Mostra de Cinema de Tiradentes.

 

A SERENA ONDA QUE O MAR ME TROUXE

 

O diretor Edson Ferreira (“Entreturnos”) revisita o legado do pai, um homem preto aparentemente comum, que foge dos estereótipos de violência, e se destaca pelo dom em valorizar as pessoas, gerando grandes impactos na vida de quem o conheceu.

 

DEPOIS DA MORTE

 

Pregação religiosa disfarçada de documentário, a produção americana junta relatos de experiências de quem voltou da morte, dramatizações com trilha solene e depoimentos de diversos experts, para demonstrar que a morte não é o fim da existência. A crítica dos EUA achou medíocre, com 47% de aprovação no Rotten Tomatoes.