A programação de streaming da semana está acima da média, o que rende um Top 15 com 8 séries e 7 filmes de destaque. Entre as séries, tem o começo da despedida de “Star Trek: Discovery” e a estreia de muitas novidades, incluindo nova adaptação de mangá, atração derivada de “The Walking Dead” e duas produções de inspiração noir. Já a lista de filmes traz diversas atrações com temática musical e produções que estavam recentemente no cinema – chegando tanto nas plataformas de assinatura quanto em VOD (locação digital). Confira os detalhes.
SÉRIES
PARASYTE THE GREY | NETFLIX
A nova produção do cineasta sul-coreano Sang-ho Yeon, responsável pelo excelente filme “Invasão Zumbi” (2016) e a série “Profecia do Inferno” (Hellbound), é um terror/sci-fi ao estilo de “Invasores de Corpos” (ou “Vampiros de Almas”, na tradução dos anos 1950), atualizada por um visual repelente de monstros bizarros. A história é baseada no mangá de mesmo nome, criado por Hitoshi Iwaaki e publicado entre 1988 e 1995, com vendagens de mais de 25 milhões de exemplares. Antes desta série, a trama já tinha sido adaptada para o cinema e para o formato de anime. Entretanto, Sang-ho Yeon tomou muitas liberdades com a história original, a começar pela mudança da locação japonesa para a Coreia do Sul. A maior reclamação dos fãs do mangá diz respeito à opção por uma nova protagonista – o que cria diferentes desdobramentos. Além disso, as mudanças tornam a ação mais veloz que a típica produção de J-horror, mas, como a temporada é curta, o último capítulo deixa gancho para uma continuação.
Os episódios acompanham uma invasão de pequenos seres alienígenas, que chegam à Terra e penetram nos corpos das pessoas, assumindo os cérebros de seus hospedeiros. Entretanto, o processo de assimilação dá errado com uma garota, que graças a um acidente acorda antes de ter sua mente vampirizada por completo. Com isso, o invasor alienígena passa a coexistir com a mente humana, mantendo seus pensamentos separados. Só que o comportamento humanizado do hospedeiro atrai a atenção dos demais parasitas, fazendo com que alienígena e humana precisem trabalhar juntos para sobreviver.
O elenco é formato por Jeon So-nee (“Scripting Your Destiny”), que vive a protagonista, Koo Kyo-hwan (“D.P. Dog Day”) no papel de um sujeito que rastreia os parasitas para encontrar sua irmã desaparecida e Lee Jung-hyun (“Decisão de Partir”) como a líder de uma força-tarefa contra os alienígenas. Kyo-hwan e Jung-hyun já haviam trabalhado com o diretor Sang-ho Yeon no filme “Invasão Zumbi 2: Península” (2020).
Além de dirigir, Sang-ho Yeon assina os roteiros da adaptação, ao lado de Ryu Yong-jae (co-roteirista de “Invasão Zumbi 2: Península”).
STAR TREK: DISCOVERY 5 | PARAMOUNT+
A 5ª e última temporada traz a tripulação da Capitã Michael Burnham, interpretada por Sonequa Martin-Green, em busca de um antigo poder, cuja existência foi deliberadamente ocultada por milênios. Mas há outros interessados nessa caça ao tesouro – inimigos perigosos que estão desesperados para reivindicar o prêmio misterioso para si mesmos.
Com o fim da série, a produção completa cinco anos de exploração espacial, que era a missão original da série clássica dos anos 1960 “Jornada nas Estrelas” (Star Trek) – que nunca conseguiu cumpri-la, já que acabou cancelada no terceiro ano. A atual produção, que começou como prólogo da primeira “Star Trek”, acabou indo mais longe no futuro que qualquer outra atração da franquia, graças a um salto temporal de vários séculos no final de sua 2ª temporada.
Para a despedida, a produção terá novos integrantes em seu elenco: Callum Keith Rennie (“Battlestar Galactica”) como Capitão Rayner, um oficial obstinado da Federação, que demonstra ir ao limite para cumprir sua missão, e Elias Toufexis (“New Amsterdam”) e Eve Harlow (“The 100”) como uma dupla de ladrões, o klingon albino L’ak e sua namorada humana Moll, responsáveis por invadir os destroços de uma nave romulada de 800 anos e fugir com a pista para um poder divino: a capacidade de criar formas de vida. Os dois se provam cheios de recursos e habilidades para escapar do alcance da Federação, mesmo com os capitães Michael e Rayner no seu encalço.
O resto da equipe continua formada por Doug Jones, Anthony Rapp, Mary Wiseman, Wilson Cruz, Emily Coutts, Oyin Oladejo, Patrick Kwok-Choon, Tig Notaro e os mais recentes David Ajala, Blu del Barrio, Ian Alexander, Oded Fehr, além do cineasta David Cronenberg, que passaram a integrar a produção a partir da 3ª temporada.
THE WALKING DEAD: DEAD CITY | PRIME VIDEO
A série derivada de “The Walking Dead” acompanha Maggie (Lauren Cohan) e Negan (Jeffrey Dean Morgan) numa jornada para a ilha de Manhattan, dominada por zumbis. Os dois se juntam após Hershell, o filho de Maggie, ser raptado e levado para a cidade de Nova York. Maggie pede ajuda a Negan para salvar o filho, porque o responsável pelo sequestro é um antigo aliado do ex-líder dos Salvadores. Na cidade destruída, os dois encontram nova-iorquinos nativos, fogem de um delegado de passado complicado e descobrem um mundo bizarro, em que zumbis combatem em octógonos e viram combustível para veículos.
Escrita por Eli Jorné, responsável por vários capítulos de “The Walking Dead”, a atração introduz diversos personagens novos na franquia, com destaque para as interpretações de Gaius Charles (“Grey’s Anatomy”) e Željko Ivanek (“Madam Secretary”).
RIPLEY | NETFLIX
A trama do suspense é baseada no clássico literário “O Talentoso Ripley”, de Patricia Highsmith, que já foi adaptado para o cinema em 1960 (“O Sol por Testemunha”) e 1999 (“O Talentoso Ripley”). A trama se passa na década de 1960 e acompanha Tom Ripley (Andrew Scott, de “Fleabag”), um vigarista nova-iorquino contratado para ir à Itália e convencer Dickie, filho de um rico empresário, a retornar para os Estados Unidos. Mas ao chegar em Veneza, ele se torna “amigo” e passa a cobiçar o estilo de vida do filho do milionário.
Uma das histórias mais influentes da literatura de suspense, a trama reverbera até hoje e foi inspiração evidente para o filme “Saltburn” (2023). Caso se torne bem-sucedida, a série deve continuar com adaptações de outros livros de Highsmith com o personagem – que também já renderam adaptações cinematográficas, como “O Amigo Americano” (1977) e “Ripley no Limite” (2005).
O elenco também destaca Johnny Flynn (“O Soldado que não Existiu”), Dakota Fanning (“O Protetor: Capítulo Final”) e John Malkovich (“Red: Aposentados e Perigosos”). Adaptação, roteiro e direção estão a cargo de Steven Zaillian, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado pelo drama “A Lista de Schindler” (1993), que optou por filmar os episódios em preto e branco para dar à produção uma atmosfera noir – ou de de clássico hitchcockiano.
SUGAR | APPLE TV+
Inspirada nas histórias clássicas de detetive noir, a série acompanha John Sugar, vivido por Colin Farrell (“Os Banshees de Inisherin”), em seu trabalho como investigador de pessoas desaparecidas em Los Angeles. Na trama, ele é contratado para esclarecer o misterioso desaparecimento de Olivia Siegel, a querida neta de um lendário produtor de Hollywood. Mas enquanto tenta descobrir o que aconteceu com a jovem, Sugar descobre alguns segredos sombrios da família Siegel, alguns recentes e outros enterrados há muitos anos.
Criada por Mark Protosevich (roteirista de “Thor”), a produção conta também com Kirby Howell-Baptiste (“The Good Place”), Amy Ryan (“The Office”), James Cromwell (“Succession”), Anna Gunn (“Breaking Bad”) e Dennis Boutsikaris (“Better Call Saul”), entre outros atores. A direção é do brasileiro Fernando Meirelles (“Cidade de Deus”).
GENIUS: MLK/X | STAR+
A 4ª temporada da série antológica “Genius” é focada nas icônicas figuras de Martin Luther King Jr. e Malcolm X – depois de abordar, nos anos anteriores, as vidas de Einstein, Picasso e Aretha Franklin. A narrativa explora os principais anos das duas personalidades que lutaram no movimento pelos direitos civis da população negra dos Estados Unidos durante os anos 1960, bem como as conquistas pioneiras de direitos e as ideologias defendidas por ambos. Enquanto King avançava na luta pela igualdade racial através de protestos não-violentos, Malcolm X defendia que o empoderamento e a autodeterminação dos negros não viria sem grandes lutas.
Com suas formidáveis esposas, Coretta Scott King e Betty Shabazz, ao lado deles, King e Malcolm X se tornaram sinônimos da era dos direitos civis e da luta contra a injustiça racial. Apesar de terem se encontrado apenas uma vez e, normalmente, terem confrontado a ideologia um do outro, eles não teriam alcançado sucesso sem refletir um ao outro.
A história dos dois gênios foi produzido pelo casal Reggie Rock Bythewood (criador de “Swagger”) e Gina Prince-Bythewood (diretora de “A Mulher Rei”) e traz em seu elenco Kelvin Harrison Jr. (“Os 7 de Chicago”) como Dr. Martin Luther King Jr., Aaron Pierre (“Krypton”) como Malcolm X, Weruche Opia (“I May Destroy You”) como Coretta Scott King e Jayme Lawson (“A Mulher Rei”) como Betty Shabazz.
FORTUNA 2 | APPLE TV+
A 2ª temporada da comédia em que Maya Rudolph (“Missão Madrinha de Casamento”) vive Molly Wells, uma bilionária mimada e extravagante, começa um ano após seu divórcio do bilionário da tecnologia John Novak, interpretado por Adam Scott (“Ruptura”). Nos novos episódios, Molly descobre um novo amor em Arnold, um contador nerd interpretado por Nat Faxon (“Dia do Sim”), que é um dos muitos funcionários peculiares, mas bem-intencionados, que trabalham em sua fundação. A empresa continua a evoluir sob a gerência de Sofia Salinas (Michaela Jaé Rodriguez, de “Pose”), mas tudo pode ruir com a chegada de um novo personagem vivido por O-T Fagbenle (“The Handmaid’s Tale”), um arquiteto carismático que abala estruturas.
Criada por Alan Yang (“Little America”) e Matt Hubbard (“30 Rock”), “Fortuna” é uma sátira da ostentação dos ricaços. Embora não tenham faltado lições de moral nos capítulos inaugurais, a nova temporada reforça que a protagonista ainda está longa de mudar seus hábitos e, num dos pontos principais da trama, sugere uma viagem para Dubai para sua equipe – lugar onde os ricos vão ostentar e que também é conhecido por seus abusos trabalhistas.
DA PONTE PRA LÁ | MAX
A série adolescente nacional estrelada por Gabz (“Temporada de Verão”) e João Guilherme (“De Volta aos 15”) é uma espécie de “Elite” brasileira, mas com um viés mais contundente de crítica social. Os episódios acompanham a chegada de Malu (Gabz), uma aluna negra de periferia, numa escola de filhos brancos de milionários em São Paulo. Além do choque cultural, sua presença desperta suspeitas, porque se segue a um suicídio. E ela realmente entrou na escola para descobrir pistas da morte de seu melhor amigo, Ícaro, que estudava no local com uma bolsa de estudos, penetrando num mundo de privilégios que parece proteger os alunos até da polícia.
João Guilherme é um dos estudantes ricos, que se apresenta como amigo do falecido Ícaro. Jovem de temperamento explosivo, ele enfrenta problemas de relacionamento com seu pai, vivido por Marcello Antony (“O Dia da Caça”). O elenco também inclui Augusto Madeira (“Bingo: O Rei das Manhãs”), Virginia Cavendish (“Nada Será como Antes”), Nina Tomsic (“A Vida pela Frente”), Luh Maza (“Ó Pai, Ó 2”), Manu Morelli (“Onde Está Meu Coração”), Breno Ferreira (“Amar É para os Fortes”) e o estreante Victor Liam como Ícaro.
Para quem não conhece, a ponte citada no título é a Ponte Estaiada, novo cartão postal de São Paulo, que separa a rica região do Brooklin da favela Real Parque, erguida no caminho de quem segue para o Morumbi. Com sete episódios, a série é criação de Thais Falcão (“Olha Indiscreto”), tem produção executiva do cineasta Vicente Amorim (“A Divisão”) e direção geral de Rodrigo Monte (“Bom Dia, Verônica”).
FILMES
OPPENHEIMER | PRIME VIDEO
O blockbuster de Christopher Nolan (“Tenet”), grande vencedor do Oscar 2024, é uma obra monumental sobre a vida de Julius Robert Oppenheimer, físico conhecido por sua participação na criação da bomba atômica durante a 2ª Guerra Mundial. Desafiando categorização, a produção é ao mesmo tempo um drama, um filme de guerra, um thriller e até mesmo um terror. E abre de forma ambivalente, em 1954 com um interrogatório destinado a desacreditar Oppenheimer, que, apesar de ser chamado de “o pai da bomba atômica”, tornou-se um oponente da arma por medo de uma reação em cadeia que poderia causar a destruição do mundo.
A história é contada a partir do ponto de vista de Oppenheimer, com flashbacks de seus estudos pré-guerra na Europa, seus encontros com grandes mentes da época, as mulheres que amou e a invenção que precipitou a humanidade na era atômica. Apesar de repleto de diálogos, o longa nunca se perde em conceitos científicos complexos. Em vez disso, Nolan apresenta essas sequências como cenas de ação cativantes, com a música de Ludwig Göransson (que também trabalhou em “Tenet” com o diretor) criando uma atmosfera pesada e envolvente.
Mesmo com um impressionante elenco de apoio, que inclui Matt Damon (“Jason Bourne”), Robert Downey Jr. (“Vingadores: Ultimato”) e Emily Blunt (“Um Lugar Silencioso”), o filme é praticamente carregado por Cillian Murphy (“Peaky Blinders”), intérprete do personagem-título, que facilita a transformação da narrativa épica, exaustiva e fascinante de Nolan numa reflexão sobre a origem do mundo moderno.
A GRANDE ENTREVISTA | DISNEY+
A produção britânica é uma dramatização de uma polêmica entrevista do Príncipe Andrew, feita em 2019 para o programa televisivo “Newsnight”. O filme apresenta Gillian Anderson (“Sex Education”) no papel de Emily Maitlis, jornalista que conduziu a entrevista e Rufus Sewell (“O Homem do Castelo Alto”) no papel do irmão do Rei Charles. O programa jornalístico ficou marcado pelo constrangimento de Andrew, ao ser questionado por sua ligação ao escândalo de pedofilia do bilionário Jeffrey Epstein, que se matou na prisão.
A entrevista pretendia esclarecer as relações do príncipe com Epstein, mas acabou por aumentar o escrutínio público sobre suas associações com o criminoso sexual, que tinha uma ilha só para festas sexuais com menores. Críticas ao príncipe destacaram a falta de remorso ou empatia pelas vítimas de Epstein. O drama explora os bastidores desse momento que abalou a monarquia britânica, tornando Andrew radioativo para a família real.
O elenco também inclui Billie Piper (“Doctor Who”) como Sam McAlister, autora do livro que inspirou o filme, além de Keeley Hawes (“Bodyguard”), Romola Garai (“Emma”), Keeley Hawes (“The Durrells”) e Aoife Hinds (“Normal People”). A direção é de Philip Martin, conhecido pela série “The Crown”.
MÚSICA | PRIME VIDEO
O filme escrito, dirigido e estrelado por Rudy Mancuso é um exercício de metaficção sobre um romance que nasce com um toque único: tudo é contado na perspectiva de uma pessoa com sinestesia. A situação serve para justificar uma encenação vanguardista – com direito até a fantoches. Na trama, Rudy interpreta um rapaz que sofre do fenômeno neurológico que mistura os sentidos. Tudo o que ele ouve vira música em sua mente, e ele simplesmente não consegue evitar. Assim, o protagonista precisa lidar com sua condição, enquanto navega pelas pressões do amor, da família e de seu impulso irresistível para criar músicas.
Parte da história é inspirada pela vida de Mancuso, que ficou conhecido como personalidade da internet por seus vídeos de comédia no Vine e YouTube. Ele cresceu numa família brasileira em Nova Jersey, EUA, e fala fluentemente português, além de tocar vários instrumentos, incluindo piano, guitarra e bateria. Depois de vários curtas e clipes, “Música” marca sua estreia como cineasta, e traz outra filha de brasileiros como seu par romântico, Camila Mendes (de “Riverdale”).
O elenco também destaca a própria mãe de Mancuso no papel de sua mãe na ficção, incentivando-o a ficar com a bela brasileira e esquecer as gringas. Tudo poderia ser uma brincadeira caseira de youtuber, não fosse tão bem feito. Mancuso e o co-roteirista Dan Lagana (criador de “Vãndalo Americano”), conseguem combinar as peculiares brazucas com os clichês de comédia romântica de forma refrescante, que torna o espectador cúmplice da jornada do protagonista. Com batuque de samba, funk e bossa nova, além de frases em português, “Música” é o filme mais brasileiro já feito por americanos. E já encantou os críticos gringos, atingindo 94% de aprovação no Rotten Tomatoes.
ATIRARAM NO PIANISTA | VOD*
Filme de abertura do Festival do Rio do ano passado, o documentário animado espanhol explora a vida e o misterioso desaparecimento do pianista brasileiro Francisco Tenório Júnior, que integrava a banda de Vinicius de Moraes e Toquinho e desapareceu em Buenos Aires, em 1976, numa história que combina a leveza da bossa nova com a brutalidade das ditaduras militares. Dirigido por Fernando Trueba e Javier Mariscal (do premiado desenho “Chico e Rita”), o filme traz Jeff Goldblum como a voz do personagem fictício Jeff Harris, um jornalista musical de Nova York. Inicialmente interessado em escrever sobre a bossa nova, Harris se depara com uma gravação de Tenório e se embrenha na investigação do seu desaparecimento.
A narrativa é estruturada como uma busca de Jeff Harris por respostas, percorrendo o trajeto entre Nova York, Rio de Janeiro e Buenos Aires com a ajuda de seu amigo João, dublado por Tony Ramos. Entrevistas com 39 músicos brasileiros, amigos e familiares de Tenório formam o cerne do filme, juntamente com reminiscências sobre a vida e obra do pianista. A animação em estilo vibrante e desenhos feitos à mão de Mariscal enriquecem a narrativa e proporcionam um contraponto visual ao tema sombrio da história. Cenas recriadas de eventos e performances musicais são intercaladas com entrevistas e material documental coletado por Trueba ao longo de cerca de 15 anos.
Além de abrir uma janela para a época tumultuada e para os impactos da Operação Condor, a obra também destaca a contribuição musical do pianista, revivendo uma sessão de gravação de 1964 e mostrando a influência duradoura da bossa nova, numa dualidade entre a beleza artística e a violência dos regimes autoritários de direita.
WISH: O PODER DOS DESEJOS | DISNEY+
Feita para celebrar o centenário da Disney, a animação explora a Estrela dos Desejos dos desenhos clássicos do estúdio, dando uma abordagem moderna a uma história típica e tradicional de “era uma vez” na Disney. Refletindo essa opção, seu visual representa uma tentativa de homenagear as animações desenhadas à mão e o presente digital da Pixar, combinando animação tridimensional e bidimensional. Além disso, o filme é um musical como os desenhos à moda antiga. Só que sua trilha sonora não alcança a inspiração artística dos clássicos – um pouco como a história de Jennifer Lee e Chris Buck, os criadores de “Frozen”. Chris Buck também assina a direção em parceria com Fawn Veerasunthorn, da equipe de “Raya e o Último Dragão”, que estreia na função.
A fábula se passa no reino utópico de Rosas, governado pelo monarca feiticeiro Magnifico (voz original de Chris Pine, de “Mulher-Maravilha”). Neste mundo, Magnifico confisca os desejos mais precisos de seu povo, guardando-os e ocasionalmente concedendo um ou outro. A reviravolta acontece quando a adolescente Asha (com a voz de Ariana DeBose, de “Amor, Sublime Amor”) percebe que privar as pessoas de seus sonhos não é a base para uma sociedade feliz. Ela deseja uma mudança fundamental no reino, o que faz uma estrela cair do céu e desencadear os eventos centrais da trama.
O elenco de dubladores originais também destaca Alan Tudyk (“Resident Alien”) como a voz do bode de estimação de Asha, chamado Valentino – cujo dom de falar é concedido pela estrelinha.
BOB MARLEY – ONE LOVE | VOD*
O filme do ícone do reggae segue à risca a fórmula das cinebiografias musicais recentes, que usa a música para unir os diferentes elementos da história, num compilado de acontecimentos da vida do cantor. A dramatização começa com um ponto de virada na vida de Bob Marley, o atentado contra sua vida em 1976, que serve de pano de fundo para explorar a determinação do artista em promover a paz por meio de sua música. É um roteiro simples, que conclui em torno do concerto “One Love Peace” em 1978, celebração justamente desse objetivo. Portanto, se concentra em dois anos cruciais na vida de Marley, desde o tumulto político na Jamaica até o seu reconhecimento global, e acaba bem antes de sua morte em 1981.
O passeio por tópicos da vida de Marley sofre uma grande perda narrativa quando o cantor se muda para o Reino Unido e o filme negligencia a influência do cenário punk britânico na sua evolução musical. Em vez disso, a narrativa foca em momentos menos impactantes de sua vida, como suas rotinas de exercícios e interações casuais com a banda Wailers, diluindo o potencial dramático de sua trajetória. Destaca-se apenas a relação complexa entre o protagonista e sua esposa Rita, embora o tratamento dado aos seus desafios pessoais e familiares não seja aprofundado.
Kingsley Ben-Adir (“Invasão Secreta”) tem o papel do cantor, enquanto Lashana Lynch (“007 – Sem Tempo para Morrer”) vive Rita Marley. A direção é de Reinaldo Marcus Green, responsável por outra cinebiografia recente, “King Richard – Criando Campeãs”, sobre o pai das tenistas Venus e Serena Williams. Ele também assina o roteiro, ao lado de Zach Baylin (igualmente de “King Richard”), recebendo as bênçãos da família Marley para condensar a wikipedia. Mas apesar da abordagem mais informativa que emocional, o filme foi um sucesso de bilheteria.
MADAME TEIA | VOD*
O mais novo spin-off do universo expandido do “Homem-Aranha”, produzido pela Sony, busca explorar personagens periféricas da Marvel, seguindo os passos de filmes como “Venom” e “Morbius”, inclusive em sua qualidade duvidosa. O longa dirigido por S.J. Clarkson (“Jessica Jones”) e estrelado por Dakota Johnson (“Cinquenta Tons de Cinza”) segue Cassandra Webb, uma paramédica que começa a desenvolver habilidades psíquicas. Graças ao poder de ver o futuro, ela descobre a ameaça de um psicopata assassino, focado em matar um trio de jovens que serão Mulheres-Aranha no futuro.
As jovens protegidas por Cassandra são Julia Carpenter, a segunda Mulher-Aranha dos quadrinhos (e posteriormente segunda Madame Teia), vivida por Sydney Sweeney (“Euphoria”), Mattie Franklin, outra Mulher-Aranha vivida por Celeste O’Connor (“Ghostbusters: Mais Além”), e Anya Corazon, a Garota-Aranha, interpretada por Isabela Merced (“Dora e a Cidade Perdida”).
A história segue um rumo previsível, numa teia que junta a Amazônia com o Tio Ben (ele mesmo, de “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”), vivido por Adam Scott (“Ruptura”).
Ambientado majoritariamente em Nova York no ano de 2003, o filme parece uma produção da época, quando os lançamentos de super-heróis ainda tentavam encontrar o tom e tinham vergonha de se assumir obras do gênero. Assim como no primeiro “X-Men”, que não mostrou heróis uniformizados, as heroínas da história só são vistas com seus trajes em visões do futuro. Não há sequer uma história de origem para as personagens. O roteiro fraquíssimo é de Matt Sazama e Burk Sharpless, que apesar de terem feito o desastroso “Morbius”, foram contratados novamente pela Sony para superar a ruindade do trabalho anterior. A falta de coesão narrativa e diálogos fracos, combinados aos efeitos visuais da Shopee, fazem com que “Madame Teia” seja ainda pior que “Morbius”, sem fazer justiça às suas referências ao Homem-Aranha.
* Os lançamentos em VOD (video on demand) podem ser alugados individualmente em plataformas como Apple TV, Claro TV+, Google Play, Loja Prime, Microsoft Store, Vivo Play e YouTube, entre outras, que funcionam como locadoras digitais sem a necessidade de assinatura mensal.