Abril começa aterrorizante no cinema com o lançamento de “A Primeira Profecia” em 666 salas de cinema. O número da besta representa um circuito simbólico para o longa, que é um prólogo do clássico “A Profecia”, um dos terrores mais emblemáticos dos anos 1970. O clima de pesadelos continua com outro destaque da programação, “O Homem dos Sonhos”, com Nicolas Cage, e o suspense dramático brasileiro “Uma Família Feliz”, com Grazi Massafera. Mas a programação também oferece alternativas mais leves, como o filme de cachorro “Uma Prova de Coragem” ou a comédia nacional “Licença para Enlouquecer” – sem contar os lançamentos limitados. Confira a lista de estreias.
A PRIMEIRA PROFECIA
Prólogo do clássico “A Profecia” (1976), o terror conta a história da mãe do Anticristo e de sua gravidez. A obra original de Richard Donner acompanhava um complô satânico, envolvendo troca de bebês numa maternidade em Roma, para colocar o Anticristo na família de um embaixador americano (interpretado por Gregory Peck), preparando sua ascensão política ao poder nos EUA. O longa foi um sucesso na época, faturando mais de US$ 60 milhões nas bilheterias, e rendeu duas continuações (lançadas em 1978 e 1981), um remake (de 2006) e uma série, “Damien” (2016).
O novo lançamento volta no tempo para mostrar a escolha de Carlita, uma órfã transtornada por problemas mentais, para dar a luz a Damien, o Anticristo. A atriz Nell Tiger Free (“Servant”) interpreta Margaret, uma jovem americana enviada a Roma para começar uma vida de serviço na Igreja. Mas ao chegar para trabalhar num orfanato católico, a noviça se interessa pela situação de Carlita e encontra uma escuridão que a faz questionar sua própria fé, descobrindo uma conspiração terrível na Igreja, que espera provocar o nascimento da encarnação do mal.
O elenco ainda conta com a brasileira Sônia Braga (“Bacurau”), Bill Nighy (“Viver”), Charles Dance (“Game of Thrones”), Ralph Ineson (“A Bruxa”) e a estreante Nicole Sorace como Carlita. A direção é de Arkasha Stevenson, que também assina o roteiro ao lado de Tim Smith, com quem já tinha trabalhado antes nas séries “Channel Zero” (2018) e “Vingança Sabor Cereja” (2021).
O HOMEM DOS SONHOS
A comédia de terror surreal traz Nicolas Cage (“O Peso do Talento”) como um professor comum de meia idade, sem nada especial, que acaba surgindo nos sonhos de milhares de pessoas. Do dia para noite, ele vira uma celebridade. Entretanto, a fama logo mostra seus efeitos negativos, quando os sonhos se transformam em pesadelos.
Escrito e dirigido por Kristoffer Borgli (“Energético”), o filme arrancou muitos elogios da imprensa ao ser exibido no Festival de Toronto, atingindo 91% de aprovação no Rotten Tomatoes. Com isso, tornou-se mais um queridinho da crítica produzido pelo A24, estúdio independente responsável pelo vencedor do Oscar “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” (2022), entre outros títulos marcantes. A produção, por sinal, é de Ari Aster, o diretor de “Midsommar” (2019) e “Hereditário” (2018) – outros lançamentos cultuados da A24.
Além de Cage, o elenco inclui Julianne Nicholson (“Mare of Easttown”), Michael Cera (“Scott Pilgrim contra o Mundo”), Tim Meadows (“Os Goldbergs”), Dylan Gelula (“Unbreakable Kimmy Schmidt”), Dylan Baker (“Homem-Aranha 3”), Kate Berlant (“Uma Equipe Muito Especial”), Lily Bird (“Beau Tem Medo”) e Jessica Clement (“Pure”).
UMA PROVA DE CORAGEM
O drama canino estrelado por Mark Wahlberg é baseado na história real de Mikael Lindnord, um corredor de aventura – isto é, um atleta que participa de competições que envolvem várias modalidades de esportes de aventura, geralmente realizadas em ambientes naturais, como trilhas, praias e montanhas.
No filme, Lindnord/Wahlberg está competindo na República Dominicana quando encontra um cachorro de rua durante a corrida. Ele dá almôndegas ao cachorro, que por isso decide seguir o corredor e sua equipe por várias paisagens e muitos quilômetros. Os desafios que o atleta e o cachorro, que ele chama de Arthur, enfrentam juntos são intensos e variados. Eles percorrem 435 milhas ao longo de dez dias, entre terrenos difíceis e condições desafiadoras. A jornada não é apenas física, mas também emocional, o que leva a uma reviravolta surpreendente na trama, envolvendo uma escolha importante sobre o novo companheiro de quatro patas e a vitória.
O lançamento marca o segundo trabalho consecutivo de Wahlberg com o diretor Simon Cellan Jones, após estrelar a comédia de ação “Plano em Família”, lançado em dezembro na Apple TV+. O elenco ainda destaca Simu Liu (“Barbie”) como um parceiro de corrida do protagonista.
LICENÇA PARA ENLOUQUECER
Um dos diretores mais prolíficos do Brasil, Hsu Chien (“Desapega”) leva às telas uma comédia escrita e estrelada por Mônica Carvalho (“Uma Rosa com Amor”). O filme conta a história de três amigas inseparáveis, Sara (Mônica Carvalho), Lia (Danielle Winits) e Leia (Michele Muniz), que são forçadas a viver confinadas em um pequeno apartamento em São Paulo durante a pandemia. A convivência intensa quase as leva à loucura, mas elas decidem dar um basta e aceitam uma proposta indecente e irrecusável: atravessar o país para “animar” uma festa secreta na paradisíaca praia de Maragogi, em Alagoas. O que se segue é uma típica narrativa de amigas em férias, repleto de reviravoltas, paixões, força da amizade e a inevitável surpresa que transforma seus destinos.
UMA FAMÍLIA FELIZ
Reynaldo Gianecchini volta a trabalhar com o criador de “Bom Dia, Verônica”, Raphael Montes, neste suspense psicológico, que explora uma série de eventos estranhos relacionados a uma família aparentemente normal.
A trama traz Grazi Massafera (“O Outro Lado do Paraíso”) como Eva, mãe de duas filhas gêmeas que, após dar à luz ao seu terceiro filho, sofre com a depressão pós-parto. Quando as crianças aparecem machucadas, Eva é apontada como principal suspeita. Isolada pela comunidade e questionada até mesmo pelo seu próprio marido (Gianecchini), ela se vê acuada e acaba afastada da própria casa. Tento que superar sua fragilidade para provar sua inocência, ela decide instalar câmeras na residência para provar sua teoria de que o culpado é, na verdade, seu marido. O final, que revela o autor da violência, segue a linha de denúncia seca das obras de Michael Haneke.
O roteiro de Raphael Montes vai além do suspense convencional, ao combinar depressão pós-parto, desconfiança, isolamento, linchamento moral, paranoia e sadismo em sua história. A direção é do premiado José Eduardo Belmonte (“Alemão”).
DOMINGO À NOITE
Marieta Severo (“A Grande Família”) interpreta Margot, uma das maiores atrizes do Brasil, casada com Antônio, um escritor premiado que sofre de Alzheimer avançado. A vida de Margot muda completamente quando ela descobre que também tem Alzheimer, e decide correr contra o tempo para terminar um último trabalho, se reconectar com seus filhos e manter a independência para morrer em paz.
Dirigido por André Bushatsky, o drama explora temas como a memória, o envelhecimento, as perdas e a luta pela independência em meio à doença, e ainda traz no elenco Zécarlos Machado (“Sessão de Terapia”) no papel de Antônio.
A MATÉRIA NOTURNA
O filme de Bernard Lessa (“A Mulher e o Rio”) é um romance de proletários, centrado em Jaiane, interpretada por Shirlene Paixão, uma motorista de aplicativo em Vitória, Espírito Santo. Ela atravessa um período difícil, em que dorme numa praça, até conhecer Aissa, um homem de Moçambique que trabalha embarcado, mas passa alguns dias pela cidade. Enquanto Jaiane luta com a solidão e a dureza da vida nas ruas, Aissa traz um sopro de esperança e compreensão para o seu mundo. Ele, um estrangeiro em uma terra desconhecida, encontra em Jaiane uma conexão humana que transcende as barreiras culturais. Aos poucos, os dois solitários se aproximam, dando início a um romance de marginalizados, que pedem passagem pela cor de sua pele, e pela imagem periférica e orgulhosa que carregam.
O papel de Aissa é vivido por Welket Bungué, ator, roteirista e diretor luso-guineense, que já trabalhou no Brasil em títulos como “Corpo Elétrico” (2017), “Joaquim” (2018) e “A Viagem de Pedro” (2021), mas é mais conhecido por projetos internacionais, como protagonista do premiado drama alemão “Berlin Alexanderplatz” (2020) e coadjuvante do terror futurista “Crimes do Futuro” (2022), do canadense David Cronenberg.
MORTE, VIDA E SORTE
O primeiro longa de Alexandre Alencar, com elenco pouco conhecido e baixo orçamento, foi rodado em preto e branco no centro de São Paulo. A simplicidade da produção se adequa a uma narrativa igualmente sucinta, que segue Tati, Bebel e Duda, três atrizes iniciantes que moram juntas na capital paulista e, em meio à crises financeiras, sonham em atuar profissionalmente. Para realizar esse sonho, elas decidem escrever e produzir sua própria peça de teatro. No entanto, apesar de seus melhores esforços, as dívidas acumulam, os fundos para o espetáculo não aparecem e seus planos começam a desmoronar. Com ritmo ágil, boa fotografia e edição polida, o trabalho sugere um começo interessante de carreira para seu jovem cineasta, que parece se inspirar no cinema indie americano – de Hal Harley a Noah Baumbach.
MUSIC
O novo drama da cineasta alemã Angela Schanelec (“Eu Estava em Casa, Mas…”) é uma reinterpretação moderna do mito grego de Édipo. Aliocha Schneider (“Salada Grega”) interpreta Jon, um homem que foi abandonado quando bebê e que vai parar na prisão, após um trágico acidente, por uma acusação de homicídio culposo. Ele se apaixona por Iro (Agathe Bonitze, de “Além do Arco-Íris”), uma guarda prisional, sem saber da conexão fatídica que eles compartilham. Conforme a visão de Jon começa a falhar, Iro tenta lhe confortar. O título é uma referência à importância da música na trama, já que a carcereira grava músicas para o prisioneiro, o que fortalece o vínculo entre eles e desempenha um papel significativo na história.
“Music” teve sua estreia mundial no Festival de Berlim do ano passado, onde Schanelec ganhou o Urso de Prata de Melhor Roteiro.
ATÉ O CAIR DA NOITE
O thriller alemão lançado em 2023 gira em torno de Robert, um investigador disfarçado encarregado de se aproximar de Leni, uma mulher trans que tem conexões com um grande traficante de drogas. O detalhe é que Robert já esteve apaixonado por Leni, antes dela fazer a transição. Isso adiciona complexidade ao relacionamento, pois Robert tem que equilibrar seus sentimentos pessoais por Leni com sua missão profissional de chegar a um criminoso. No entanto, a linha entre realidade e disfarce começa a se confundir, e sentimentos genuínos começam a surgir nesse relacionamento supostamente falso.
O longa teve première no Festival de Berlim do ano passado e sofreu com críticas negativas – tem apenas 25% de aprovação no Rotten Tomatoes. A direção é de Christoph Hochhäusler (“A Cidade Abaixo”) e o elenco destaca Timocin Ziegler (“Windstill”) e Thea Ehre (“O Cafetão”) como Robert e Leni.
MEU AMIGO LORENZO
A história da relação de amizade musical entre o veterano músico/cineasta André Luiz Oliveira e Lorenzo Barreto, um menino com autismo, registrada ao longo de 15 anos.