Paolo Taviani, mestre do cinema italiano, morre aos 92 anos

Diretor era conhecido pela parceria com o irmão Vittorio em clássicos premiados como "Pai Patrão", "A Noite de São Lourenço" e "Kaos"

Divulgação/Berlinale

Paolo Taviani, um dos grandes mestres do cinema italiano, faleceu na quinta (29/2) numa clínica em Roma, aos 92 anos, após uma curta doença. Ele e seu irmão Vittorio formaram uma das mais influentes duplas de diretores do cinema italiano.

Inspiração e primeiros passos

A carreira dos irmãos Taviani, nascidos em San Miniato, na Toscana, começou nos anos 1960, com um forte interesse em temas sociais. Eles foram profundamente inspirados por Roberto Rossellini e Vittorio De Sica, figuras proeminentes do movimento neorrealista italiano. A experiência que marcou o início de sua jornada no cinema foi quando assistiram ao filme “Paisà” (1946) de Roberto Rossellini. O filme revelou verdades sobre eles mesmos que não conheciam, e foi então que decidiram que fariam filmes.

O primeiro longa de ficção da dupla, “Temos Que Queimar um Homem” (1962), foi a história de um sindicalista marxista que lutava contra a máfia siciliana, marcando sua predileção por temas sociais, que foi seguida por mais dois filmes políticos, “Os Subversivos” (1967) e “Um Grito de Revolta” (1972).

Fase de consagração

Sua fama explodiu na década de 1970 com o lançamento de um dos seus trabalhos mais reconhecidos, “Pai Patrão” (1977). Este filme, uma adaptação do romance homônimo autobiográfico de Gavino Ledda, conta a história de um jovem pastor que foge do controle despótico do pai por meio da educação e o despertar da consciência. O filme ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 1977, prêmio que foi entregue aos Taviani pelo ídolo Rossellini, fechando um círculo luminoso.

Os anos 1980 foram um período particularmente frutífero para o cinema dos fratelli. “A Noite de São Lourenço” (1982), sobre uma pequena comunidade italiana que tenta se render aos aliados durante a 2ª Guerra Mundial, ganhou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, enquanto “Kaos” (1984), uma antologia de quatro histórias de Pirandello, venceu o prêmio David di Donatello (o Oscar italiano) de Melhor Filme e Roteiro. Para encerrar a década, eles ainda homenagearam Hollywood com “Bom Dia, Babilônia” (1987), sobre dois irmãos que emigram da Toscana para os Estados Unidos após a falência da empresa do pai no início do século 20. Ao chegar na Califórnia, eles acabam trabalhando na construção dos cenários de um épico filme de David W. Griffith.

Adaptações literárias

Eles adaptaram obras de vários escritores clássicos nos anos seguintes, como “Noites com Sol” (1990), baseado em Tolstói, e “Afinidades Eletivas” (1996), baseado na obra de Goethe, além de terem voltado a Pirandello em “A Gargalhada” (1998).

Mais recentemente, os irmãos Taviani ganharam o Urso de Ouro em Berlim em 2012 com “César Deve Morrer”, que retratava detentos de alta segurança interpretando uma peça de William Shakespeare. Isso foi seguido por “Maravilhoso Boccaccio” (2014), uma adaptação de “O Decameron”, de Boccaccio, e “Uma Questão Pessoal” (2017), o último trabalho da dupla, baseado em uma novela do autor italiano Beppe Fenoglio.

Luto e despedida

Após a perda de seu irmão e colaborador de longa data em 2018, Paolo enfrentou o desafio de continuar seu legado artístico e filmou um único longa individual, “Leonora, Adeus”, que ganhou o Prêmio da Crítica no Festival de Berlim em 2022. A produção também era baseada em Pirandello – e um projeto que os irmãos Taviani pretendiam filmar juntos.

Na ocasião de sua morte, Paolo estava desenvolvendo seu segundo filme solo, “Canto Delle Meduse”, que ele pretendia começar a filmar em abril.