Léa Garcia batiza primeira sala de teatro a homenagear uma atriz negra

Léa Garcia, que faleceu em agosto aos 90 anos, será homenageada com seu nome em uma sala no Novo Teatro Metrô Tatuapé, localizado na Zona Leste de São Paulo. A inauguração, que […]

Instagram/Léa Garcia

Léa Garcia, que faleceu em agosto aos 90 anos, será homenageada com seu nome em uma sala no Novo Teatro Metrô Tatuapé, localizado na Zona Leste de São Paulo. A inauguração, que está marcada para 28 de setembro, marcará a primeira vez que uma atriz negra batiza um teatro no Brasil.

 

Trajetória Singular

Destaque nas artes cênicas brasileiras por mais de cinco décadas, Léa Garcia foi uma força motriz na inclusão racial no teatro nacional. Na década de 1950, foi membro do coletivo Teatro Experimental do Negro, um marco de sua época. A atriz também foi indicada à Palma de Ouro em Cannes pelo seu trabalho no filme “Orfeu Negro”.

 

Memorial e Legado

Parte da vida e carreira de Léa será imortalizada em um memorial no saguão do Novo Teatro Metrô Tatuapé. O espaço será ornamentado com imagens que relembram momentos icônicos de sua trajetória. A decisão de batizar a sala com seu nome veio de Gabriel Veiga Catellani e Wendel Pinheiro, responsáveis pela Construção Teatral, empresa que já administra outros teatros com salas que homenageiam artistas como Irene Ravache, Laura Cardoso e Nicete Bruno.

A artista estreou nos palcos aos 19 anos com a peça “Rapsódia Negra” (1952), de Abdias do Nascimento. Foi o criador do Teatro Experimental do Negro (TEN) que viu o talento da carioca no ponto do bonde, na praia de Botafogo, em 1950. A parceria foi um marco da inclusão no teatro brasileiro.

Ainda nos palcos, Lea atingiu grande destaque no início da carreira com “Orfeu da Conceição” (1956), de Vinicius de Moraes, no papel de Mira. A estreia ocorreu no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com cenários de Oscar Niemeyer. Ela também participou do filme dirigido por Marcel Camus no ano seguinte e recebeu a indicação ao prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes.

Também trabalhou no clássico “Gamba Zumba” (1963), de Cacá Diegues, sobre a fundação do mítico Quilombo dos Palmares, antes de fazer sua primeira novela, “Acorrentados” (1969), na Record. No ano seguinte, estreou na Globo em “Assim na Terra como no Céu”, de Dias Gomes, e seguiu com vários papéis televisivos em “Selva de Pedra” (1972), “Maria, Maria” (1978), “Dona Beija” (1986), além de “Você Decide” e “Xica da Silva”, ambas em 1996. Porém ficou marcada por sua atuação na adaptação de “Escrava Isaura” (1976), onde fez sua primeira vilã e sofreu represálias na rua.

Além destes papéis, Léa teve participação no elenco de “O Clone” (2002), “Êta Mundo Bom!” (2016) e nas séries “Mister Brau” (2017), “Assédio” (2018), “Carcereiros” (2018) e “Arcanjo Renegado” (2020). Nos últimos anos, tinha se voltado novamente ao cinema, chegando a vencer o Kikito de Melhor Atriz no Festival de Gramado por “Filhas do Vento” (2005), de Joel Zito Araújo. Ela ainda teve atuações recentes em “Pacificado” (2019), “Boca de Ouro” (2019), “Um Dia com Jerusa” (2020) e “Barba, Cabelo & Bigode” (2022), lançado pela Netflix. Seu último trabalho é a série “Vizinhos”, que estreou em 25 de agosto no Canal Brasil.

 

Morte

Léa Garcia morreu em 15 de agosto, enquanto aguardava receber um troféu especial pelas realizações da carreira, durante o Festival de Gramado no Rio Grande do Sul.