Jann Wenner, fundador da revista Rolling Stone, virou alvo da ira das redes sociais após se justificar, em entrevista ao jornal The New York Times, porque seu novo livro, “The Masters”, não inclui entrevistas com músicos negros ou mulheres.
O livro publicado pela Little Brown and Company é uma compilação de entrevistas realizadas por Wenner durante seus anos à frente da Rolling Stone. Os entrevistados incluem grandes nomes do rock como Bono, Bob Dylan e Bruce Springsteen. Entretanto, não há nenhum artista negro ou mulher na seleção.
O jornalista David Marchese, do The New York Times, questionou Wenner sobre o critério da lista e Wenner afirmou: “Não foi uma seleção deliberada; foi algo intuitivo ao longo dos anos. No caso das mulheres, simplesmente nenhuma delas foi articulada o suficiente neste nível intelectual”. Ele acrescentou: “Tenha uma conversa profunda com Grace Slick ou Janis Joplin. Por favor, seja meu convidado”.
Sobre artistas negros, ele disse: “Talvez Marvin Gaye ou Curtis Mayfield? Quero dizer, eles simplesmente não se articulavam naquele nível”.
Wenner ainda disse que poderia ter reconsiderado sua seleção “por questões de relações públicas”. “Talvez eu devesse ter ido e encontrado um artista negro e uma artista mulher para incluir aqui que não atendessem ao mesmo padrão histórico, apenas para evitar esse tipo de crítica. Talvez eu seja antiquado e não me importe ou o que quer que seja. Eu queria, em retrospecto, ter entrevistado Marvin Gaye. Talvez ele tivesse sido o cara. Talvez Otis Redding, se estivesse vivo, tivesse sido o cara”.
Ética jornalística em questão
Não bastasse a falta de diversidade e a defesa de homens brancos como os verdadeiros “filósofos do rock”, na mesma entrevista Wenner admitiu que permitiu que seus entrevistados editassem as transcrições de suas conversas, uma prática que fere a ética jornalística.
O ex-editor da Rolling Stone defendeu a prática, dizendo que suas entrevistas “pretendem ser discussões simpáticas” e reveladoras com artistas, não com políticos ou executivos de negócios. “Olha, nada foi substancialmente alterado nas entrevistas originais. Foram pequenas alterações que realmente atingem a precisão, a legibilidade e tudo mais. Em segundo lugar, estas não pretendiam ser entrevistas de confronto. Sempre foram feitas para serem entrevistas cooperativas”, disse Wenner. “De certa forma, são perfis. Se eu tiver que negociar o nível de confiança necessário para conseguir esse tipo de entrevista, para permitir que as pessoas deixem algumas coisas em sigilo, nada de qualquer valor, talvez algo sobre seus filhos ou sua família ou sobre o fato de não quererem rebaixar alguém.”
O livro “The Masters” será lançado no dia 26 de setembro nos EUA.