A atriz Léa Garcia morreu nesta terça-feira (15/8) aos 90 anos, ainda sem causa confirmada. Ela estava no Festival de Gramado para ser homenageada pelo conjunto da obra com o troféu Oscarito. A informação foi confirmada nas redes sociais pelos familiares.
“É com pesar que nós familiares informamos o falecimento agora na cidade de Gramado, no Festival de Cinema de Gramado, da nossa amada Léa Garcia”, escreveram no Instagram da artista.
A despedida repentina pegou todos de surpresa, pois Léa surgiu toda feliz ao lado da atriz Laura Cardoso na noite do último domingo (13/8). A dupla estava em uma sala de cinema em Gramado, no Rio Grande do Sul, quando registraram o momento nas redes sociais.
A atriz ainda aparece com um sorriso no rosto enquanto abraçava o ator Emilio Orciollo Netto: “Quanta felicidade ao lado dessas pessoas maravilhosas”, ela escreveu na legenda.
Trajetória de Léa Garcia
Léa Lucas Garcia de Aguiar nasceu no Rio de Janeiro em 11 de março de 1933. Ela tornou-se atriz num período em que mulheres negras eram raras na profissão.
A artista estreou nos palcos aos 19 anos com a peça “Rapsódia Negra” (1952), de Abdias do Nascimento. Foi o criador do Teatro Experimental do Negro (TEN) que viu o talento da carioca no ponto do bonde, na praia de Botafogo, em 1950. A parceria foi um marco da inclusão no teatro brasileiro.
Léa ainda teve dois filhos com Abdias (Henrique Christovão Garcia do Nascimento e Abdias do Nascimento Filho). Anos mais tarde, teve seu terceiro filho com Armando Aguiar (o Marcelo Garcia de Aguiar).
No teatro, Lea atingiu grande destaque no início da carreira com “Orfeu da Conceição” (1956), de Vinicius de Moraes, no papel de Mira. A estreia ocorreu no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com cenários de Oscar Niemeyer. Ela também participou do filme dirigido por Marcel Camus no ano seguinte e recebeu a indicação ao prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes.
Também trabalhou no clássico “Gamba Zumba” (1963), de Cacá Diegues, sobre a fundação do mítico Quilombo dos Palmares, antes de fazer sua primeira novela, “Acorrentados” (1969), na Record. No ano seguinte, estreou na Globo em “Assim na Terra como no Céu”, de Dias Gomes, e seguiu com vários papéis televisivos em “Selva de Pedra” (1972), “Maria, Maria” (1978), “Dona Beija” (1986), além de “Você Decide” e “Xica da Silva”, ambas em 1996. Porém ficou marcada por sua atuação na adaptação de “Escrava Isaura” (1976), onde fez sua primeira vilã e sofreu represálias na rua.
“Escrava Isaura é o meu cartão de visitas. Tive muitas dificuldades em fazer cenas de maldade com a Lucélia Santos. Eu me lembro de uma cena em que, quando a Rosa (personagem de Léa) acabou de fazer todas as perversidades com a Isaura, eu tive uma crise de choro, me pegou muito forte. Chorei muito, não com pena, mas porque me tocou”, disse ao site Memória Globo.
Além destes, Léa teve participação no elenco de “O Clone” (2002), “Êta Mundo Bom!” (2016) e nas séries “Mister Brau” (2017), “Assédio” (2018), “Carcereiros” (2018) e “Arcanjo Renegado” (2020). Nos últimos anos, tinha se voltado novamente ao cinema, chegando a vencer o Kikito de Melhor Atriz no Festival de Gramado por “Filhas do Vento” (2005), de Joel Zito Araújo. Ela ainda teve atuações recentes em “Pacificado” (2019), “Boca de Ouro” (2019), “Um Dia com Jerusa” (2020) e “Barba, Cabelo & Bigode” (2022), seu último trabalho, lançado pela Netflix.
Recentemente, Léa Garcia recebeu um convite especial para atuar no remake de “Renascer”, a próxima novela das nove da Globo. Ela havia aceitado a escalação.