Leny Andrade morreu na manhã desta segunda-feira (24/7) na zona oeste do Rio de Janeiro. A cantora de 80 anos estava internada no Hospital das Clínicas de Jacarepaguá há dois dias com pneumonia e teve sua morte confirmada pela assessoria do Retiro dos Artistas, onde ela vivia desde 2019.
“A diva do Jazz Brasileiro foi improvisar no palco eterno. Leny faleceu nessa manhã, cercada de muito amor. […] A voz de Leny Andrade é eterna”, escreveu sua equipe no Instagram.
O começo da carreira
Filha de Dona Ruth, Leny Andrade aprendeu seus primeiros passos como pianista clássica aos 6 anos. Tempos depois, ganhou bolsa no Conservatório de Música e, com apenas 9 anos, foi levada pelo pai, o médico Gustavo da Silva, para uma apresentação no “Clube do Guri”, da Rádio Tupi. Na adolescência, passou a cantar em clubes, incluindo as boates do Beco das Garrafas, em Copacabana, onde surgiram a bossa nova e o samba-jazz.
Em 1958, tornou-se crooner da orquestra de Permínio Gonçalves, mas cerca de três anos depois já estava estabelecida na carreira solo com seu primeiro LP, “A Sensação”, quando iniciou sua trajetória como porta-voz da ala do jazz da bossa nova. Afastando-se do estilo da maioria das cantoras do rádio, que privilegiavam voz potente, ela se destacou pelo suingue e o scat (emitir sons em vez de palavras), técnicas que aprimorou como cantora da noite.
Os amores
O estouro veio com “Estamos Aí”, um de seus principais discos, lançado em 1965. Na época, fez uma turnê no México com Peri Ribeiro, e só voltou após seis anos, apaixonando-se pelo país. Neste período, o Brasil viveu seu apogeu no México, com a conquista do tricampeonato de Futebol na Copa do Mundo de 1970. E Leny teve participação especial na comemoração, envolvendo-se com o artilheiro Jairzinho.
Ela teve poucos amores duradouros, como o compositor Claudionor Nascimento, de quem gravou três músicas, e só se casou uma vez, com o escultor espanhol Carmelo Senna, num casamento de apenas dois anos, entre 1980 e 1982. Mas se orgulhava de ter uma vida amorosa animada.
Seus shows eram ainda mais animados, o que a tornou figura cultuada no exterior. Entre os anos 1980 e 1990, época do clássico “Luz Neon”, cativou até Tony Bennett – que costumava desenhá-la enquanto ela cantava – e Liza Minnelli.
O final da carreira
Ao todo, a cantora gravou 34 álbuns na carreira, em parceria com instrumentistas de renome, como Cristóvão Bastos, Romero Lubambo e César Camargo Mariano, com quem ela dividiu um Grammy Latino em 2007.
Em 2018, a cantora celebrou seus 60 anos de carreira com apresentações no projeto “Clube do Choro Convida”, acompanhada pelo violinista Luiz Meira, ocasião em que relembrou suas músicas mais marcantes como “Estamos aí”, “Rio”, “Céu e Mar”, “Influência do Jazz” e “Contigo Aprendi”.
A artista se mudou para o Retiro dos Artistas em janeiro do ano seguinte, pois estava com a saúde fragilizada, sofria perda de memória recente e não tinha filhos. A pandemia agravou seu quadro e ela chegou a pesar 45 quilos.
Em novembro de 2019, ela fez sua última aparição no programa “Conversa com Bial”, rebateu sua fama de rigorosa e ainda levou Pedro Bial às lágrimas ao interpretar “Por Causa de Você”.
Mesmo debilitada, ainda gravou aquela canção em agosto de 2022, acompanhada pelo pianista e parceiro de mais de três décadas Gilson Peranzzetta. “Por Causa de Você”, sua última gravação, foi lançada pela Mills Records em janeiro deste ano, quando ela celebrou seus 80 anos.