A produção de “Angicos”, que trará Wagner Moura (“Narcos”) no papel de Paulo Freire foi confirmada. O longa escrito e dirigido por Felipe Hirsch (“Severina”) contará com produção de Adriana Tavares da Café Royal ao lado de Paula Linhares da Cenya Productions e Marcos Tellechea e Guilherme Somlo da Reagent Media.
O longa-metragem vai contar a história do experimento pedagógico que Freire realizou em 1963, na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, onde alfabetizou cerca de 300 pessoas em apenas 40 horas – uma façanha aparentemente impossível.
Em comunicado, Hirsch também ressaltou “o encantamento entre o povo de Angicos pelos projetores de slides movidos a bateria que Freire usava em suas aulas”, citando que os moradores “associavam as projeções ao cinema – algo raro em sua cidade naquela época, pois as televisões domésticas ainda não haviam chegado”. “Nesse sentido, ‘Angicos’ é também um filme sobre o poder do cinema e o poder do conhecimento”, completou.
Financiado pelo presidente John F. Kennedy para consolidar o Brasil como aliado na Guerra Fria em meio a tensões sociais e econômicas mundiais, o sucesso do empreendimento resultou no planejamento da implementação do sistema educativo de Freire em todo o país. No entanto, em pouco tempo, após o golpe militar de 1964, políticos locais autoritários resistiram à iniciativa educacional de Freire, considerando o currículo “subversivo”, e enviaram o educador para o exílio. O que só reforçou o poder da alfabetização e da educação contra a ditadura.
Freire ficou exilado durante vários anos e só retornou ao Brasil após a redemocratização. Embora suas ideias sobre educação crítica e libertadora sejam amplamente estudadas e aplicadas em todo o mundo, ele ainda é visto como ameaça pela extrema direita brasileira, e seu legado sofreu represálias durante o governo de Jair Bolsonaro. O então ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou publicamente que o educador “não era compatível” com o Brasil. Além disso, houve tentativas de censurar a distribuição de seus livros nas escolas públicas, bem como de retirá-lo do rol de patronos da educação brasileira.
O filme tem tudo para provocar a direita brasileira, mas terá vida melhor que “Marighella”, dirigido por Moura, que enfrentou inúmeras resistências para chegar aos cinemas durante o governo Bolsonaro. Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, Paulo Freire voltou a ser incensado no país.
A seleção do resto do elenco está em andamento para as filmagens, que foram marcadas para novembro deste ano.