Um caso de assédio revelado pela revista Piauí deixou os funcionários da rede Globo totalmente revoltados. Nesta segunda-feira (22/5), diversos comunicadores fizeram um protesto silencioso contra assédio moral e sexual na emissora.
Segundo a reportagem, a engenheira Esmeralda da Silva (nome fictício adotado pela Piauí) teria sofrido violência sexual e moral por quatro colegas que trabalhavam no setor técnico da emissora. Em um dos casos, um dos funcionários (com mais de 20 anos de rede Globo) chegou a calar sua boca com a mão e tentou estuprá-la numa sala da sede de São Paulo.
Além disso, Esmeralda também sofria xenofobia dentro da emissora por ter nascido na Paraíba. A engenheira afirmou ter seu sotaque satirizado pelos funcionários. Por causa do trauma, a funcionária desenvolveu depressão e síndrome do pânico.
O caso polêmico resultou num processo movido pela engenheira na Justiça do Trabalho, que reconheceu os danos morais e decidiu pelo pagamento de uma multa de R$ 2 milhões. A ação ainda impediu a demissão da engenheira que, neste momento, está afastada.
A revista não revelou os nomes dos acusados, mas afirmou que um dos profissionais ainda é funcionário da rede Globo. A não-demissão do profissional foi o estopim para o início do “Movimento Esmeralda”, protesto organizado na última sexta-feira (19/5) através de grupos de WhatsApp.
No total, o protesto recebeu adesão de mais de 300 profissionais, que aceitaram trabalhar de verde, a cor da pedra esmeralda. A maior parte destes são funcionários de São Paulo, mas também há nomes do Rio de Janeiro.
O movimento entrou em vigor nesta segunda-feira (22/5) depois que o protesto majoritariamente feminino se reuniu na sede paulista e entregou um manifesto para os chefões da rede Globo. O grupo ainda tirou fotos de apoio, que se espalharam pela empresa.
Por conta da repercussão, as comunicadoras Ana Paula Araújo (“Bom Dia Brasil”), Patrícia Poeta (“Encontro”) e Ana Maria Braga (“Mais Você”) decidiram participar do ato e foram vistas com roupas verdes. Além delas, o apresentador Felipe Andreoli (“Globo Esporte SP”) também participou do “Mais Você” com trajes na cor verde.
Nos bastidores, Ana Maria Braga e Patrícia Poeta reforçaram seu apoio e ainda se colocaram à disposição para usar sua influência no que for possível. Elas querem aumentar a pressão contra os casos de assédio vividos por funcionárias da emissora.
As lideranças do “Movimento Esmeralda” vão se reunir com os chefes globais nos próximos dias. A reunião deve abordar o atual combate ao assédio no ambiente de trabalhos. Novas práticas serão sugeridas pelos protestantes.
No Instagram, as jornalistas do movimento fizeram uma postagem confirmando o que aconteceu. “Quando uma de nós é assediada e estuprada dentro da empresa, o problema é de todos. A história de Esmeralda foi publicada pela revista Piauí na última sexta-feira (19/05), nos provocando indignação e revolta. Precisamos sim ser ouvidas para que abusos assim não se repitam! Hoje usamos verde em apoio à Esmeralda e a todas as mulheres pelo nosso direito a um ambiente seguro de trabalho”, diz o comunicado compartilhado por diversos perfis.
A Globo afirmou que está ciente do protesto e deu apoio à livre manifestação de seus funcionários. “A livre manifestação dos profissionais da empresa está em total alinhamento com a nossa gestão de transparência e diálogo permanente. De qualquer forma, a Globo reitera que não comenta casos de Compliance e aproveita para reiterar também que a empresa mantém um Código de Ética em linha com as melhores práticas atualmente adotadas, que proíbe terminantemente o assédio e deve ser cumprido por todos os colaboradores, em todas as áreas da empresa”, afirmou em nota.
A emissora acrescentou que vai analisar os casos criteriosamente, desde que registrados nas centrais. “Da mesma maneira, a Globo mantém uma Ouvidoria pronta para receber quaisquer relatos de violação de seu Código de Ética, que são apurados criteriosamente, com a punição dos responsáveis por desvios. Nesse mesmo Código, assumimos o compromisso de sigilo em relação a todos os relatos de Compliance, razão pela qual não fazemos comentários sobre as apurações. Nosso sistema de Compliance também prevê o apoio integral aos relatantes, proibindo qualquer forma de retaliação em razão das denúncias”, concluiu.
Foi revoltante descobrir por meio de uma reportagem que uma colega teve a vida arrasada por múltiplos assédios sexuais e morais, inclusive estupro, em seu local de trabalho (que também é o nosso). Hoje viemos vestidas de verde em apoio à "Esmeralda". pic.twitter.com/OaUnmGVbtf
— Carolina Moreno (@anarina) May 22, 2023
Profissionais da Globo SP participaram hoje do "Movimento Esmeralda" e usaram verde para protestar contra mais um caso de assédio registrado na emissora e revelado pela Revista Piauí na sexta passada. A Globo diz estar ciente do protesto e que mantém uma ouvidoria para acusações. pic.twitter.com/Y6nZalKNKW
— fabiossance 🪩 (@souufabio) May 22, 2023
Quando uma de nós é assediada e estuprada dentro da empresa, o problema é de todos. A história de Esmeralda* foi publicada pela @revistapiaui na última sexta (19), provocando indignação e revolta. Precisamos, sim, ser ouvidas para que abusos assim não se repitam (+) pic.twitter.com/4RlNKeR4jn
— Paula Lago (@paulalake) May 22, 2023