A final do “BBB 23”, exibida na noite de terça (25/4) na Globo, deixou muitas coisas claras para os telespectadores. A falta de respeito com a trajetória histórica das finalistas foi a principal ofensa. Mas minimizar o feito das Desérticas, levadas até o fim em várias e consecutivas votações abertas sem perder para ninguém, também evidenciou que os produtores não fizeram o programa para o público. Fizeram para si mesmos e exaltaram apenas suas preferências pessoais.
Foi vexatório para o time de Boninho encerrar o programa do jeito que escolheu para marcar seu “protesto”, transformando a consagração num ataque às finalistas, sem uma VT de exaltação, nem menção de sororidade ou do feito das Desérticas, que, pela primeira vez na História do “BBB” levaram quatro mulheres – e amigas – ao topo da edição. Esta façanha foi exaltada pelas redes sociais do “Big Brother” gringo. Mas o “BBB 23”, em vez disso, preferiu tratá-las com desdém e piadinhas maliciosas de seus humoristas oficiais.
A Globo costuma alardear o “BBB” como marketing para vender assinaturas da Globoplay. A empresa sabe que é o momento do ano em que mais pessoas assinam seu pacote de streaming. E isso parece ironia, porque, ao mesmo tempo, os responsáveis pelo programa agiram como se o público não estivesse fazendo justamente isso: acompanhando a casa mais vigiada do Brasil ao vivo, 24 horas por dia. E porque o público viu, seguiu trajetórias, encontrou favoritas e torceu até a final, o resultado foi uma vitória acachapante das Desérticas e especialmente de Amanda Meirelles.
Por isso, a impressão que fica é que produtores, roteiristas e editores de Boninho acompanharam o “BBB” pelo Twitter das páginas de fofoca e não pelos monitores. Não assinaram a Globoplay ou, então, agiram mesmo de má fé, como assumiram na final vergonhosa, para realizar uma edição totalmente manipulada.
Embora o “BBB 23” tenha sido realmente um parque temático do debate racial no Brasil, ele não foi só isso, como quis forçar o time de Boninho. Num “BBB” com relacionamento tóxico e expulsões por importunação sexual, era mais que importante, um dever dos produtores exaltar a sororidade e a força feminina demonstrada pelas Desérticas, que golearam de 7×1 para eliminar todos os rivais sem perder um único paredão que enfrentaram durante o último mês inteiro. Feito histórico que não mereceu uma mençãozinha sequer na retrospectiva do capítulo final.
Quem também não assinou a Globoplay foram os ditos especialistas: as páginas de fofoca e os colunistas de TV. Eles viram o compacto que a Globo exibiu às noites e foram atrás das pautas oficiais. Mesmo assim, lançaram alguns recortes no Twitter, que os funcionários de Boninho retroalimentaram na edição, criando uma sinergia notável no esforço de criar um discurso unificado sobre o programa. Basta ver os tuites escolhidos pelos produtores para colocar no ar: todos de apoio ao Fundo do Mar e com críticas às Desérticas.
A certa altura da edição, ficou difícil determinar quem influenciava quem: a Globo ou os fofoqueiros profissionais, ambos criando narrativas de ódio contra as Desérticas, que o público elegeu como favoritas desde a volta de Larissa Santos em 23 de março, enquanto os donos das mídias escondiam tudo o que acontecia de errado no Fundo do Mar.
Conseguiram muita torcida para o Fundo do Mar com pautas politicamente corretas, alimentadas por elogios exagerados a certos jogadores. Enquanto algumas pessoas ganharam VT de campeã, outras mal e porcamente apareceram em VT coletivo, e ainda sob críticas das páginas malditas. Só que os ex-BBBs perfeitinhos agora vão enfrentar o escrutínio do público na vida real, enquanto as imperfeitas, cheias de erros enumerados e decantados, não tem como ser vistas de forma diferente em nenhum lado da verdade. Suas torcidas sabem quem são e o que podem esperar delas, e por isso mesmo as levaram até o fim.
Se as Desérticas venceram, houve derrotados. E a pergunta que não pode calar é como os produtores, que tentaram de tudo e tiveram apoio de tantos influenciadores, perderam o controle da narrativa do “BBB 23”.
Talvez a resposta esteja justamente nesta tentativa de controlar o que ia ao ar. Será que não exageraram na dose ao assumir descaradamente a manipulação, escondendo cenas-chaves?
Dá para citar três momentos de manipulação só do Jogo da Discórdia, como o fato de a Globo não exibir nem recuperar uma discussão importante que aconteceu num intervalo, nem mostrar nenhuma cena daquela Discórdia na terça seguinte, como praxe (foi a única Discórdia escondida em toda a edição), além de chamar o último Jogo em comerciais e, em vez disso, exibir no lugar um VT de exaltação a uma jogadora que estava no paredão. Há outros exemplos, mas estes servem para demonstrar o tipo de edição levada adiante pela equipe de Boninho – de dar inveja na equipe de Rodrigo Carelli.
Nenhuma página de fofoca apontou isso. Nenhum “especialista” da imprensa protestou. Irmanados contra as sisters, aceitaram todos os abusos dos produtores e ajudaram a atacar e perseguir as Desérticas. O baixo nível foi o tom adotado na cobertura da reta final. Há poucos dias, uma dessas páginas chegou a decretar que Amanda teria o pior pós-“BBB” de todos os tempos. Outra chamou a campeã de “porca, padrão, sem dicção e planta”, atacou sua torcida e a rotulou como “perdeã do ‘BBB 23′”.
Todo esse ódio é culpa da edição da Globo. Mais especificamente, dos produtores do “BBB 23”. Que quiseram militar em nome de boas causas fazendo maldades.
Ficaram muito focados na música do Paulo Ricardo, querendo determinar o bem e o mal. Mas quem escolhe, na verdade, é o público, que este ano deve ter batido recorde de assinaturas da Globoplay, pois rejeitou a manipulação e bloqueou as páginas de fofoca a rodo. Os donos das mídias achavam que tinham muita força, mas foram derrotadas pela mulher padrão e suas fãs, muitas delas também mulheres padrão que ficaram revoltadas com o tratamento que Amanda e as siters receberam da produção e de seus ecos especializados.
Os contrários perderam o “BBB 23” por exagerarem contra as Desérticas.
Historicamente, o público sempre apoia os perseguidos. Juliette no “BBB 21” e Arthur no “BBB 22” foram campeões com essa narrativa. Mas, neste ano, a perseguição também incluiu fatores externos.
Amanda e as Desérticas foram as mais perseguidas pelos fofoqueiros e pela própria edição. E com a volta de Larissa, elas levaram esse confronto para a quadra adversária, mostrando-se especialistas no jogo externo. Deram aula de como se joga um BBB. E nem a Globo parece ter se dado conta do 7×1 que tomou na formação do Top 3. Porque desde a volta de Larissa foram 7 eliminados do Fundo do Mar (contando Alface) e apenas uma Desértica no Top 4 – a própria Larissa, e quando estavam apenas entre elas mesmas.
Até na final, os textos, os vídeos, as piadas, todo esforço do time de Boninho foi realmente no sentido de desmerecer a conquista Desértica.
As finalistas foram chamadas de plantas, sonsas, padrão, histéricas, que só fazem TikTok. E o resultado de toda essa soberba foi um simbólico 7×1.